O secretário regional do Turismo, Ambiente e Cultura da Madeira, Eduardo Jesus, está a ser alvo de críticas após ter ofendido duas deputadas socialistas durante o debate do Orçamento Regional para 2025. As ofensas, que ficaram gravadas na transmissão em direto do debate, já levaram o Partido Socialista (PS) a apresentar um "protesto formal contra ofensas e comportamento indigno" do governante.
Durante o debate, na terça-feira, Eduardo Jesus usou as expressões "burra do cara***" e "esta gaja" para se referir, respetivamente, às deputadas Sancha Campanella e Sílvia Silva.
Face ao ocorrido, o Grupo Parlamentar do Partido Socialista entregou, na quinta-feira, "um protesto formal pela linguagem ofensiva e comportamento indigno do secretário regional do Turismo, Ambiente e Cultura para com as deputadas socialistas Sílvia Silva e Sancha de Campanella e outros deputados da oposição" na Assembleia Legislativa da Madeira.
Citado na nota, o líder parlamentar do PS, Paulo Cafôfo, frisou que a deputada Sancha de Campanella foi "alvo de insultos diretos e inaceitáveis" numa "linguagem grosseira, sexista e absolutamente inaceitável no seio do órgão máximo representativo da Autonomia regional".
Também a deputada Sílvia Silva foi alvo de "tratamento desrespeitoso", com uma expressão que "encerra um claro teor de menorização e desconsideração de género, impróprio de qualquer espaço institucional e, mais ainda, do hemiciclo parlamentar".
"Não estamos perante casos isolados, já que estes insultos se somam a outros episódios de linguagem imprópria, agressiva e provocatória dirigida a outros deputados da oposição, ocorridos durante a mesma sessão", denunciou o PS.
Segundo a RTP, Eduardo Jesus apelidou também o deputado Rafael Nunes, do JPP, de "bardamerdas" e "palhaço-mor".
No requerimento dirigido a Rubina Leal, presidente da Assembleia Legislativa da Madeira, Paulo Cafôfo defendeu que o organismo não pode ficar indiferente, "sob pena de se tornar cúmplice por omissão, normalizar o insulto, o abuso de linguagem e o ataque pessoal no debate político".
Eduardo Jesus defende-se: "Termos que utilizei estão no dicionário"
Confrontado pelo Diário de Notícias da Madeira, Eduardo Jesus defendeu que os termos que utilizou "estão no dicionário de língua portuguesa" e são "adjetivos" utilizados "com muita regularidade".
"Os termos que eu utilizei – foi mais do que um – estão no dicionário de língua portuguesa e, como se pode ver, são adjetivos que nós, com muita regularidade, utilizamos e que o léxico popular utiliza frequentemente. Qualquer cidadão refere aqueles termos com a velocidade que anda no seu dia-a-dia", disse.
Já à RTP, o governante defendeu que, apesar da polémica, não se irá demitir. Frisou ainda que "o que é importante é focar-nos naquilo que é essencial para a Madeira" e lamentou que se tenha "isolado uma parte do debate do seu todo".
Partidos lamentam "pouca vergonha" e "misoginia banalizada"
No dia seguinte às ofensas, Élvio Sousa, presidente do JPP, lamentou a "pouca vergonha" e frisou que o secretário regional "já devia estar demitido do cargo", na sequência da "linguagem execrável".
Já Isabel Moreira, do Partido Socialista (PS), denunciou "mais uma normalização em curso". "A misoginia banalizada a este nível da governação regional. Aguardamos reações adequadas", escreveu na rede social X.
Mais normalização em curso. A misoginia banalizada a este nível da governação regional. Aguardamos reações adequadas. https://t.co/4eSECjPaMT
— Isabel Moreira (@IsabelLMMoreira) June 19, 2025
O Livre Madeira repudiou "com total veemência as declarações" do governante e exigiu "um pedido de desculpas formal e público".
"O combate ao machismo e à discriminação de género não pode ser feito só com palavras — é nas ações e nas reações a episódios como este que se mede o compromisso das instituições com a igualdade", frisou o partido, citado pelo Diário de Notícias da Madeira.
Em resposta às críticas, Jaime Filipe Ramos, do PSD, saiu em defesa do secretário social-democrata e disse que "ter à partes apontados só a uma pessoa é injusto".
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