União Europeia é casamento de conveniência que pode acabar em divórcio
O sociólogo Boaventura de Sousa Santos comparou a União Europeia a "um casamento de conveniência", que pode acabar em divórcio, porque "estão a fazer tudo para que ninguém se sinta europeu".
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País Sociólogo
"Isto já é um casamento de conveniência, se amanhã resulta em divórcio, nada o poderá prever, mas, se continuar esta cegueira de aplicar uma ortodoxia, que não é económica e técnica, é política e ideológica...", disse, em declarações à Lusa, à margem do encontro Ciência 2016, que termina hoje, em Lisboa.
O diretor do Centro de Estudos Sociais da Universidade de Coimbra sustentou, a este propósito, que "se Portugal tivesse um governo de direita, não haveria sanções", referindo-se às ameaças de penalizações económicas sobre Portugal, por parte de Bruxelas, por incumprimento de metas orçamentais.
"Um governo [PSD-CDS/PP, liderado por Pedro Passos Coelho] que foi bom aluno e cumpriu as regras, e agora vai receber sanções?", criticou.
Em causa, assinalou Boaventura de Sousa Santos, "está o congelamento de fundos estruturais", que será "extremamente punitivo se for concretizado".
A Comissão Europeia deverá, provavelmente, decidir na quinta-feira sobre a aplicação de sanções, ou não, a Portugal e a Espanha, por défice excessivo, em 2015, admitiram fontes comunitárias na terça-feira.
Segundo o sociólogo, que foi um dos oradores da sessão "Europa e desafios do futuro", no encontro Ciência 2016, está-se "numa situação de pura cegueira institucionalizada em Bruxelas", em que "estão "fazer tudo para que ninguém se sinta europeu, para que se use por conveniência a Europa".
"Os ingleses estão a mostrar isso, não querem ser europeus, querem ter as conveniências de estar na Europa, e de não estar", defendeu.
Recentemente, um referendo no Reino Unido deu a vitória à saída do país da União Europeia.
Bruxelas, advogou Boaventura de Sousa Santos, "para proteger o capital financeiro, dará um estatuto ao Reino Unido, que lhe vai dar mais ou menos as mesmas vantagens" que tinha enquanto membro da UE.
Sobre o futuro da Europa, afirmou que "não é com nacionalismos de fragmentação, mas com o aprofundamento do projeto democrático", tendo em vista uma verdadeira política externa.
A seu ver, "a Europa perdeu a alma na sua política externa", ao apostar na "diplomacia económica das multinacionais, tal e qual como os Estados Unidos".
"A Europa tem mais contactos com o mundo do que qualquer outro continente, pela lógica do que foi o colonialismo moderno", apontou.
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