Zero diz que consumidores de luz pagam incineração de Lisboa e Porto
Os ambientalistas da Zero afirmam que todos os consumidores de eletricidade pagam os subsídios recebidos pelas unidades de incineração de resíduos de Lisboa e Porto, como se produzissem energia renovável, mas a queima de lixo resulta em emissões.
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País Resíduos
Segundo as contas da Associação Sistema Terrestre Sustentável, Zero, as unidades de incineração de Lisboa e Porto - a Valorsul e a Lipor - "têm estado a receber 28 milhões de euros por ano a partir dos consumidores de eletricidade", um dinheiro extra que recebem para além da energia que produzem, sendo "uma benesse que os governos têm dado a estas unidades para queimarem resíduos".
"Grande parte desse dinheiro vem de consumidores que estão fora dos sistemas de Lisboa e Porto", afirmou à agência Lusa Rui Berkemeier, da Zero, acrescentando que "há um fluxo de 20 milhões de euros que vem dos consumidores de eletricidade do interior e de zonas que não são Lisboa e Porto, para que seja mais barato tratar o lixo" nestas duas áreas metropolitanas.
Para a Zero, trata-se de um sistema que "favorece quem vive nas grandes metrópoles e prejudica quem vive no interior do país".
Além do aspeto de "justiça social e de coesão do país", há também a vertente ambiental, no lixo, considerada "muito grave", segundo a Zero, que analisou a atribuição de subsídios dados às operações de incineração de resíduos urbanos nas duas unidades de Lisboa e Porto, baseada na consideração de que a energia obtida é uma energia renovável.
"Consideramos isso errado porque grande parte dos resíduos que são queimados, como plásticos e materiais sintéticos libertam carbono fóssil, portanto, a incineração é globalmente uma operação que promove a libertação de gases com efeito de estufa e não devia ser incentivada como energia renovável", como a solar, o biogás ou a eólica, afirmou Rui Berkemeier.
As unidades "têm estado a receber dinheiro para queimar resíduos que não deviam estar a receber e isso tem desincentivado a reciclagem", acrescentou.
A meta de reciclagem para Portugal é de 50% em 2020 - "as zonas de Lisboa e Porto estão numa taxa que ronda 27% a 28%" -, portanto, conclui "não vai atingir essa meta".
Rui Berkemeier critica o facto de os governos terem estabelecido metas de reciclagem mais baixas para as zonas que têm incineração, nomeadamente Lisboa e Porto.
Na zona do Porto é 35% e de Lisboa é 42%, enquanto nas zonas rurais, onde é mais difícil reciclar, é de 80% o que, acrescenta, "é mais uma injustiça".
"Portugal, como não está a apostar a sério na reciclagem nas grandes metrópoles de Lisboa e Porto, vai falhar as metas de reciclagem", resume o ambientalista.
Para a Zero, "é fundamental que se altere este financiamento aos incineradores e que o Governo estabeleça metas de reciclagem muito mais elevadas para as zonas do litoral e grandes cidades do que para as zonas do interior e aldeias".
A Associação defende a subida da Taxa de Gestão de Resíduos (TGR) para quem envia lixo que pode ser reciclado para aterro ou incineração e a opção de premiar quem aposta na reciclagem.
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