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Situação que se vive no país "é muito inquietante"

A situação que se vive na Turquia "é muito inquietante", lamenta o músico turco-belga Emre Gültekin, que atuou no Festival Músicas do Mundo, em Sines.

Situação que se vive no país "é muito inquietante"
Notícias ao Minuto

18:34 - 29/07/16 por Lusa

Mundo Testemunhos

"É incrível o que se passa, é um país atravessado por muitas tragédias e muitas coisas que ainda não estão resolvidas a nível social, mas temos de esperar para ver o que vai acontecer", disse à Lusa o músico que vive na Bélgica, onde nasceu, mas tem familiares na Turquia.

O regime de Recep Tayyip Erdogan tem perseguido "jornalistas, universitários, juízes, militares" e, portanto, não será de estranhar se os músicos e outros artistas se juntarem ao rol de detidos ou proscritos, antecipa. "É uma purga", descreve.

"Estão a passar-se coisas incríveis e assustadoras, a suspensão da Convenção Europeia dos Direitos Humanos, a possibilidade de reintroduzir a pena de morte...", aponta.

O futuro vai depender de quem dirige o país e da visão que tiver a longo prazo, considera Emre, estimando, porém, que "as clivagens na sociedade turca são muito grandes", entre apoiantes e opositores do regime, e será "complicado resolver as coisas democraticamente".

Questionado sobre a teoria de que o próprio regime terá tido influência na tentativa de golpe realizada no passado dia 15, Emre responde com ironia. "Na Turquia, as pessoas dizem 'yok, yok', que quer dizer 'não há nada'. Ou seja, tudo é possível", admite.

"A geopolítica ultrapassa-nos. Enquanto músicos, tentamos alhear-nos o mais possível, também para nos protegermos, doutra forma ficamos loucos", acredita.

Emre Gültekin atuou no Festival Músicas do Mundo acompanhado pelo músico arménio Vardan Hovanissian, num duo politicamente improvável. Os músicos conheceram-se em Bruxelas, onde vivem, e já trabalham juntos há 20 anos.

"Nunca penso se ele é turco ou não. A nacionalidade não interessa quando se faz amizade. A música aproxima-nos", valoriza Vardan, repetente no Festival Músicas do Mundo.

O duo quis gravar um disco que mostrasse que a música é superior às crises políticas e pode ser um "símbolo de reconciliação".

Para tal, associaram-se à organização belga Muziekpublique, para assinalar o centenário do genocídio arménio com um CD, que sairá na Turquia nos próximos dias, "para que o genocídio não se repita, seja onde for", frisa Vardan.

O duo não arrisca previsões sobre o acolhimento ao disco pelo público, mas o certo é que ainda não foi convidado a tocar na Turquia, nem na Arménia.

"É um tema muito, muito sensível na Turquia", justifica Emre. "A memória é muito forte, espero que um dia a Turquia reconheça o genocídio e aí as relações entre os dois países mudarão", acredita Vardan, frisando: "se formos convidados, atuaremos com prazer".

A resolução do conflito turco-arménio "não é apenas um problema de gerações, há um bloqueio político, as fronteiras entre os dois países estão fechadas há muito tempo, há um estado de psicose na Turquia sobre o tema do genocídio", descreve Emre.

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