Meteorologia

  • 26 ABRIL 2024
Tempo
16º
MIN 12º MÁX 17º

Sem vestido e sem dinheiro: Noivas relatam pesadelo com loja do Porto

Loja fechou repentinamente e noivas sentem que foram burladas. Defesa da proprietária da loja fala em processo de insolvência e atribui culpas à pandemia e à guerra.

Sem vestido e sem dinheiro: Noivas relatam pesadelo com loja do Porto
Notícias ao Minuto

14:14 - 19/07/22 por Carmen Guilherme

País Casamento

O sonho de qualquer casal é que tudo esteja perfeito no dia do casamento, mas para mais de uma centena de noivas esse desfecho tornou-se mais distante a pouco tempo do grande dia.

Sem vestido e sem dinheiro: foi assim que várias mulheres, que escolheram o seu vestido na  Angels - Vestidos de Noiva, no Porto, se viram recentemente, com algumas delas a ser informadas, através da advogada da proprietária daquela loja, que a sua constituinte tinha sido obrigada a encerrar a sua atividade, iniciando um processo judicial de insolvência, não sendo, por isso, possível entregar qualquer vestido ou devolver os valores já liquidados.

O sucedido causou uma onda de indignação nas redes sociais e um grupo criado no Whastapp reunia já mais de uma centena de noivas alegadamente lesadas.

Joana [nome fictício] contou ao Notícias ao Minuto que fez a primeira prova a 9 de outubro de 2021. “Escolhi, tirei medidas e paguei 250 euros, mais de metade do valor total”, recordou, explicando que a dona do estabelecimento lhe disse que um mês antes do casamento seria feita uma nova prova “já com o vestido pronto”, para ver se estava tudo bem.

“Quarta-feira passada entro em contacto com a dona e pergunto para quando agendávamos a prova final que ficou para sábado [dia 23 de julho]. Foi atenciosa, falou comigo, tudo direitinho”, acrescentou.

Contudo, o rumo da história mudaria drasticamente no dia seguinte, quando faltavam apenas pouco mais de 30 dias para o casamento. “Na quinta-feira, às 16h59, recebo um email da advogada a informar que tinha aberto insolvência e nem vestido, nem dinheiro. Contactei a advogada que ainda me disse que só eram obrigados a contactar as cinco maiores lesadas e eu não era uma delas. Que tenho de aguardar a decisão do tribunal e aí sim pedir o meu dinheiro”, relatou.

Uma história semelhante contou Liliana [nome fictício], que foi pela primeira vez à Angels em janeiro deste ano. “Nessa altura apaixonei-me logo pelo vestido que escolhi”, lembrou. Liliana não finalizou a compra uma vez o casamento só irá acontecer em julho de 2023, no entanto, no passado mês de junho, aproveitou que a peça estava em promoção para, finalmente, a comprar.

“[Foi feita] uma promoção com o vestido que eu tinha gostado e aproveitei logo. Vestido, véu, liga, tiara e saiote por 440 euros. Foi quando a fui visitar a última vez. Experimentei novamente o vestido para ter a certeza do que queria e acabei por escolhe-lo. Ia preparada já com metade do valor, mas a dona disse que para usufruir da promoção teria de pagar o vestido na totalidade”, afirmou.

Achei estranho haver lá meia dúzia de vestidos, mas pensei que ela tivesse um atelier

“Como só levava metade do valor comigo, ela deixou-me à vontade e disse que poderia fazer a transferência no final do mês. No dia 1 do presente mês fiz a transferência do restante valor que faltava e na quinta-feira soube desta triste notícia”, acrescentou.

Já Carla [nome fictício] viajou de propósito de Portalegre até ao Porto para visitar esta loja, onde “os preços eram acessíveis”.

“A loja ficava escondida num centro comercial, mas parecia estar abandonado, só estava lá aquela loja. A senhora recebeu-nos bem, só achei estranho haver lá meia dúzia de vestidos, mas pensei que ela tivesse um atelier e que levasse aqueles vestidos tipo princesa, porque eu queria algo desse género”, lembrou.

