"A todos os invisíveis, que trabalham de sol a sol, queremos dizer a uma só voz: agora. Agora que estamos juntas, agora que sim nos ouvem, agora que sim nos veem, vamos acabar com a exploração, vamos mudar de vida com um voto no BE", apelou Mariana Mortágua, numa festa-comício organizada hoje pelo partido na Associação de Moradores da Bouça, no distrito do Porto.
Ao sétimo dia de campanha para as legislativas, Mortágua apelou diretamente ao voto de quem trabalha, salientando que o trabalho "define-nos todos os dias", contudo, "não é tema de campanha".
A líder bloquista argumentou que "de cada local de trabalho vemos o mundo" de uma forma distinta e é "diferente ver a política a partir de um local de privilégio, fortuna, de herança, ou ver o país a partir do trabalho".
"A direita não sabe o que é o trabalho difícil, o que é o trabalho que acorda cedo, o trabalho que se esforça para chegar ao fim do mês, porque não vê o trabalho, não vê trabalhadores, não sabe o que é o trabalho", acusou.
Mortágua voltou a criticar uma proposta da Iniciativa Liberal que visa reduzir o número de funcionários administrativos, argumentando que "o problema" é que esse partido "não faz ideia do que faz um trabalhador do Estado, porque não vê o trabalho".
"Nós vemos a dona Isabel, que é funcionária administrativa de uma escola e que trabalhou todos os fins de semana para garantir que os professores que foram recolocados - porque nós conseguimos devolver o tempo de serviço aos professores -, tinham salário certo, no escalão certo, no momento certo. É isto que ela faz, doutor Rui Rocha, é processar os salários e garantir que a escola funciona e que os alunos podem ir à escola", atirou.
Numa intervenção de cerca de 15 minutos, Mortágua tentou demonstrar a centralidade do trabalho no dia-a-dia de todos os cidadãos.
"Há duas perguntas que normalmente fazemos quando conhecemos alguém. A primeira é 'como te chamas?' É normal. E a segunda, quando as pessoas têm idade suficiente para isso, é 'o que é que fazes'?", pergunta que por norma é respondida com uma determinada profissão.
A coordenadora nacional do BE deixou ainda críticas às alterações à legislação laboral feitas nos últimos trinta anos que, na sua ótica, criaram uma autêntica "selva" legal.
"Foram leis que fizeram. Foram deputados que votaram estas leis. O mercado existe e a selvajaria existe porque alguém votou para ter essas leis. Não há um espaço de não lei. Há a lei que protege e a lei que desprotege. Há a lei que protege e a lei que oprime. Há a lei que protege e a lei que permite explorar", frisou.
Tentando contrariar o discurso contra os imigrantes, Mariana Mortágua apelou à união de todos os trabalhadores, porque "um trabalhador tem mais em comum com outro trabalhador imigrante do que com um milionário que herdou toda a sua fortuna".
"No dia do voto valemos todos, todas valemos o mesmo. E é por isto que apelamos a quem tem uma vida difícil, a quem é invisibilizado, esquecido, a quem acorda de manhã cedo para ir trabalhar, a quem faz trabalho por turnos, a quem faz trabalho noturno, a quem leva o país para a frente, que vote em quem os represente no parlamento, que vote em quem os vê, em quem vê o trabalho, em quem sabe que o trabalho é o que nos une", apelou.
O BE inaugurou hoje um novo tipo de ação de campanha, uma espécie de comício em formato de festa cultural, que vai repetir em Lisboa, no domingo.
Na associação de moradores da Bouça, no Porto, foram montadas várias bancas com comida, arte e jogos tradicionais.
Em dia de dérbi que pode decidir o vencedor do campeonato nacional de futebol, entre Benfica e Sporting, não faltou uma televisão para ver o jogo, no café ao lado daquele espaço, onde Mariana Mortágua se juntou.
[Notícia atualizada às 18h49]
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