"A Indonésia precisa de muito gado. Importa mais de 600 mil cabeças por ano. Se conseguirmos fornecer um terço desse montante, estaremos satisfeitos. Acredito que, com o apoio que temos do governo e com a fé que os investidores têm na nossa empresa, isso é bem possível", disse à Lusa o empresário de descendência taiwanesa.
O quarto país mais populoso do mundo, com cerca de 250 milhões de habitantes, é também o maior país muçulmano, o que agrava o problema da falta de carne bovina, dado que o Islão proíbe o consumo de carne de porco.
"É um negócio que possui um potencial de crescimento enorme e é uma ótima oportunidade pelo preço da carne, pelo momento que a Indonésia está a passar e é por isso que os investidores acreditam tanto neste projeto", destacou o filho de pecuários no Brasil.
Desde que surgiu a ideia, em 2010, a empresa de James Huang, a Asiabeef, recolheu "10 milhões de dólares para este negócio" (9,2 milhões de euros) junto de "investidores privados asiáticos", mas a ideia é chegar aos 100 milhões de dólares (91,98 milhões de euros).
Em dezembro, a empresa iniciou o processo de criação de gado numa fazenda com 5000 hectares em Sumba, uma ilha na Indonésia Oriental.
"A terra é do governo legalmente dizendo, mas as comunidades locais têm direitos tradicionais. "Como eles acreditam que a terra é deles, temos de dar à comunidade muitos benefícios para eles aceitarem a empresa", contou, acrescentando que neste momento a Asiabeef está a apoiar cerca de 500 famílias.
Esse apoio, exemplificou, passa por formação sobre técnicas pecuárias, remédios e vacinas, com vista a "desenvolver a pecuária local" e, consequentemente, "a qualidade de vida das pessoas".
"É claro que nós buscamos o lucro, mas também é bom devolver algo à comunidade. Precisamos muito do suporte deles, pela questão da segurança local, pela questão dos trabalhadores", realçou.
A Indonésia, "como país em subdesenvolvimento", descreveu, "ainda há uma corrupção muito intrínseca no governo", logo, há funcionários públicos que não fazem as suas obrigações ou demoram a fazê-las, "esperando um apoio financeiro", para além de existir bastante burocracia.
O processo de licenciamento "demorou dois anos" quando poderia "ser resolvido em seis meses", exemplificou, frisando que, "como brasileiro, é bem desafiador começar uma empresa do zero aqui".
Rejeitar a corrupção é também uma forma de defender a "imagem da empresa, porque a partir do momento em que você se torna um ATM [caixa automática], será sempre visto como um ATM", vincou.
Neste caso, o processo foi facilitado por ter o apoio do Presidente indonésio, Joko Widodo, a quem James Huang tem ajudado a estabelecer "políticas para tornar o país autossuficiente" neste setor.
A Asiabeef tem também investido em infraestruturas, como estradas, porque a "logística na Indonésia é bem complicada" e as promessas do executivo para melhorar os acessos ainda não saíram do papel.
"Precisamos importar gado da Austrália para criar essa primeira cria, mas a nossa ideia é também cruzá-lo com gado local, porque o gado local já está adaptado", disse.
Este negócio surge numa altura em que o Brasil luta contra a proibição de exportar carne bovina para a Indonésia, um embargo em vigor desde 2009 devido aos critérios indonésios relativos à febre aftosa, que impedem todo o país de exportar para aquele mercado asiático, apesar de a doença estar confinada a uma região brasileira.
Na visão de alguns, "é uma questão bem difícil", porque há informações de que "existe um ?lobby' muito grande e interesses do governo da Austrália e da associação de produtores da Austrália para manter este banimento", porque hoje em dia "a Indonésia praticamente importa só da Austrália", referiu o empresário.
Para além da área da pecuária, o grupo tem uma concessão de um "bloco de petróleo" no país, acrescentou o brasileiro, que não perde uma oportunidade para falar português e que sente saudades da cultura e da gastronomia do país onde nasceu.
"A Indonésia tem muitas oportunidades hoje em dia. É muito mais subdesenvolvida em relação aos países ocidentais. Mesmo comparando a Indonésia ao Brasil, a Indonésia está, pelo menos, uma ou duas décadas atrasada em termos de prestação de serviços, de produção, educação e até política", comentou.