Espanha deixa localidades portuguesas sem água. Efeitos irreversíveis?
Efeitos na flora e fauna, nas localidades entre Portalegre e Castelo Branco, podem ser irreversíveis.
© ProTejo
País Rio Tejo
Nas redes sociais são muitos os internautas que partilham a asfixia do Rio Tejo e do Rio Sever, através de fotos e vídeos. As imagens são chocantes e mostram a bacia dos rios seca, como há anos, dizem os habitantes dos distritos de Castelo Branco e Portalegre, não se via.
Esta semana, o jornal espanhol El Confidencial, fez uma reportagem sobre o assunto. Na peça, intitulada “Espanha deixa a região mais pobre de Portugal sem água”, a publicação revela que “Espanha fez algo sem precedentes este ano”. Como o rio Tejo nasce em solo espanhol e só depois entra em Portugal, o país vizinho “reteve, de forma premeditada, grande parte do fluxo do Tejo que deve ser transferido para Portugal” e o efeito é catastrófico.
Durante todo o ano, contaram habitantes ao jornal, Espanha, ou seja, a Confederação Hidrográfica do Tejo (CHT) enviou apenas a “água justa” a Portugal para respeitar o fluxo ecológico do rio. Níveis bem abaixo do volume trimestral acordado entre Madrid e Lisboa, no Acordo de Albufeira, assinado em 1998 e revisado em 2008, que estabelece um fluxo anual total de 2700 hm³ antes de 30 de setembro.
Contudo, nessa data, revela o El Confidencial, houve um deficit de fluxo sem precedentes e Espanha libertou mais quantidade de água do que devia. Caíram 200 hm³ em apenas 15 dias. O que fez com que grande parte dessa água acabasse no mar, pois era impossível o leito do rio “assumir” tal quantidade.
O porta-voz da ProTejo acusa a CHT de colocar os interesses de uma multinacional acima do interesse público neste caso, do povo português, e de ter responsabilidade na seca dos rios.
A multinacional da qual fala Armindo Silveira, é a Iberdrola, que administra “a torneira de água dos dois reservatórios da Estremadura: Cedillo, localizado na fronteira, e Alcântara”.
Em ambos os reservatórios, a Iberdrola possui centrais hidroelétricas e, em ambos, a multinacional pode reter ou libertar água dependendo das necessidade de geração de energia, desde que deixe o fluxo ecológico do rio nas quantidades estabelecidas entre os dois países.
A CHT garante que “cumpriu rigorosamente todas as obrigações semanais, trimestrais e anuais decorrentes do Contrato para o ano hidrológico 2018-2019” e lembra que o responsável pela participação no contrato é o Ministério da Transição Ecológica.
Já a Agência Portuguesa do Meio Ambiente, em declarações ao El Confidencial, afirma que a CHT alcançou o mínimo e diz que o baixo nível de água nos rios Tejo se deve a “descargas extraordinárias na barragem de Cedillo, para que a Espanha possa cumprir o regime anual de vazão estabelecido pela Convenção de Albufeira”. Contudo, acrescenta que “no final de agosto de 2019, Espanha ainda tinha de entregar 440 hm³ para atingir, antes de 30 de setembro, o volume anual completo estabelecido pelo menos na Convenção de Albufeira”.
A culpa da seca do rio Tejo, entre Portalegre e Castelo Branco, ainda não foi atribuída, mas as consequências já se fazem sentir. Os efeitos na flora e fauna podem ser irreversíveis e a economia destas regiões pode ficar ainda mais pobre.
“O Tejo é a nossa fonte de vida. Graças a ele temos turismo e pesca. Temos empresas agrícolas e abastecimento de água potável. O Tejo não pertence a ninguém, mas se o deixarem neste estado infeliz, ficaremos sem nada. Se não encontrarmos uma solução em breve, eles arruinarão a nossa economia. Há empresas familiares que terão de fechar”, revelou o porta-voz do movimento ProTejo ao jornal espanhol.
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