Desalojados por demolições em Loures dormem "ao relento"

Alguns moradores que viram as habitações abarracadas demolidas no Bairro do Talude Militar, concelho de Loures, tiveram que "dormir ao relento", com crianças abrigadas por vizinhos, contou hoje um autarca, enquanto a câmara acompanha a situação de 10 famílias.

bairro do talude demolições

© Reprodução/ Vida Justa

Lusa
01/07/2025 16:52 ‧ há 6 horas por Lusa

País

Loures

"Muitos continuam a dormir ao relento. As pessoas de algumas barracas que não foram demolidas receberam as crianças", contou Kedy Santos, deputado municipal da CDU em Loures, que acompanha a situação das cerca de 36 pessoas desalojadas de casas autoconstruídas demolidas na segunda-feira no bairro da União de Freguesias de Camarate, Unhos e Apelação.

 

A Câmara de Loures confirmou a demolição de 25 construções precárias no Bairro do Talude Militar, no âmbito de uma operação da política municipal de combate à ocupação ilegal do território, avançando que cinco construções não tinham qualquer ocupante e "as restantes 20 eram ocupadas por 37 adultos e nove menores".

Após serem atendidos na segunda-feira nos serviços camarários na Casa da Cultura de Sacavém, os moradores voltaram para o bairro, para "dormir ao relento", pois "a maioria trabalha nas proximidades" e com o receio de que, "se não arranjarem sítios para os miúdos, podem ser sinalizados" pelos serviços de proteção de menores, admitiu Kedy Santos.

O também ativista do movimento Vida Justa lamentou que os serviços municipais apenas estejam a "oferecer a primeira renda e a caução" a cidadãos que, "apesar de trabalharem não têm meios para recorrer ao mercado de arrendamento livre", e que a autarquia se tenha antecipado a uma providência cautelar contra as demolições, alegando não ter sido notificada oficialmente da ação.

Para o deputado municipal, "a câmara não tem uma solução" para apresentar aos moradores, quando "o número de barracas não aumentou nos últimos três meses", e "faltou diálogo".

"Deixar as pessoas ao relento e as crianças sem apontar uma solução não tem cabimento", considerou Kedy Santos, avançando que os desalojados vão contactar com a junta de freguesia para procurar identificar eventuais apoios.

O autarca salientou que as pessoas afetadas "não querem passar à frente de ninguém nas listas, só querem continuar a viver em condições mínimas até conseguirem uma solução" de acordo com os seus rendimentos, e "não são só imigrantes, mas também portuguesas, algumas devido ao aumento das rendas em bairros próximos" do Talude.

No esclarecimento escrito, a autarquia explicou que a "intervenção insere-se num esforço contínuo" para "travar o crescimento de núcleos de autoconstrução ilegal, que se têm vindo a agravar de forma preocupante nos últimos anos, muitas vezes explorando a vulnerabilidade de imigrantes em situação de fragilidade".

A câmara reiterou que não permitirá a proliferação de mais construções ilegais no concelho, "mantendo uma política de tolerância zero para situações que violem o ordenamento do território e coloquem em risco a segurança e a saúde públicas".

Fonte oficial do gabinete do presidente da câmara, Ricardo Leão (PS), disse à Lusa que, de acordo com os serviços de ação social, "das 25 construções demolidas, só compareceram no atendimento 17 agregados familiares", dos quais 12 possuem morada no concelho e cinco noutros municípios.

"Essas famílias com moradas fora do concelho foram encaminhadas para os serviços de ação social das respetivas autarquias", avançou a fonte, acrescentando que, "de 12 com morada em Loures, duas declararam já terem previamente casa arrendada", justificando pretenderem "a redução de despesas fixas mensais" e "adaptar o espaço à dimensão da família".

As restantes 10 famílias, correspondendo a 24 pessoas, incluindo quatro menores, declararam "não ter alternativa habitacional" ou "qualquer rede formal ou informal de suporte que configure uma alternativa".

A fonte oficial referiu ainda que, após análise socioeconómica, "a grande maioria" se encontra "integrada no mercado de trabalho, vários até com a situação contratual regularizada", mas com "rendimentos insuficientes para fazer face ao mercado de arrendamento livre", tendo sido "também identificadas situações de precariedade laboral".

A autarquia, assegurou, continuará a ajudar na procura de alternativa habitacional, com possibilidade do apoio económico da caução e da primeira renda, e "acompanhamento pelas equipas de emergência social".

O movimento Vida Justa criticou a política da Câmara de Loures por "não querer fazer um acompanhamento de proximidade" das pessoas afetadas pela crise da habitação e acusou a autarquia de "tentativa de substituição forçada de moradores dos bairros municipais às custas de famílias inteiras que assim se tornam em novos sem-abrigo".

Leia Também: Desalojados em bairro ilegal de Loures sem "solução viável"

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