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10 de Junho: Da cerimónia "excecional" ao discurso "irreverente"

Portalegre recebeu, 'de braços abertos', a cerimónia militar para assinalar o 10 de Junho. Marcelo Rebelo de Sousa apostou na valorização a história da nação, enquanto o presidente das Comemorações do Dia de Portugal em 2019, João Miguel Tavares, aproveitou para deixar uma mensagem à política nacional que muito tem dado que falar.

10 de Junho: Da cerimónia "excecional" ao discurso "irreverente"
Notícias ao Minuto

09:25 - 11/06/19 por Filipa Matias Pereira

País Comemorações

Marcelo Rebelo de Sousa presidiu, nesta segunda-feira, à cerimónia militar comemorativa do Dia de Portugal, de Camões e das Comunidades que terá continuidade em Cabo Verde. A cerimónia do 10 de Junho foi, aos olhos do Presidente da República, "excecional".

Naquela que foi para o chefe de Estado uma iniciativa "muito calorosa", Marcelo aproveitou a oportunidade para enaltecer o discurso "irreverente" do presidente das Comemorações do Dia de Portugal em 2019, João Miguel Tavares. "Foi muito bom, foi aquilo que eu previa, foi para isso que foi convidado. É uma voz nova, é uma nova geração e uma geração irreverente, uma voz irreverente, é isso que precisamos", defendeu Marcelo em declarações aos jornalistas.

A respeito do discurso de João Miguel Tavares nas comemorações do 10 de Junho, o jornalista frisou que "os portugueses podem não ser os melhores do mundo, mas são, com certeza, capazes de coisas extraordinárias". Porém, nas palavras do presidente das Comemorações do Dia de Portugal em 2019 não se 'leram' apenas predicados do povo português. O discurso do jornalista foi igualmente marcado pelas críticas e pelo realce dos perigos resultantes de fenómenos como a corrupção, que minam o ideal de "meritocracia" e instalam o sentimento de que "o jogo está viciado".

"A integração na Europa do euro não correu como queríamos, construímos autoestradas onde não passam carros, traçámos planos grandiosos que nunca se cumpriram, afundámo-nos em dívida e ficámos a um passo da bancarrota. Três vezes - três vezes já - tivemos de pedir auxílio externo em 45 anos de democracia. É demasiado", declarou. João Miguel Tavares referiu-se aos casos em torno do sistema financeiro "num país amnésico, cheio de gente que não sabe de nada, que não viu nada, que não ouviu nada".

Já a propósito da corrupção, considerou João Miguel Tavares que "é um problema real, grave, disseminado, que a justiça é lenta a responder-lhe e que a classe política não se tem empenhado o suficiente a enfrentá-la. A corrupção não é apenas um assalto ao dinheiro que é de todos nós - é colocar cada jovem de Portalegre, de Viseu, de Bragança, mais longe do seu sonho", disse.

Acredita o jornalista que "a falta de esperança e a desigualdade de oportunidades podem dar origem a uma geração de adultos desencantados, incapazes de acreditar num país meritocrático. Esta perda de esperança aparece depois travestida de lucidez e rapidamente se transforma numa forma de cinismo. Achamos que temos de ser pessimistas para sermos lúcidos, que temos de ser desesperançados para sermos realistas, que temos de ser eternamente desconfiados para não sermos comidos por parvos", acentuou.

Em mais um recado dirigido ao conjunto dos políticos, João Miguel Tavares defendeu que "aquilo que melhor distingue as pessoas não é serem de Esquerda ou de Direita, mas a firmeza do seu caráter e a força dos seus princípios".

"Somos muito mais do que fragilidades"

Já no discurso protagonizado pelo Presidente da República foram relembrados os 900 anos de história que fazem de Portugal uma nação única. Mas Marcelo não deixou de admitir que país tem "os seus erros e fragilidades".

O chefe de Estado aproveitou a oportunidade para valorizar o facto de as celebrações terem lugar em Portalegre, o que, no seu entendimento, é uma forma de assumir “o valor de um compromisso acrescido para com estas e estes portugueses que resistem à distância física e que não renunciam a querer ser cidadãos de primeira, como aqueles que cresceram e viverem nas metrópoles, onde estão centrados os poderes públicos".

Para Marcelo, o 10 de Junho tem de ser mais que “um rito de passagem, uma conveniência de ocasião, mais que um pretexto de evocação do passado. Tem de ser um compromisso de futuro para com esta terra e para com esta gente”.

"Ao menos no dia de Portugal admitamos que somos do mais próximo ao distante de cada um dos cidadãos. Somos muito que fragilidades ou erros. E por sermos muitos mais é que tivemos e temos a nossa história de quase 900 anos. Que temos uma comunidade mais inclusiva apesar das suas desigualdades. Que temos o mérito que os outros nos reconhecem mesmo quando nós hesitamos em nele nos reconhecermos. Mas também uma pátria irmã de muitas outras que connosco partilham uma comunidade de língua e sonhos", afirmou.

Sublinhe-se que as comemorações do 10 de Junho continuam esta terça-feira em Cabo Verde. Marcelo Rebelo de Sousa e António Costa chegaram à Cidade da Praia na segunda-feira ao fim do dia, após a cerimónia militar em Portalegre, e ambos discursaram perante a comunidade portuguesa em Cabo Verde, que é composta por cerca de 21 mil pessoas, dispersas por várias ilhas.

"Porventura, os problemas que mais nos afligem no dia a dia da responsabilidade política são aqueles que têm a ver com a sorte dos nossos compatriotas espalhados pelo mundo", afirmou o chefe de Estado,.

Já o primeiro-ministro destacou, perante portugueses residentes em Cabo Verde, as "medidas de aproximação das comunidades portuguesas ao país e à sua vida política" que têm sido adotadas recentemente, como o recenseamento automático dos residentes no estrangeiro.

Esta terça-feira, os dois viajam da capital cabo-verdiana, na ilha de Santiago, para o Mindelo, novamente acompanhados pelo Presidente de Cabo Verde, Jorge Carlos Fonseca, onde terão uma agenda intensa, que começa com uma visita a uma exposição de arte, seguindo-se um passeio a pé e um almoço com autoridades locais numa fragata da Marinha Portuguesa.

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