Associação do Porto ensina jovens a apoiar e a lidar com sem-abrigo
Mariana Castro Moura começou em março de 2020 a oferecer alimentos a sem-abrigo do Porto, um projeto que evoluiu para associação e que agora ensina jovens a lidar com esta realidade, olhos nos olhos com quem mais precisa.
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País Sem-abrigo
É assim desde que o país confinou em março de 2020, dias depois da confirmação da chegada da covid-19 a Portugal. Diariamente, pouco depois do meio-dia, a voluntária ruma à Rotunda da Boavista e zona do Bom Sucesso para entregar 'kits' alimentares aos sem-abrigo que por ali estão.
O movimento gerado em torno do projeto deu-lhe asas e, já denominado Caminhos do Amor, passou a estar mais dias em mais locais da cidade, sempre com Mariana ao leme, sempre a entregar comida e roupa a quem precisa, ao mesmo tempo que germinava a ideia de atrair os jovens.
"A ideia surgiu da necessidade de ter mais gente a movimentar a associação, mais gente nova e porque há miúdas cada vez mais novas a mostrar interesse em participar", sintetizou à Lusa a mentora, momentos antes de, já com os 'kits' preparados nas sacas plásticas, iniciar mais uma jornada diária, avenida da Boavista acima.
Matilde Allen, de 14 anos, é a primeira jovem voluntária do novo projeto, embora com "experiência" na rota dos sábados, em que é distribuída comida e roupa pela cidade a quem precisa, aqui na companhia da família.
Ainda em casa, Mariana define o que é importante: "aprender a falar com eles [os sem-abrigo], saber interagir, saber preparar os 'kits'. Tudo tem de sair perfeito". E lá se fazem ao caminho, primeiro num autocarro da Sociedade de Transportes Coletivos do Porto e o resto a pé.
"Há mais jovens inscritos, o problema é conjugar a disponibilidade. O mais novo tem sete anos e virá acompanhado pela mãe", contou a mentora.
Convidada para ser aprendiz do projeto, Matilde aceitou de pronto e até fez mais: "já falei a alguns amigos, a quem me parece que queira participar. Entusiasmados já há, prontos a participar não sei se tanto, mas mais algum tempo e poderão participar".
Confessando-se parte de uma geração que está sempre a olhar para o telemóvel, a jovem percebeu "que fazer estas rondas e ajudar é uma maneira de desligar das redes sociais, do telemóvel, e preocupar-se com uma causa maior que é ajudar".
"Estando a socializar de uma forma completamente diferente é, de todo, uma vivência", sublinhou.
E perante pessoas que "precisam muito de ajuda, que não têm como receber alimentos e roupa", confessou valer a "pena tirar um pouco das férias para estar com eles".
Cerca das 13:30 a rota está completa, contando à Lusa a mentora que a Matilde entregou 16 'kits' alimentares e foram dados bolos a mais quatro pessoas, dois deles jovens artistas de rua. Mariana é assim, não espera que lhe peçam, atua.
"Desde que chegou a pandemia, há mais sem-abrigo nesta zona [da Boavista] e também mais pessoas que, não o sendo, precisam de ajuda. Há mais pessoas de meia-idade, mas também aparecem jovens por terem perdido o trabalho", relatou Mariana sobre o "quadro" antes e depois da pandemia na zona onde intervém.
No trajeto que a reportagem da Lusa, quase sempre com a câmara de filmar desligada, acompanhou, foi visível que a ajuda presta-se também sob a "forma de aconselhamento" e até "para comprar medicação".
"Faço um bocadinho de tudo", resumiu Mariana.
Matilde confessou à Lusa no final da sua primeira "aula" que "não contava ver tanta gente a precisar de ajuda", mas que, ainda assim, a missão "foi o que estava à espera".
"Há mais gente a precisar, mas eu não consigo chegar a todos", disse Mariana antes de a equipa do Caminhos do Amor rumar à Pasteleira, para a segunda rota, aqui para apoiar toxicodependentes.
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