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Venda de casa doada aos bombeiros gera indignação em aldeia

Habitantes da aldeia de Ligares, no concelho de Freixo de Espada à Cinta, mostram-se indignados com a possibilidade de venda de uma habitação que foi deixada aos bombeiros locais por uma benemérita, para aí construir um museu.

Venda de casa doada aos bombeiros gera indignação em aldeia
Notícias ao Minuto

13:34 - 09/06/21 por Lusa

País Freixo de Espada à Cinta

A Associação Humanitária dos Bombeiros de Freixo de Espada à Cinta (AHBVFEC), no distrito de Bragança, recebeu por testamento uma vivenda situada no centro aldeia de Ligares, que, de acordo com o testamento a que Lusa teve acesso, seria destinada para a criação de um museu com motivos referentes ao corpo de bombeiros e outras curiosidades.

O testamento foi lavrado no Cartório Notarial de Freixo de Espada à Cinta, em 25 de julho de 2003.

No entanto, a AHBVFEC emitiu um aviso público, em 04 de maio de 2021, em que refere estar "aberta a receber propostas de possíveis interessados na aquisição do imóvel, situado na Rua da Amargura, em Ligares".

Perante este anúncio, habitantes locais demonstram indignação e até alguma surpresa com a decisão tomada pela direção do AHBVFEC, porque garantem que a casa foi doada pela benemérita para a aí se instalar um museu, como ainda se pode ler numa placa de metal colocada na varanda central do edifício.

"Se a benemérita deixou em testamento o imóvel aos bombeiros, já que são instituições que devemos apoiar, sentimo-nos revoltados e contra a decisão da atual presidência da AHBVFEC. Este património foi doado para se construir um museu. O aviso que foi publicado é estranho porque não apresenta uma base de licitação para a aquisição do imóvel, e eu considero que a venda seja feita pelo valor mais conveniente", disse à Lusa Fernando Caetano, habitante de Ligares.

Por seu lado, Sónia Lopes, outra das habitantes da aldeia transmontana, é da opinião de que, se o imóvel foi deixado aos bombeiros, por bem devia ser cumprida a vontade da benemérita que deixou em testamento que a casa era para construir o museu.

"O museu era para o benefício da aldeia de Ligares", o objetivo não era que a casa fosse vendida "como estão a tentar fazer. Esta decisão da direção dos bombeiros está a prejudicar a população", vincou a habitante.

Em declarações à Lusa, o presidente da AHBVFEC, Edgar Gata, refere que após algumas tentativas em encontrar interessados em apoiar a recuperação do imóvel nunca ninguém se mostrou interessado.

"Em 16 de julho de 2020, a assembleia geral da AHBVFEC aprovou, por unanimidade, colocar o imóvel à venda através de propostas. Esta venda poderá ajudar financeiramente esta associação e ao mesmo tempo evitar que o prédio entre em degradação, porque não temos verbas para a sua reabilitação", explicou o dirigente.

Segundo Edgar Gata, a associação humanitária que dirige não tem condições financeiras para salvar o imóvel da ruína, que é o que está a acontecer.

"Os habitantes de Ligares sabem perfeitamente que a casa está num processo de degradação total", observou, acrescentando que toda a população "foi informada por infomail" da pretensão de venda do imóvel.

O responsável disse ainda que já foi mostrar casa a algumas pessoas interessadas e que nunca sentiu desagrado por parte da população.

O presidente da Junta de Freguesia de Ligares, Ademar Bento, indicou que a aldeia vive um sentimento de indignação total face ao anúncio da venda casa da benemérita Veneranda Martins.

"Estamos a preparar algumas ações para impedir que a vivenda seja vendida, como o senhor presidente dos bombeiros pretende. Como autarca e como habitante de Ligares não entendo o facto de a casa ter sido colocada à venda. Ele não tem direito de fazer isto a Ligares já que se trata de um legado com um fim específico", frisou.

Ademar Bento justifica que está tudo escrito na placa que se encontra na varanda do imóvel e o que está em testamento.

"A Junta de Freguesia está disposta, dentro das suas possibilidades, a ajudar a salvar o imóvel", disse.

O presidente da Junta de Freguesia deixou a garantia de que a população de Poiares marcará presença na próxima assembleia geral da AHBVFEC, prevista para as 20:30 de segunda-feira, sendo que um dos pontos da ordem de trabalho é a autorização para a venda da casa.

A herança inesperada recebida em 2010 transformou os bombeiros de Freixo de Espada à Cinta em empresários agrícolas, dispostos a tirar da terra o "desafogo financeiro" para servir a comunidade sem dependência dos subsídios do Estado, já que, para além de dois imóveis, a benemérita deixou terras agrícolas com mais de 50 hectares, nas quais ao longo dos anos foram plantadas várias culturas. Estes terrenos servirão de hipoteca a um empréstimo bancário pedido pela AHBVFEC.

Outro dos bens recebidos foi uma casa em Cascais, distrito de Lisboa, que, segundo o testamento, a renda do seu aluguer revertia a favor dos bombeiros. Esta moradia acabou por ser vendida pelo tribunal devido a uma dívida da associação a um empreiteiro local.

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