"Os civis continuam a pagar o preço mais alto", enquanto o conflito "se tornou cada vez mais complexo e brutal", afirmou o presidente desta Missão Internacional Independente de Investigação, Mohamed Chande Othman, numa conferência de imprensa em Genebra, Suíça.
"O que está a acontecer no Sudão não é apenas uma crise humanitária. É uma crise da humanidade", acrescentou Mona Rishmawi, também membro da missão, citando a amplitude da violência sexual, os ataques contra os trabalhadores humanitários e o uso da fome como arma de guerra.
Desde abril de 2023, o Sudão está dilacerado por uma sangrenta guerra civil que opõe o exército regular sudanês (SAF, na sigla em inglês) às Forças de Apoio Rápido (RSF, na sigla em inglês) e que causou dezenas de milhares de mortos, deslocou 13 milhões de pessoas, mergulhou parte do país na fome e favoreceu uma epidemia de cólera.
Ambas as partes recorrem cada vez mais a armas pesadas em zonas povoadas, salienta a missão num comunicado.
"A dimensão do sofrimento humano continua a agravar-se", afirma o presidente desta missão, criada em 2022 pelo Conselho dos Direitos Humanos da ONU.
"Enquanto as bombas e as balas fazem as manchetes dos jornais, uma guerra mais silenciosa, mas talvez mais brutal, é travada contra o corpo das mulheres, das raparigas e das comunidades marginalizadas", porque "a violência sexual se generalizou e se tornou uma arma de guerra sistemática", salientou Rishmawi perante os jornalistas.
"As mulheres e as raparigas, especialmente nas zonas controladas pelas RSF, são vítimas de violações, violações coletivas, raptos e escravatura", denunciou.
Além disso, ambos os atores do conflito instrumentalizam a ajuda humanitária, segundo a missão.
"As SAF impõem restrições burocráticas, enquanto as RSF saquearam e bloquearam a ajuda humanitária", acrescentou.
Segundo Rishmawi, "isso faz parte de uma estratégia de guerra" e "é particularmente evidente no campo de deslocados de Zamzam, onde crianças morrem de fome devido a um bloqueio total da ajuda".
Apesar da recusa do Sudão em permitir o acesso ao interior do país, a missão continua o seu trabalho de investigação, que visa, nomeadamente, elaborar uma lista confidencial dos autores de abusos.
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