Meteorologia

  • 19 MARçO 2024
Tempo
18º
MIN 12º MÁX 20º

Cinco anos, cinco temas. Eis o que marcou o nosso país, ainda se lembra?

A propósito do 5º aniversário do Notícias ao Minuto decidimos olhar para trás e recordar aquilo que de mais marcante aconteceu no nosso país.

Cinco anos, cinco temas. Eis o que marcou o nosso país, ainda se lembra?
Notícias ao Minuto

08:30 - 12/08/17 por Patrícia Martins Carvalho

País Especial

Quando o Notícias ao Minuto nasceu, Portugal atravessava o pico da crise. O número de desempregados não parava de aumentar, os apoios sociais caíam a pique e o descontentamento subia alavancado pela revolta de quem perdia o emprego e a casa e via as pensões baixarem drasticamente.

Estávamos então em 2012. Entretanto, passaram cinco anos e muito mudou no país.

A troika já não manda nos desígnios do país, o governo é de Esquerda, Portugal foi campeão europeu, conquistou o Festival da Eurovisão e os portugueses vivem mais ‘desafogados’ e, segundo vários estudos, mais felizes.

Mas lembra-se de tudo o que aconteceu nestes últimos cinco anos? É provável que não. Muito se passou. Como tal, decidimos revisitar o passado recente e selecionar cinco grandes momentos.

Antes de iniciar esta análise dos últimos cinco anos, não podemos deixar de falar em Pedrógão Grande, o grande tema que indelevelmente marca 2017. Se este artigo fosse escrito em 2018, a morte de 64 pessoas pelas chamas seria certamente o tema dominante deste ano, não esquecendo, como é óbvio, o marcante 13 de maio, dia em que os pastorinhos Francisco e Jacinta foram canonizados pelo Papa, em Fátima, e Salvador Sobral trouxe para Portugal, pela primeira vez, o troféu do Festival da Eurovisão da Canção.

Manifestações, violência e os gritos do desespero

No auge da crise económica e financeira que afetou Portugal, milhares e milhares de portugueses saíram à rua para mostrar o seu descontentamento para com as políticas de austeridade aplicadas pelo governo liderado por Pedro Passos Coelho.

A 15 de setembro e a 14 de novembro de 2012, milhares de portugueses marcharam em direção à Assembleia da República, em São Bento. Mas estas foram apenas duas das manifestações de que Portugal foi palco. Outras tantas se realizaram, não só nesse ano, como nos seguintes.

A manifestação de setembro, organizada pelo grupo de cidadãos denominado ‘Que se lixe a troika! Queremos as nossas vidas!’ juntou um milhão de portugueses nas ruas de 30 diferentes cidades em simultâneo, tornando-se na maior ação popular desde o 1.º de maio de 1974.

Notícias ao Minuto

Um mês depois, a greve geral convocada pela CGTP levou também milhares de portugueses para a rua e, em Lisboa, a maior concentração registou-se junto à Assembleia da República.

Os ânimos exaltaram-se com os manifestantes a atirarem pedras e garrafas contra os elementos da PSP que se encontravam a fazer a segurança do Parlamento. Entre palavras de ordem, descontentamento e, em alguns casos, desespero, os manifestantes derrubaram as baias de segurança que os mantinha afastados da escadaria.

Face ao sucedido e após avisos através de megafones, os agentes do Corpo de Intervenção da PSP carregaram nos manifestantes com recurso aos bastões.

Notícias ao Minuto

Os momentos de troca de agressões saldaram-se em nove pessoas detidas e quase 50 feridos. O povo tinha deixado claro que as políticas de austeridade estavam a levá-lo ao desespero.

Ainda a ‘poeira’ não tinha baixado e já surgia nova polémica relacionada com a manifestação. A PSP pediu aos jornalistas da RTP para ter acesso às imagens em bruto do protesto de forma a facilitar a identificação dos manifestantes desordeiros.

A PSP negou que tenha pedido para ficar com as imagens, mas confirmou que alguns elementos haviam visionado as imagens na presença de um jornalista da RTP.

Nesta senda, o então diretor de informação da televisão pública demitiu-se. Nuno Santos garantiu que as imagens não tinham saído dos estúdios, mas não foi capaz de pôr cobro à acusação de que a polícia não teria visto as mesmas, especialmente depois da confirmação feita pela própria PSP.

