No debate no plenário da Assembleia da República sobre a alteração da lei que regula o funcionamento do Conselho das Comunidades Portuguesas (CCP), coube a André Ventura apresentar o projeto de lei do Chega sobre esta matéria, com este deputado a dizer que Portugal tem falhado com os que saíram em busca de uma vida melhor.
"Para os imigrantes que para cá vêm damos tudo, temos tudo e damos tudo. Damos apoios, damos subsídios, queremos que votem, que se regularizem, entrem de qualquer maneira e usem os nossos bens públicos. Para os nossos, que tiveram que emigrar para ter uma vida melhor, não damos nada, não damos apoios e fechamos a porta a tudo o que é da política nacional", afirmou.
O líder do Chega defendeu o fim desta "esquizofrenia política", propondo que, se Portugal quer ser um país "assim tão humanista", que comece a sê-lo pelos portugueses que "um dia tiveram de partir".
Em resposta, o deputado socialista Pedro Delgado Alves classificou de "interessante" que, num debate sobre o Conselho das Comunidades Portuguesas (CCP), o líder do Chega se esqueça das suas declarações, em 2020, quando analisava a saída da presidente do Conselho Regional para a Europa do CCP, Luísa Semedo, "sobre o que representam os conselhos representativos das comunidades portuguesas".
"Disse nessa altura que se demitia e demitia-se muito bem porque ajuda a poupar o dinheiro dos portugueses nesses tachos que não servem para nada. Eis o respeito que o Chega tem pelo CCP, pelos emigrantes, os seus representantes e por aqueles que procuram assegurar a sua representação no exterior", afirmou.
E acrescentou: "Ouvir o que aqui ouvimos sobre como nós devemos, aqui na República portuguesa, acolher os nossos imigrantes é o que os nossos emigrantes tinham que ouvir a Frente Nacional [partido francês de extrema-direita] dizer quando, nos anos 70 e 80 [do século XX], eram eles os anatemizados e eram eles que eram objeto de vontade que não participassem eleitoralmente e não se desenvolvesse o seu papel".
"Hoje, felizmente, para grande orgulho da República Portuguesa e grande orgulho da República Francesa, temos uma rede de lusodescendentes que são autarcas, que são deputados na Assembleia Nacional e na Assembleia da República e, graças à construção destes regimes de representação, felizmente se emanciparam politicamente", prosseguiu.
Ventura respondeu, indicando que Luísa Semedo se demitiu "porque não se queria encontrar" com o líder do Chega e "preferiu ir-se embora".
"Fez muito bem e que não volte", disse.
O deputado do Chega afirmou ainda que a emigração portuguesa, "de homens e mulheres de trabalho", que saíram de Portugal "à procura de uma vida maior", não é comparável à vaga de imigrantes que têm chegado à Europa e que a comparação é "um insulto para todas as famílias e todos os que tiveram de emigrar".
Pedro Delgado Alves retorquiu: "Se há alguém que o deputado não engana é os portugueses que emigraram para França, que olham para eles [os imigrantes em Portugal] como iguais, porque neles mesmo veem as suas histórias".
Antes do debate de hoje foram apresentados cinco projetos de lei (PS, PSD, PCP, PAN e Chega) para a reorganização do CCP, a qual é reivindicada há vários anos por este órgão consultivo do Governo para as questões das comunidades portuguesas.
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