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Ainda há pequenos oásis no meio das cinzas e à espera de turistas

Grande parte do interior norte do distrito de Leiria ficou reduzida a cinzas após o incêndio que começou em Pedrógão Grande, mas, pelo meio da negrura, avistam-se pontos verdes e empreendimentos que resistiram às chamas e que esperam agora pelo regresso dos turistas.

Ainda há pequenos oásis no meio das cinzas e à espera de turistas
Notícias ao Minuto

12:02 - 26/06/17 por Lusa

País Pedrógão Grande

Em Figueiró dos Vinhos, a castiça aldeia de xisto de Casal de São Simão permanece intacta, numa pequena aldeia de Pedrógão Grande um empreendimento turístico livrou-se das chamas, noutra, uma quinta com mais de mil espécies de plantas parece um "pequeno oásis", e a Praia das Rocas, em Castanheira de Pera, marcou para hoje a sua reabertura.

"Somos um ponto verde no coração da área ardida", diz à agência Lusa Domingos Luís, de 65 anos, proprietário de um empreendimento na Carreira, freguesia da Graça, que se apressou a replicar a frase nas redes sociais após o incêndio.

Na pequena aldeia com cinco habitantes permanentes, restaram dois ou três hectares de área verde, circundante às casas de pedra que explora desde 2000 - "o resto, à volta, está queimado".

Foi a experiência dos habitantes da Carreira em lidar com incêndios que lhe salvaram o espaço, que Domingos não estava naquele lugar.

"Foi alguma sorte, ordenamento, limpeza da área e muito trabalho dos idosos que aqui vivem", conta Domingos Luís, sublinhando que quem vá até ao empreendimento "Casais do Termo" pode sentar-se no jardim e ter a sensação de que por lá o fogo não passou.

No entanto, "as marcações arderam todas".

Julho e agosto já estavam "praticamente cheios" de reservas, mas desapareceu quase tudo nos dias que se seguiram aos incêndios, desabafa Domingos, recordando que 2017 já estava a ser um ano bom, de recuperação.

"Fomos flagelados pelos incêndios e depois pela comunicação social", notou, apontando para as imagens que passam vezes e vezes sem conta do incêndio e das suas consequências.

A dez quilómetros das casas de turismo rural de Domingos Luís, fica Mosteiro e a sua praia fluvial. O caminho faz-se por entre estradas que sobem e descem montes, por onde tudo ardeu.

Na pequena aldeia, o incêndio passou na noite de dia 17 e cercou a aldeia.

Anabela Louro, que trabalha no bar da praia fluvial e que esteve no combate às chamas até às três da manhã daquele fatídico dia, contabiliza "quatro casas que arderam".

A praia quase que parece intacta, apesar de alguns vestígios da passagem do fogo.

"Esperemos que não afete [o turismo], mas esta semana tem afetado", conta à agência Lusa Anabela, que mostra confiança - ainda que tímida - na melhoria da situação.

António dos Santos, nascido e criado em Mosteiro, regressou da Suíça há três anos por amor à terra e ao pai, de 86 anos, a precisar de companhia.

O calor secou as folhas das suas árvores de fruto, perdeu uma casa que tinha num terreno e 60 pés de oliveira.

"Isto era uma aldeia bonita. Talvez, do distrito, estando aqui na cova, era a mais bonita. Vinha cá muita gente. Agora, o turista este ano é capaz de não voltar. Volta para quê? Para ver cinza?", pergunta António, desolado, que considera que a recuperação vai demorar: "Nem daqui a dois anos".

Na aldeia de xisto de Casal de São Simão, no concelho de Figueiró dos Vinhos, a quinze minutos a pé das Fragas com o mesmo nome, as marcas do incêndio apenas se veem no caminho.

Chegando ao Casal de São Simão e descendo até às Fragas de São Simão, onde corre a ribeira de Alge, o incêndio quase que parece que não passou.

"É um pequeno oásis no meio das cinzas", confirma o gerente do restaurante da pequena aldeia, Renato Antunes.

Apesar de algumas desmarcações nos primeiros dias após o incêndio, já tem notado alguma recuperação.

No entanto, a Renato Antunes preocupa-lhe aquilo que vê do outro lado da ribeira - montes com eucaliptos e pinheiros não afetados pelas chamas.

"Preocupa-nos muito. Queremos tomar as devidas providências e é preciso limpar e replantar com árvores autóctones para garantir uma orla protetora", frisou o gerente do restaurante de Casal de São Simão.

Já ao lado, na Ferraria de São João, a aldeia ficou intacta por dentro, mas "à volta ardeu tudo".

Agora, Renato Antunes procura passar outra imagem que não aquela da estrada nacional 236.

"Um dia, se calhar, vamos ter um turista a pedir-nos indicações para a 'estrada da morte'", desabafou, realçando que o esforço passa por mostrar que ainda há beleza na região, como a ribeira de Alge, que continua a correr, à sombra de loureiros e sobreiros que habitam as suas margens.

"Queremos tentar passar outra mensagem. Ainda há aqui muita coisa para ver. Não é só fogo e queimado", sublinhou.

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