Posteriormente, um inquérito interno da RTP concluiu que Nuno Santos tinha mesmo confirmado a visualização dos chamados brutos, as imagens recolhidas que não sofrem edição.

A morte de seis estudantes que trouxe a praxe académica para a discussão

Notícias ao Minuto

Findo o verão, acreditou-se que a notícia mais marcante de 2013 seria a destruição de 145.385 hectares de floresta devido aos incêndios que mataram ainda oito bombeiros e um autarca.

Porém, em dezembro chegou a notícia que marcaria as últimas semanas do ano e os próximos anos letivos. Falamos, claro, da tragédia do Meco que tirou a vida a seis estudantes da Universidade Lusófona na noite de 15 de dezembro.

As vítimas tinham ido passar o fim de semana ao Meco para atividades relacionadas com a praxe académica. No dia 15, à noite, encontravam-se na praia do Moinho de Baixo em Sesimbra, distrito de Setúbal, junto ao mar, numa altura em que este estava agitado. Uma onda grande e forte acabou por arrastá-los e roubar-lhes a vida.

João Gouveia, o Dux, foi o único que sobreviveu, o que levantou suspeitas em relação à responsabilidade que o jovem teria tido na morte dos seis caloiros.

Nas semanas que se seguiram muito se falou sobre o caso. Uma vizinha da casa onde os estudantes estavam instalados garantiu tê-los visto a rastejar na terra com pedras presas nos tornozelos no dia em que a tragédia ocorreu.

As praxes académicas saltaram assim para a discussão pública com pessoas a defenderem a prática e outros a criticarem-na.

Sete meses depois o caso foi arquivado com o Ministério Público a considerar ter-se tratado de um acidente e não de um ato criminoso.

Os pais dos seis jovens apresentaram uma queixa-crime contra o Dux, acusando-o de não ter contado a verdade sobre o que aconteceu naquela fatídica noite. Contudo, o processo foi arquivado pelo Tribunal de Setúbal com o Tribunal da Relação de Évora a confirmar a decisão já em janeiro do ano passado.

Para que a morte destas quatro raparigas e dois rapazes não fosse esquecida foi colocado um memorial em sua homenagem na praia onde morreram.

José Sócrates detido. Nunca tal tinha acontecido em Portugal

Notícias ao Minuto

Nunca antes tinha acontecido na história da democracia portuguesa: um ex-primeiro-ministro português era detido. Falamos de José Sócrates, cuja detenção foi o acontecimento que marcou o ano de 2014 e que, volvidos três anos, continua a dar que falar.

O antigo líder do PS foi detido no dia 21 de novembro de 2014, pelas 23h10, quando desembarcou no aeroporto de Lisboa vindo de Paris. Quatro dias depois era decretada a medida de coação a aplicar: prisão preventiva, a mais gravosa, que foi cumprida no Estabelecimento Prisional de Évora onde Sócrates recebeu a visita de ilustres socialistas, como foi o caso de Mário Soares e António Costa.

Além de Sócrates, também Carlos Santos Silva – arguido e melhor amigo do ex-primeiro-ministro ficou detido a aguardar julgamento. Já João Perna, ex-motorista de Sócrates, ficou em prisão domiciliária.

Na origem das detenções estão suspeitas de crimes de corrupção, fraude fiscal qualificada e branqueamento de capitais.

Seis dias depois, Sócrates reagiu, descrevendo como “absurdas, injustas e infundamentadas” as acusações que lhe eram imputadas.

A verdade é que volvidos três anos, a Procuradoria-Geral da República já prorrogou por seis vezes o prazo para o fim do inquérito da Operação Marquês e, até ver, não há ainda a acusação por parte do Ministério Público.

Sócrates, recorde-se, está indiciado pela prática dos crimes de corrupção, fraude fiscal qualificada e branqueamento de capitais. O processo investiga crimes económico-financeiros e conta com um total de 28 arguidos, dos quais nove são pessoas coletivas. Quanto aos arguidos mais conhecidos contam-se Armando Vara (antigo ministro socialista), Joaquim Barroca (grupo Lena), Paulo Lalanda de Castro (grupo Octapharma), Ricardo Salgado (ex-presidente do BES), Henrique Granadeiro e Zeinal Bava (ex-administradores da PT), Sofia Fava (ex-mulher de Sócrates), entre outros.

