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Pró-Kremlin? "Não se compreende como é que o SIS não atuou"

Tanto Paulo Rangel como Ana Gomes apontaram o dedo ao Governo português, acusando o executivo de não ter agido perante os avisos do Parlamento Europeu quanto à infiltração de propaganda russa em associações que, agora, acolhem refugiados ucranianos.

Pró-Kremlin? "Não se compreende como é que o SIS não atuou"
Notícias ao Minuto

15:26 - 06/05/22 por Daniela Filipe

Política Ucrânia/Rússia

Considerando que a polémica que paira sobre a Câmara Municipal de Setúbal quanto ao acolhimento de refugiados ucranianos por uma instituição alegadamente pró-Rússia se tratou de um caso de “negligência” flagrante, Paulo Rangel acusou o Governo português de cumplicidade, uma vez que deveria de ter informado autarquias e serviços migratórios sobre a propaganda russa da Fundação Russkiy Mir, criada pelo presidente russo, Vladimir Putin, e que tem ligações com diversas associações que, neste momento, estão a acolher refugiados.

Tanto o social-democrata, como Ana Gomes, antiga candidata presidencial, recordaram a resolução de 2016 do Parlamento Europeu (PE), que alertava precisamente para a natureza propagandista da entidade, avança a CNN Portugal.

Paulo Rangel começou por referir a existência de “notícias um pouco contraditórias”, uma vez que o semanário Expresso divulgou, esta sexta-feira, que o líder da comunidade russa em Setúbal, Igor Khashin, - que participou no acolhimento de refugiados ucranianos com a mulher -, já é monitorizado pelo Serviço de Informações e Segurança (SIS) desde 2014, mesmo antes de a resolução do PE ter sido aprovada, em 2016.

Nesse sentido, o eurodeputado apontou que, a partir desse ano, o SIS tinha “de estar muito atento”, pois “os serviços de informação acompanham tudo o que tem a ver com as matérias de desinformação – vimos isso na interferência das eleições americanas, no referendo do Brexit, no referendo catalão, em que houve sempre hackers a partir da grande Moscovo”, exemplificou.

“A partir de janeiro deste ano, quando começa a ser altamente plausível e provável uma invasão russa da Ucrânia, - apesar de muita gente não acreditar nela -, os serviços de informação, que tinham acesso [à] natureza desta Fundação Russkiy Mir”, deveriam de ter fornecido dados às autarquias e aos serviços migratórios de que “não podiam trabalhar com estas entidades na receção de refugiados ucranianos”, apontou, acusando o Governo português de “negligência”.

O social-democrata vai mais longe, dizendo ser “inaceitável que não se tenha atuado” em fevereiro, no brotar do conflito na Ucrânia.

“Um país como Portugal, que alinha nas sanções draconianas ao governo russo, não pode depois no espaço português fazer de conta que não há interferência [do Kremlin]”, referiu o eurodeputado, explicando que, “a partir do momento em que começam a chegar os refugiados, [numa] situação extremamente vulnerável”, os serviços de informação “têm de estar em alerta total”.

“Se houve alguma insistência para lhes retirar informação, a verdade é que as pessoas vão acabar por ceder”, considerou, reiterando que “não se compreende como é que [os serviços de informação] não atuaram no sentido de afastar estas entidades de qualquer contacto com os ucranianos que chegam”.

Ana Gomes, por sua vez, apontou o dedo diretamente ao Governo, acreditando que o Sistema de Informações da República Portuguesa (SIRP) tinha informações sobre a Fundação Russkiy Mir.

"No SIRP sabem, não são desatentos. Acredito que tenham informado quem é competente. Já as autoridades atuarem, é outra história", disse, considerando que “não há justificação para as autoridades não perceberem daquilo que se trata”.

Na verdade, um documento entregue aos eurodeputados no início da invasão detalhou que a Russkyi Mir pretendia atribuir à Rússia “um papel quase messiânico de salvação da civilização cristã do Ocidente decadente, através da disseminação da língua, cultura e valores russos, voltando a dominar países anteriormente dentro da União Soviética e exercendo influência em todo o mundo ortodoxo e ocidental mais amplo”.

Na ótica de Paulo Rangel é, por isso, necessário “garantir que no país inteiro não há nenhuma presença do governo russo no acolhimento dos refugiados e na coleção dos dados indispensáveis”, lançando tratar-se de uma “questão de bom senso”.

Além disso, é também importante “olhar para tudo que [a Russkiy Mir tem feito] e imediatamente fazer cessar as suas atividades, se nelas houver o mínimo indício de que estão a alinhar nestas manobras de propaganda e de desinformação”, complementou.

“Quer o primeiro-ministro, quer o ministro da Administração Interna, têm de dar explicações sobre este caso, não é passar informações para os jornais”, rematou.

Depois de ter noticiado o caso há uma semana, o Expresso voltou a reproduzir declarações de alguns refugiados acolhidos em Setúbal, que confirmam a presença de Igor Khashin no local "com computador pessoal e a perguntar dados das pessoas", acrescentando que chegou a fotocopiar documentos.

O Governo ordenou, entretanto, uma investigação ao município de Setúbal pela Comissão Nacional de Proteção de Dados (CNPD) e uma sindicância a realizar pela Inspeção-Geral de Finanças, face às denúncias de alegadas irregularidades no acolhimento de refugiados ucranianos.

Leia Também: SIS monitoriza há anos cidadão russo que recebeu refugiados em Setúbal

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