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Incêndios: Quando heróis improváveis fazem (toda) a diferença

Incêndios deflagraram este verão pondo em sobressalto várias pessoas. Pessoas essas que podem também ter um papel importante no combate aos mesmos, ajudando os bombeiros. Este foi um dos casos em que isso se verificou.

Incêndios: Quando heróis improváveis fazem (toda) a diferença
Notícias ao Minuto

09:38 - 28/08/16 por Andrea Pinto

País Popularidade

Esta semana, várias freguesias de Abrantes, foram palco de um incêndio que pôs em risco casas e vidas. Entre os gritos de aflição e de socorro, quem ali estava, conhecedor como mais ninguém daquilo que é seu, mantém [dentro do possível], a calma e a sensatez para, no tempo que se segue, agir, impedindo que as consequências do incêndio possam ser ainda piores.

São eles que, até à chegada dos bombeiros, conseguem com a sua coragem impedir que o fogo propague e que chegue às suas casas, levando-nos à seguinte questão: O que podem ou não fazer os populares para ajudar os bombeiros?

À espera do pior

Eram 15h49 quando um incêndio deflagrou em Sentieiras, Abrantes. Poucos minutos depois, na freguesia de Fontes, Pedro Silva saía de casa, após um almoço prolongado, e alertado pelo cheiro, deparou-se com o que ele, e a sua família, menos queriam ver, mas que há dias temiam que acontecesse.

“Foi há 11 anos que aconteceu o último incêndio na zona e que destruiu tudo”, relembra Lídia, referindo que já muitos populares diziam que “mais cedo ou mais tarde, o pesadelo voltaria a repetir-se”.

Pedro não perdeu tempo e fez aquilo que, ao Notícias Ao Minuto, o comandante dos Bombeiros de Abrantes chama de “alarme rápido”: “ligar para o 112,117 ou diretamente para os bombeiros e nunca deixar de fazê-lo por pensar que alguém já o fez antes de nós”.

A prevenção pode resolver mais do que imagina

Não tardou muito para que começasse o reboliço: de um lado para o outro os populares rumam em direção ao incêndio.

Numa outra casa desta aldeia, no meio de um vale com vários pinheiros, começa o desespero. As árvores em torno da casa levam os seus donos a temer que o fogo chegue perto e se repita o que aconteceu no passado: “Nem os estores escaparam”, lembra uma das suas habitantes.

A prevenção, nestes casos, é por isso muito importante lembra o comandante António Jesus, que deixou outro conselho às populações. “Se as casas estiverem limpas à volta, numa distância de 50 metros, isto diminui o risco. E permite aos bombeiros irem diretamente para o foco do incêndio, ao invés de irem para as casas”, afirma, explicando que muitas vezes os fogos se alastram mais do que o esperado porque além “de haver poucos meios” a prioridade dos bombeiros é tentar ajudar “habitações e moradores”.

Foi isso que aconteceu na passada terça-feira, quando um segundo foco de incêndio se propagou em Carvalhal e, posteriormente, no Sardoal, obrigando os bombeiros a alternarem entre estas duas vilas, enquanto noutras aldeias as pessoas assistiam ao fogo a crescer em zona florestal e desesperavam ao pensar que mais cedo ou mais tarde este chegaria junto às casas.

Agir pelos próprios meios, sem nunca se colocar em risco

É no desespero que as pessoas tentam agir por si próprias, em gestos que por pequenos que sejam podem ser uma grande ajuda para o trabalho dos bombeiros.

“É importante que tirem os carros das estradas e os coloquem em garagens ou locais amplos, para desimpedirem o caminho caso os bombeiros precisem de por aí passar”, lembra o comandante, referindo também que todos os que possam devem pôr de imediato as mangueiras a jeito, caso as possuam.

Numa população onde já antes se viveu momentos assim é normal que várias táticas de defesa sejam já conhecidas. Assim, ao ver o fogo a aproximar-se, a população de Fontes não hesitou em unir-se e criar os asseiros [cortar as árvores que se encontram à beira da estrada, de forma a que caiam em direção ao incêndio, acalmando-o e impedindo que este passe para o outro lado da estrada], mesmo em terrenos que a eles não pertenciam. Com isto, conseguiram parar uma das frentes do fogo que ameaçava chegar a uma zona habitacional. 

“Os asseiros e as estradas limpas são uma mais valia”, defende o comandante dos Bombeiros de Abrantes, salientando que esta ação pode ajudar e muito o trabalho dos bombeiros. Contudo, deve ser feito sem nunca pôr em risco a segurança das pessoas”. Se puderem, também, “com água, um ramalho ou um extintor devem tentar apagar pequenos focos de incêndio”.

Uma ajuda fundamental, até no terreno

Com ainda uma outra frente ativa, muitos aguardavam já apenas que o incêndio chegasse junto às casas, onde a presença de uma estrada principal os levava a crer que culminaria ali o pesadelo. Antes que isso pudesse acontecer, porém, chegaram vários carros de bombeiros que já no terreno conseguiram, quando já passava das 4h da madrugada, controlar o incêndio e garantir a sua extinção. Mais uma vez aqui, os populares foram essenciais.

“Os bombeiros, mesmo os que vêm de fora, guiam-se pelos mapas. Mas se as pessoas ajudarem a guiá-los [indicando quais são os melhores caminhos e percursos] torna-se mais rápido e ganha-se tempo”, salienta o mesmo comandante.

Muitos dos bombeiros chegaram às freguesias pertencentes a Abrantes sem comer desde a manhã. Mais uma vez, a união dos populares foi essencial neste caso, arranjando mantimentos e água para dar aos que por si punham a vida em risco.

Juntos pela mesma causa, bombeiros e populares, podem ser considerados nesta (como em tantas outras histórias semelhantes) uns heróis. Se uns, pela farda que envergam merecem indiscutivelmente o agradecimento de todos pelo seu trabalho e sofrimento, os outros, que muitas vezes podem passar despercebidos, merecem também um ‘obrigado’ por parte dos bombeiros, que veem neles um apoio fundamental.

“Se tiverem uma atitude responsável, podem ser uma grande ajuda para os bombeiros”, concretiza António Jesus.

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