Em entrevista à agência Lusa, à margem da participação numa conferência realizada em Lisboa, o colunista do jornal Financial Times relativizou o impacto do processo no exterior, apontando apenas alguma perturbação no Manchester City e no Paris Saint-Germain.
"Muitas das revelações são acerca de Portugal e é aqui que tem o maior impacto. No exterior houve algum impacto junto do Manchester City e do PSG, que parecem ter 'contornado' as regras do fair-play financeiro. Mas esses clubes têm advogados poderosos, muito dinheiro e grandes futebolistas, pelo que é muito complicado para a UEFA enfrentá-los. Estão, de certa forma, protegidos pelo seu poder, pelo seu sucesso e pelo seu dinheiro", afirma.
Na ótica do jornalista holandês, de 50 anos, "é difícil encontrar um impacto relevante" do caso "além de Portugal", onde Rui Pinto está detido em prisão preventiva desde março de 2019, depois de ter sido descoberto na Hungria pelas autoridades policiais, ao abrigo de um mandado de detenção internacional.
"Não estive em nenhum outro país que fale do Football Leaks como se fala aqui, porque este é, sobretudo, um assunto português", resume.
Rui Pinto esteve também na base da revelação do caso Luanda Leaks, que, na sequência de uma posterior investigação do Consórcio Internacional de Jornalistas, colocou em causa vários negócios da empresária angolana Isabel dos Santos, tanto em Portugal, como no estrangeiro. Já sobre este processo, Simon Kuper espera que haja "consequências" na justiça.
"Penso que, potencialmente, ela poderá ser derrubada, embora o dinheiro corrupto vá muito além dela. É um escândalo que ela e a sua família tenham roubado tanto dinheiro de um país tão pobre. Espero que este caso tenha consequências e, para ser franco, estou muito mais preocupado com os danos que alguém como Isabel dos Santos causou em Angola do que estou com o FC Porto ou o Benfica".
Questionado sobre alguns investimentos milionários no futebol, de origens pouco claras, o autor holandês lembra que esse é um problema que transcende o futebol e afeta a própria sociedade em geral.
"Se formos pensar no papel de oligarcas e regimes autoritários na sociedade ocidental - e devemos preocupar-nos com isso -, é um problema muito maior do que o futebol. O futebol é apenas a parte mais visível. No entanto, estamos em Lisboa, uma cidade em que dinheiro corrupto de Angola abriu muitos caminhos. Muitos negócios em Lisboa, tal como em Londres, beneficiaram da ajuda a estes oligarcas e a estas pessoas corruptas que trouxeram o seu dinheiro para Lisboa, Londres, Paris, ajudando-os a limpar a sua imagem", conclui.