"Não me deixe morrer". O pedido que fez o ministro corar (ou não)

Em 2015, o país parava e os deputados coravam com o pedido emocionado de José Carlos Saldanha, um homem infetado com o vírus da Hepatite C. A 4 de fevereiro, José Carlos dirigiu-se ao Parlamento onde assistiu à audição do então ministro da Saúde, Paulo Macedo (atual presidente da Caixa Geral de Depósitos), e sem que nada o fizesse prever interrompeu os trabalhos. “Não me deixe morrer. Eu quero viver”, pediu, combalido, ao ministro. Presentes estavam também o filho de uma mulher que havia morrido à espera que o tratamento inovador para a Hepatite C chegasse a Portugal e o filho de outra mulher que estava internada.

Notícias ao Minuto

No centro de toda a polémica estava o fármaco Sofosbuvir, recentemente aprovado na União Europeia, mas que ainda não havia chegado a Portugal porque o laboratório farmacêutico pedia, nas palavras de Paulo Macedo, um “preço imoral”.

As negociações pareciam não chegar a um consenso, mas a intervenção de José Carlos Saldanha parece ter mudado tudo, pois no dia seguinte era anunciado o acordo entre o Ministério da Saúde e o laboratório responsável pelo fármaco que passou a ser comparticipado a 100% pelo Estado.

No final do ano, 11 meses depois das palavras que emocionaram e revoltaram Portugal, mais de cinco mil tratamentos haviam sido iniciados, dos quais 683 concluídos. Destes, 651 alcançaram a cura, mas o mesmo não se verificou em 28 pacientes.

Comandos: Ser recrutado não é para todos e recrutar também já não é

O ano passado ficou marcado por vários acontecimentos significativos. Mais uma vez, os incêndios estiveram na ordem do dia – recorde-se que três pessoas morreram na Madeira na sequência de um violento incêndio que teve origem criminosa. No entanto, escolhemos destacar a morte de dois jovens de 20 anos durante os treinos do 127.º curso de Comandos do Exército. Os recrutas – Hugo Abreu e Dylan Silva – morreram em setembro durante os treinos no campo de tiro de Alcochete, no distrito de Setúbal. O primeiro perdeu a vida no dia 4 de setembro vítima de um “golpe de calor”. O segundo morreu uma semana depois, a 10 de setembro, na sequência de uma falência hepática.

O Ministério Público já acusou 19 militares que considera terem tido responsabilidade na morte dos dois recrutas por terem, alegadamente, cometido os crimes de abuso de autoridade e ofensas à integridade física agravadas. Entre os acusados contam-se um médico, um enfermeiro, vários instrutores do curso de Comandos e ainda os seus superiores hierárquicos.

Os arguidos são acusados, entre outras coisas, de terem privado os instruendos de beber água num dia em que as temperaturas estavam bastante elevadas, tendo-os levado à exaustão.

Notícias ao Minuto

De acordo com o advogado da família de Hugo Abreu, Ricardo Sá Fernandes, os arguidos “criaram um ambiente de pânico e sofrimento físico e psicológico nos ofendidos, sujeitando-os a tratamento não compatível com a natureza humana”.

O 128.º curso já arrancou com uma nova equipa de instrutores. Nenhum dos instrutores do curso anterior dará formação, segundo a ordem dada pelo Chefe do Estado Maior do Exército, o general Rovisco Duarte. Mas há mais alterações que foram recomendadas – e acatadas – pela Inspeção Técnica Extraordinária realizada ao 127.º curso.

Desta forma, o Exército reforçou o sistema de informações clínicas dos instruendos para garantir que dispõe de todos os dados clínicos sobre os candidatos, sendo realizados mais exames para despistar qualquer dúvida sobre o estado de saúde dos recrutas.

Também o número de médicos presentes no curso aumentou, passando agora a ser quatro e os instrutores receberam formação específica sobre fisiologia do esforço. 

Recomendados para si

;
Campo obrigatório