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"Desesperança" na Europa junta filósofo, cartoonista e ministro em Paris

O filósofo Eduardo Lourenço (na imagem) falou, hoje, sobre o "clima de desesperança ou menor esperança em relação ao destino da Europa" durante um debate sobre a Europa na Embaixada de Portugal em Paris.

"Desesperança" na Europa junta filósofo, cartoonista e ministro em Paris
Notícias ao Minuto

21:41 - 02/12/16 por Lusa

País Paris

A conversa juntou Eduardo Lourenço e o 'cartoonista' francês Plantu e foi ouvida por meia centena de convidados, entre os quais o ministro da Cultura, Luís Filipe de Castro Mendes.

"É verdade que neste momento há um clima de desesperança ou menor esperança em relação ao destino da Europa. Cabe à Europa de hoje fazer um exame de consciência e responder a esta crise de melancolia exacerbada que reina sobre o nosso futuro", disse, em francês, Eduardo Lourenço.

O ministro da Cultura, em declarações à Lusa, concordou com as palavras de Eduardo Lourenço e reconheceu haver "uma grande falta de esperança" na Europa neste momento devido a "uma determinada ideia da economia europeia" que "criou uma grande tensão sobre o projeto solidário da Europa".

"A Europa está numa crise muito, muito grande porque o projeto europeu era um projeto de solidariedade -- era e é -- e houve uma tendência para se transformar num conflito de interesses. Isto é, os países mais ricos, os países endividados, os países credores e os países devedores", afirmou.

Em declarações à Lusa, no final do debate, Eduardo Lourenço insistiu que "a Europa nunca foi unida em coisa nenhuma" e que o Brexit ilustrou "o desencantamento europeu".

"A Inglaterra dominou a história europeia durante cinco séculos e de repente querem-se ir embora para outro sítio. Porquê? Isto é uma manifestação de desconfiança em relação à Europa, pensam que a Europa está em perdição, que não presta. Preferem a aliança -- que o digam ou não -- com a filha América", considerou.

Durante o debate, Eduardo Lourenço defendeu também uma aproximação à Rússia porque "a nação mais importante da Europa neste momento é a Rússia" e lembrou, à Lusa, que "o aliado tradicional da França é a Rússia".

"Enquanto a Rússia não for um diálogo obrigatório deste diálogo europeu interno a Europa não vai para lado nenhum", afirmou o filósofo de 93 anos, um dia depois de ter recebido o Prémio de Divulgação da Língua e Literatura Francesas na Academia Francesa.

O cartoonista francês Plantu, considerado por Eduardo Lourenço como "um mágico", falou sobre o projeto de realização de um livro de desenhos sobre os migrantes que pretende reunir caricaturistas do mundo inteiro e que gostava de ver prefaciado pelo próximo secretário-geral da ONU e ex-Alto-Comissário das Nações Unidas para os Refugiados, António Guterres.

"António Guterres conhece muito bem o dossier dos migrantes. Encontrei-o em Lisboa quando recebi o prémio Helena da Silva. Senti que ele tinha muito carinho pelo trabalho que fazem os desenhadores do mundo inteiro para tentar construir um diálogo. Nós que, em geral, ilustramos textos, seria formidável ter um texto de António Guterres que ilustrassem os desenhos deste livro", declarou Plantu à Lusa.

Para fazer este debate sobre a Europa, o embaixador de Portugal em Paris, José Filipe Morais Cabral, decidiu juntar Eduardo Lourenço e Plantu, ou seja, os dois vencedores da edição de 2016 do Prémio Europeu Helena Vaz da Silva para a Divulgação do Património Cultural.

José Filipe Morais Cabral sublinhou que "os debates sobre a Europa são duplamente bons" e que foi "enriquecedor" juntar "a densidade e a autoridade moral" de um "filósofo, ensaísta e historiador" que viveu muitos anos em França, no Brasil, Alemanha e Itália e um desenhador "de uma enorme criatividade que expressa pelos desenhos diários todas estas angústias e todas estas esperanças [sobre a Europa]".

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