Carla experimentou “vários” modelos até encontrar o desejado e aproveitou para pedir que fosse feito um vestido, exatamente igual, para a filha.

“Escolhi o vestido, ela tirou-me as medidas para fazer-me um igual. De seguida, também tirou medidas à minha filha para fazer um vestido igual ao meu. O meu vestido de noiva custava 650 euros e o da minha filha custava 150. Deixámos de sinal 400 euros”, adiantou.

A mulher deveria regressar à loja “no início de agosto”, para uma segunda prova, tendo em conta que o casamento está agendado para 10 de setembro, mas acabou por vir a saber do fecho da loja e, ao contrário de Joana e Liliana, não recebeu qualquer contacto. 

“Já tinha visto meninas a queixarem-se de que ela não entregava os vestidos e eu mandei-lhe mensagem pelas redes sociais. Ela disse que estava a entregar os vestidos do mês de julho e para eu ir lá em agosto”, sublinhou.

Defesa atribui culpa a fornecedores: na China e na Ucrânia

Contactada pelo Notícias ao Minuto, a advogada Clara M. Santos confirmou a justificação que já havia sido dada na comunicação feita às noivas, atribuindo as dificuldades financeiras enfrentadas à pandemia de Covid-19 e à guerra na Ucrânia. 

Segundo a advogada, a loja funcionava da seguinte forma: Havia modelos em exposição, as clientes deslocavam-se à loja, escolhiam o vestido, faziam a reserva, havia uma parte que era liquidada e a proprietária procedia à encomenda daquele modelo aos fornecedores, sediados em Xangai, na China, e na Ucrânia.

“A senhora não tinha os vestidos em loja”, disse, após ser questionada sobre a hipótese de a sua constituinte, Clara Sousa, devolver às clientes os vestidos cujo valor já tinha sido pago.

“A senhora não tem solução, os fornecedores falharam nas entregas.”, acrescenta, remetendo as falhas para o ‘lockdown’ vivido em Xangai, devido à Covid-19, e à guerra vivida no leste da Europa. Se “os vestidos não chegam à loja, não consegue encontrar a solução”, reiterou.

Clara M. Santos defendeu que esta “catadupa de factos” levou ao processo de insolvência. “Quem dera à senhora ter os vestidos para fazer as entregas”, sublinhou.

Os vestidos eram a um preço mais acessível (…) para bom entendedor meia palavra basta

Confrontada com a possibilidade de as clientes não saberem que estes vestidos eram encomendados, mas sim confecionados pela proprietária da loja - tal como indicam os relatos - , a advogada disse desconhecer “esse tipo de pormenores” e se foi transmitido ou não que os vestidos não eram confecionados de raiz.

Contudo, alerta para os baixos preços dos modelos: “Os vestidos eram a um preço mais acessível (…) para bom entendedor meia palavra basta”.

A advogada destacou ainda a “extrema preocupação” da sua cliente com a situação e lembrou que esta lhe pediu que “fossem avisadas as noivas”. Através de uma listagem de e-mails, a advogada comunicou o sucedido.

“Tivemos o cuidado de avisar”, notou, referindo que as noivas que não terão recebido essa informação não terão fornecido o e-mail ou, em alguns casos, por algum tipo de erro, não terão recebido a mensagem eletrónica, uma vez que algumas foram devolvidas.

A advogada destacou também que se comprometeu a enviar um novo email, assim que for conhecida a sentença do tribunal – algo que não é obrigatório por lei - para que as lesadas possam reclamar o crédito, caso o entendam, no processo judicial de insolvência. 

Clara M. Santos lamentou ainda as proporções que o caso está a ganhar nas redes sociais, alegando que, além da sua cliente, também ela está a ser ameaçada.

“Eu própria estou a ser ameaçada”, denunciou, frisando que está apenas a fazer o seu trabalho e que ”não tem culpa”. A advogada afirmou ainda que, “eventualmente”, terá de apresentar “queixa-crime contra diversas noivas”.

Leia Também: Três polícias julgados em Leiria por falsificação, abuso de poder e burla

Recomendados para si

;
Campo obrigatório