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"Habituados" a "levar porrada", comunistas afastam polémica e querem paz

Militantes e apoiantes comunistas afastaram hoje a polémica em torno da posição do PCP sobre o conflito na Ucrânia, com apelos à paz e fortes críticas aos EUA, dizendo-se "habituados" a "levar porrada" há mais de cem anos.

 "Habituados" a "levar porrada", comunistas afastam polémica e querem paz
Notícias ao Minuto

21:40 - 02/09/22 por Lusa

Política Avante!

Poucos minutos depois da abertura de portas da Quinta da Atalaia, no Seixal, distrito de Setúbal, pelas 18:00, já Mário Cardoso, 57 anos, passeava pela festa acompanhado pela família, apetrechado de muitos 'pins' na sua boina e com duas tatuagens nos gémeos: uma do revolucionário marxista Che Guevara, outra com o símbolo do PCP marcado a vermelho.

Questionado sobre as críticas que têm sido dirigidas ao partido quanto à sua posição sobre o conflito na Ucrânia, Mário Cardoso respondeu sem hesitar: "É mais uma, já estamos habituados a isso, venham eles, a gente aguenta".

Os apelos à paz foram ponto comum entre todos os participantes entrevistados, dos mais novos aos mais velhos, com José Brites, de 73 anos, alentejano e orgulhoso militante, a classificar o conflito como "uma guerra entre capitalistas".

"A guerra é capitalista, os russos são capitalistas, os americanos são capitalistas e a Europa é capitalista, é uma guerra entre capitalistas, em que o povo da Ucrânia está a levar com os capitalistas todos em cima. A guerra só vai parar quando os nossos amigos americanos se sentarem à mesa e disserem que não há mais guerra amanhã", argumentou.

Para o militante, neste conflito "não há bons nem maus" e o importante é apoiar as pessoas e não contribuir para o armamento dos países envolvidos.

Interrogado sobre se receia que a polémica gerada desde o início do conflito prejudique o partido a nível eleitoral, José Brites riu-se e disse em tom bem-humorado: "Já andamos cá há 101 anos, levámos tanta porrada no tempo do Salazar que já estamos habituados".

Perto do local mais central do evento, o palco 25 de Abril -- onde Jerónimo de Sousa irá discursar no último dia da 'rentrée' comunista - estão centenas de cadeiras separadas onde os participantes se podem sentar para assistir aos vários espetáculos e discursos. Este é um dos poucos 'hábitos' que ficou das restrições impostas pela pandemia da covid-19 nos últimos dois anos.

É numa dessas cadeiras que estava sentado Tomás Costa, 18 anos, de Coimbra, estudante de Filosofia e um estreante no certame político-cultural comunista. O jovem confessou que a polémica em torno da posição do PCP sobre o conflito na Ucrânia o levou a "reconsiderar várias vezes a militância" mas acabou por ficar e hoje concorda em absoluto com este posicionamento.

"E a posição do PCP, muito ao contrário do que se difunde, não é uma posição de pró guerra, é uma posição contra a guerra, pró paz mas também contra o 'putinismo' e contra qualquer tipo de militarização", defendeu.

Já quanto a possíveis impactos eleitorais, o jovem reconheceu que o partido tem "sofrido um pouco" mas considerou que este pode ser "um preço a pagar pela coerência com os factos e as evidências".

Também Adriana Carlos, 15 anos, que vem à festa "desde sempre" deixou apelos à paz e apontou "culpas dos dois lados".

"Sei que há muita gente que está a crucificar o partido por causa disso mas não deviam estar a crucificar porque a Ucrânia também tem alguma culpa e os EUA têm ainda mais culpa porque foram eles que ao fim ao cabo andaram a incitar a Rússia com a NATO", sustentou.

A opinião é partilhada não apenas entre apoiantes do partido comunista em Portugal mas também por paragens ibéricas.

Iria Aboi Ferradas, que vai celebrar o seu 40º aniversário este sábado no ambiente da festa, vem da Galiza para a Quinta da Atalaia em setembro "há mais de 20 anos" e defende que "com a violência, com as armas, com a guerra, não se pode construir a paz e aí a diplomacia é a primeira que tem que atuar".

"Acho que todos os partidos democráticos, todos os partidos progressistas, estão do lado da população da Ucrânia porque é a que está a sofrer esta guerra (...). O papel dos EUA é o de sempre: é uma intervenção descarada dos EUA e da NATO e eu acho que já é a hora da NATO chegar ao seu fim", afirmou.

A 46.ª edição da "Festa do Avante!" arrancou hoje e termina no domingo (04) com o tradicional comício de encerramento e a intervenção do secretário-geral, Jerónimo de Sousa.

Leia Também: Jerónimo de Sousa reitera: Avante! é um evento de "paz e tranquilidade"

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