Apesar de ser um país laico, a intolerância por motivos de crença ganhou destaque nos último mês, principalmente depois de uma menina de 11 anos ter sido atingida por uma pedrada, no dia 14 de junho, ao sair de um culto de candomblé, no Rio de Janeiro.
"Foi um caso emblemático porque ocorreu na rua, com uma criança" e "acende a luz vermelha de todos os segmentos religiosos", afirmou à Lusa o responsável pela área de Diversidade Religiosa e Direitos Humanos e coordenador na SDH, Alexandre Brasil Carvalho da Fonseca.
O Disque 100 registou, entre 2011 e 2014, 504 denúncias de discriminação religiosa, sendo 2013 o ano com maior número de chamadas (231). O coordenador na SDH realçou que a central de atendimento não reflete o número total de casos, já que nem todos os agredidos se queixam.
A perceção, segundo Carvalho da Fonseca, é a de que o número de casos de intolerância religiosa está a aumentar. Um estudo do instituto norte-americano Pew Research Center classificou o Brasil, em 2007, como um país de baixa hostilidade social envolvendo religiões, com um índice de 0,7. Seis anos depois, o índice passou para 3,7, considerado alto.
O coordenador afirmou que, apesar do aumento, a intolerância no Brasil é baixa se comparada globalmente. No estudo do Pew Research Center, que analisa os 25 países mais populosos do mundo, os brasileiros passaram do 2º lugar mais tolerante para o 7º entre 2007 e 2013.
Os dados do Disque 100, apesar de insuficientes quantitativamente, demonstram resultados qualitativos relevantes. Um deles é a natureza da discriminação religiosa, que ocorre em 39% dos casos no ambiente familiar ou proveniente de um vizinho.
As estatísticas também demonstram que pessoas de diferentes religiões denunciam intolerância, mas o grupo que mais sofre violações é o de religiões de matriz africana. Quem professa crenças afrobrasileiras recebe mais agressões (37%), seguido de evangélicos (27%), espíritas (13%), católicos (10%), ateus (4%), judeus (3%) e muçulmanos (2%).
"É uma questão que exige busca de mediações e educação em direitos humanos para se repensar o espaço e o direito do outro. É importante que a polícia investigue, que não considere algo menor", disse Carvalho da Fonseca. A discriminação por motivo de religião é um crime previsto.
O coordenador realçou que a SDH tem o objetivo de incrementar o combate à intolerância religiosa, melhorando a análise dos dados, a tipificação das diferentes violações de direito, a construção de um relatório sobre o tema e o estabelecimento de uma rede com organizações da sociedade civil e comitês estaduais e municipais.