"O meu grande receio é que se esse conflito durar mais tempo, mais três, quatro, cinco anos, aquele movimento vai ganhar uma reivindicação política e agora tem que se impedir para que chegue a essa fase", disse o presidente do MDM, Lutero Simango, à margem de um encontro entre partidos políticos e líderes religiosos, em Maputo.
"Por isso sou daqueles indivíduos que defende que devemos encontrar uma janela para um diálogo e também aqui se pede muito para que a nossa inteligência nacional procure saber a motivação desses indivíduos. Procure saber quem é que os está a financiar e quem garante a retaguarda segura, para podermos ter essa janela de diálogo", acrescentou.
Desde outubro de 2017, a província de Cabo Delgado, rica em gás, enfrenta uma rebelião armada com ataques reclamados por movimentos associados ao grupo extremista Estado Islâmico.
Mais de 57 mil pessoas foram deslocadas desde 20 de julho na província moçambicana de Cabo Delgado após o recrudescimento de ataques de extremistas, segundo dados da Organização Internacional para as Migrações (OIM).
De acordo com o mais recente relatório da OIM, com dados de 20 de julho a 03 de agosto, "a escalada de ataques e o crescente medo de violência" por parte de grupos armados não estatais nos distritos de Muidumbe, Ancuabe e Chiúre, levaram ao deslocamento de aproximadamente 57.034 pessoas, num total de 13.343 famílias.
Em declarações aos jornalistas, o líder do MDM pediu ao Governo para melhorar condições de vida das populações de Cabo Delgado.
"É preciso criar condições económicas para as populações da província de Cabo Delgado, as condições sociais. Qualquer movimento de guerrilha sobrevive quando tem apoio da população local. E para impedir para que haja apoio dessa população local é preciso que se crie condições adequadas para que essa população possa sobreviver e tenha as mínimas condições", acrescentou.
O MDM, que governa apenas o município da Beira, é a quarta força com assento parlamentar (oito deputados), atrás da Resistência Nacional Moçambicana, Renamo (28 deputados), do partido Povo Optimista para o Desenvolvimento de Moçambique, Podemos (43 deputados) e da Frente de Libertação de Moçambique (Frelimo), no poder desde 1975, com 171.
O ministro da Defesa Nacional admitiu no final de julho preocupação com a onda de novos ataques em Cabo Delgado, adiantando que as forças de defesa estão no terreno a perseguir os rebeldes armados.
"Como força de segurança, não estamos satisfeitos com o estado atual, tendo em conta que os terroristas nos últimos dias tiveram acesso às zonas mais distantes do centro de gravidade que nós assinalámos", disse Cristóvão Chume, aos jornalistas.
Só em 2024, pelo menos 349 pessoas morreram em ataques de grupos extremistas islâmicos na província de Cabo Delgado, um aumento de 36% face ao ano anterior, indicam dados divulgados recentemente pelo Centro de Estudos Estratégicos de África, uma instituição académica do Departamento de Defesa do Governo norte-americano que analisa conflitos em África.
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