Futuro da Estação Central de Maputo é cada vez mais ser museu

Desde há mais de cem anos que a emblemática Estação Central de Maputo marca o ritmo da capital moçambicana, mas o futuro passa cada vez mais por ser museu e menos por sítio onde apenas se apanha o comboio.

Independências: Mais de cem anos depois o futuro da estação de Maputo é cada vez mais ser museu

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Lusa
19/06/2025 06:31 ‧ há 4 horas por Lusa

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Moçambique

Essa tarefa vai sendo assumida pelo terminal construído ao lado da antiga Estação Central de Lourenço Marques, capital que há 50 anos passou a designar-se Maputo, que chega completamente preservada aos dias de hoje, local de passagem obrigatória para qualquer turista de visita a Moçambique.

 

Um espaço que há mais de um século vê os comboios a chegar e a partir, quase metade desse tempo num país já independente - proclamada em 25 de junho de 1975 -, mas que decidiu preservar a arquitetura histórica do emblemática estação na baixa da cidade, tratada com todos os cuidados pela Caminhos-de-Ferro de Moçambique (CFM), e já considerada no passado a terceira mais bonita do mundo (revista Times, 2016).

"O CFM faz manutenções rotineiras, mais ou menos de 10 em 10 anos faz sempre intervenções de grande vulto. Para salvaguardar o edifício principal houve uma expansão, onde já se alivia a estação central", explica à Lusa o engenheiro civil Samuel Muzime, assessor do conselho de administração da empresa pública.

Isto porque o terminal ferroviário de passageiros, contíguo ao edifício da Estação Central, triplicou em 2024 a sua capacidade de movimento, para 75 mil passageiros por dia, que deixam assim de ter de passar pela área histórica da estação, com o CFM a investir mais de 80 milhões de euros.

"Essa expansão um dia vai tornar o edifício principal um museu. Esse é que é o trabalho que tem sido feito", acrescenta Muzime, sublinhando que essa missão já leva 10 anos, precisamente com a criação, no interior da estação principal, do museu ferroviário, por onde passaram já mais 150 mil visitantes, 20 mil dos quais só no ano passado, essencialmente turistas e crianças.

"Esse é o objetivo do futuro, para que o edifício fique mais preservado", acrescenta, sobre o edifício da estação tornado museu.

A estação ferroviária de Maputo foi projetada em 1905 e as obras de construção arrancaram três anos depois, sendo inaugurada em 19 de março de 1910. Contudo, os trabalhos só foram dados por concluídos em 1916, com alterações que levaram à arquitetura que ainda hoje apresenta e que substituiu a primeira estação, de madeira e zinco, construída ao lado.

Carlos Rodrigues, 63 anos, representa a terceira geração da mesma família a trabalhar no CFM - depois do pai e do avô -, para onde entrou para a área de sinalização e telecomunicações, em 1983. Em 2006, quando já se encarregava da segurança na circulação ferroviária, foi para a reforma, a qual durou apenas dois anos, acabando por voltar, para ajudar a preparar a abertura do museu, dentro da estação, no local onde há mais de cem anos existia a anterior.

"Tivemos um trabalho de preparação de restauração dos objetos, do acervo. E abriu-se em 11 de junho de 2015", recorda Carlos Rodrigues, hoje guia do museu, função em que explica ao detalhe a parte técnica, começando pelas locomotivas a vapor ali preservadas, e a história de 130 anos de comboios em Moçambique.

Os mais novos, conta, "gostam mais de ver a locomotiva de perto", de 1914, estrela da coleção, ou uma carroça de bombeiros construída pelos CFM, também centenária, que ainda era puxada por animais. Rádios morse, maquinaria centenária da manutenção das locomotivas a vapor, trilhos, entre centenas de peças históricas integram atualmente o espólio do museu.

"Maioritariamente somos visitados por turistas europeus, asiáticos, americanos também aparecem", conta Rodrigues, sublinhando a habitual azáfama das visitas escolares ao museu, com a obrigatória passagem pelo exterior: a estação propriamente dita.

"É por essa razão que aqueles números [mais de 150 mil visitas em 10 anos] que eu dei não são reais, porque há muitos turistas que visitam o edifício (...) sem entrarem no espaço do museu, para visitar a exposição fixa", sublinha, garantindo que só o edifício "atrai muita gente", pela sua beleza arquitetónica.

Conforme descrição da época, recordada pelo CFM, o seu estilo é "idêntico ao da estação dos caminhos-de-ferro de Joanesburgo", na vizinha África do Sul, com a diferença de que a da então Lourenço Marques tinha um "frontispício mais vistoso e, no interior, uma passagem comunicando com a gare da estação".

Para "complemento da sua elegância e bom gosto", o imponente edifício, de traça conservada ao detalhe, até à madeira das portas, está adornada com três cúpulas, uma das quais de grandes dimensões, que dá forma à estação, com uma frente de 51 metros.

Essa cúpula central até tem sido erroneamente atribuída ao francês Gustave Eiffel, como explica o CFM: "Na verdade, este engenheiro construiu muito e há tendência de lhe atribuir de tudo um pouco, não importando o que quer que seja, mas, no nosso caso, há a prova documental de que a mesma foi executada na África do Sul".

Já o museu propriamente dito tem como principal missão preservar, valorizar e divulgar a história de 130 anos dos caminhos-de-ferro em Moçambique, iniciada com a então ligação ferroviária entre a cidade de Lourenço Marques e o Transvaal, África do Sul, em 08 de julho de 1895.

Uma história que o guia Carlos Rodrigues sabe de cor, tanto como a importância que atribui ao trabalho que tem e que o foi tirar da reforma: "Um grande orgulho, não parei de aprender e continuo a transmitir as histórias que eu conheço. Faço com muito gosto".

Leia Também: Donald Trump felicita Moçambique pelos "50 anos de independência"

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