A decisão representa um novo episódio nas tensões crescentes entre os aliados tradicionais das ilhas do Pacífico, como a Nova Zelândia e a Austrália, e a China, que tem procurado alargar a influência na região.
As Ilhas Cook, que têm um governo autónomo mas partilham a política externa, defesa e nacionalidade com a Nova Zelândia, não vão receber novos financiamentos de Wellington "até que a relação melhore", afirmou um porta-voz do ministro dos Negócios Estrangeiros neozelandês Winston Peters, citado pela Associated Press.
A suspensão do financiamento, no valor de 18,2 milhões de dólares neozelandeses (quase 10 milhões de euros), foi inicialmente identificada por um órgão de comunicação local das Ilhas Cook, ao ser mencionada de forma breve num documento orçamental do Governo da Nova Zelândia.
A medida surge numa altura sensível, em que o primeiro-ministro neozelandês, Christopher Luxon, realiza a sua primeira visita oficial à China.
Luxon deve reunir-se esta semana com o Presidente chinês, Xi Jinping.
O Governo chinês defendeu anteriormente a parceria estratégica com as Ilhas Cook, assegurando, em fevereiro, que os acordos não visam hostilizar a Nova Zelândia.
Um relatório apresentado esta semana no parlamento das Ilhas Cook pela Comissão de Contas Públicas expressa preocupação com a redução de 10 milhões de dólares neozelandeses (5,2 milhões de euros) no orçamento do Governo, constituindo a primeira menção oficial ao congelamento do apoio financeiro.
O montante estava destinado a setores essenciais, como saúde, educação e turismo, sendo sujeito a auditorias por parte de Wellington.
Este apoio insere-se num pacote de 200 milhões de dólares neozelandeses (104 milhões de euros) atribuídos às Ilhas Cook nos últimos três anos, ao abrigo do Acordo de Livre Associação entre os dois países, em vigor há quase seis décadas. Este acordo exige que os líderes das Ilhas Cook consultem Wellington sobre quaisquer entendimentos com outros países que possam afetar os interesses da Nova Zelândia.
Os acordos assinados com a China representam o primeiro grande teste a esse princípio.
Com uma população de cerca de 15.000 pessoas, as Ilhas Cook possuem uma extensa e valiosa zona económica exclusiva. A administração local tem explorado a possibilidade de desenvolver atividades de mineração em alto-mar, o que agravou as preocupações em Wellington quando foi revelado o conteúdo dos entendimentos com Pequim, assinados em fevereiro.
Apesar de não preverem cooperação em matéria de segurança, os acordos contemplam financiamento chinês para projetos de infraestruturas e bolsas de estudo. Nem todos os documentos assinados foram tornados públicos.
O porta-voz neozelandês Winston Peters afirmou hoje que os entendimentos revelam "uma divergência de interpretações" quanto ao que exige a relação especial de associação livre, sublinhando a necessidade de consulta para proteger interesses comuns.
"O alcance e conteúdo dos acordos e a ausência de consulta prévia a Wellington motivaram a revisão do financiamento às Ilhas Cook", acrescentou.
"Assim, a Nova Zelândia suspendeu estes pagamentos e não considerará novos apoios significativos até que o Governo das Ilhas Cook tome medidas concretas para reparar a relação e restaurar a confiança", apontou.
A assinatura dos acordos motivou protestos em Avarua, capital das Ilhas Cook, liderados por deputados da oposição.
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