Os tumultos registados entre 28 e 30 de julho, em Luanda e no interior de Angola - que resultaram em pelo menos 30 mortos, mais de 200 feridos e de 1.500 detenções -, na sequência da greve convocada pelos taxistas, estiveram hoje em debate no parlamento, por proposta dos grupos parlamentares do MPLA (poder) e UNITA (oposição).
Antes, a Assembleia Nacional cumpriu um minuto de silêncio em memória das vítimas, a pedido da presidente, Carolina Cerqueira.
No debate, o primeiro vice-presidente do grupo parlamentar do Movimento Popular de Libertação de Angola (MPLA, no poder desde 1975), lamentou os "trágicos episódios" de finais de julho, referindo que cada morte representa uma perda irreparável para as famílias.
"Nenhum angolano deveria ver a sua existência interrompida por atos de violência que nada constrói, mas tudo destrói (...). Estamos aqui não apenas para debater, mas para reafirmar com clareza e convicção que Angola não aceitará a violência e a desordem como instrumentos de mudança", afirmou Virgílio Tyova.
"O nosso caminho será sempre o do diálogo, da lei e do respeito pela vida. É, portanto, justo e imperativo reconhecer e elogiar o papel das forças de segurança, em particular da polícia nacional", sinalizou.
Para Virgílio Tchova, Angola construiu com muito sacrifício uma ordem constitucional que dá voz a todos e observou que quem quer protestar "tem canais para o fazer". "Quem recorre à violência atira irmãos contra irmãos e rasga o tecido da nossa convivência", acrescentou.
Já Álvaro Chikwamanga, deputado da União Nacional para a Independência Total de Angola (UNITA, maior partido na oposição), considerou que os acontecimentos resultaram de "vários fatores críticos", nomeadamente a violação sistemática da Constituição, "mau serviço prestado pela comunicação social pública, falha na segurança do Estado, e a fome e pobreza".
Enumerou também o êxodo populacional para as grandes cidades, "a reação tardia" do Presidente angolano, João Lourenço, e a análise superficial sobre os reais fatores de instabilidade política e social no país como outros fatores que estimularam os protestos.
"A reação tardia do Presidente da República, que não se pronunciou tempestivamente ante a gravidade daquela sublevação, isto pareceu indiferença ante a ocorrência e encorajou a polícia a atirar à queima-roupa contra civis indefesos", referiu.
Pelo Partido de Renovação Social (PRS, oposição), o deputado Benedito Daniel condenou os episódios, observando que o seu partido não é contra a greve, mas que esse direito que deve ser exercido nos termos da lei.
"Faltou diálogo entre o Governo e as associações dos taxistas, a greve tornou-se numa convulsão social (...). É preciso solucionar os problemas da fome de forma pacífica, com diálogo e proximidade", defendeu.
A deputada Florbela Malaquias, presidente do Partido Humanista de Angola (PHA, oposição), apelou aos "incitadores da violência" a absterem-se de manipular o legítimo descontentamento popular para fins alheios ao interesse nacional. A "agitação fabricada e a instigação ao confronto (...) "não constroem democracia, destroem vidas, património e confiança social", afirmou, exortando ainda a polícia a respeitar os "princípios da legalidade, necessidade, proporcionalidade e humanidade."
O deputado da UNITA Abel Sapinãla acusou o Presidente angolano de ser "o culpado" pelos atos de vandalismo, considerando que "tem falhado redondamente na sua governação". "Se existe um culpado da situação (...) é o Presidente, João Lourenço, não vale a pena mentir", atirou.
Já a deputada do MPLA Elizandra Gourgel disse que os acontecimentos "não representam" o que os jovens querem para o país: "Nós queremos uma Angola que mantenha o calar das armas, com estabilidade política e social e economicamente desenvolvida".
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