"A realidade desta ameaça, mesmo que se baseie num horizonte temporal longo e não recorra a ações violentas, coloca o risco de um ataque ao tecido associativo e às instituições republicanas (...) e, mais amplamente, à coesão nacional", indica o relatório, cujas linhas gerais foram divulgadas pelo jornal francês Le Figaro.
O relatório sobre o movimento Irmandade Muçulmana, que sucedeu à união de organizações islâmicas de França (UOIF) em 2017, vai estar no centro de uma reunião do Conselho de Defesa presidido pelo chefe de Estado francês, Emmanuel Macron, na quarta-feira.
Em França, o movimento "estabeleceu uma estrutura sólida, mas o islamismo político está a propagar-se principalmente a nível local", sublinha o relatório, que considera que a propagação deste islamismo "a partir de baixo" constitui "uma ameaça a curto/médio prazo".
O relatório de dois funcionários sublinha o "caráter subversivo do projeto promovido pela Irmandade Muçulmana", que trabalha "a longo prazo para obter progressivamente alterações das regras locais ou nacionais", nomeadamente em matéria de laicidade e de igualdade entre homens e mulheres.
Este "islamismo municipal" é suscetível de ter "efeitos crescentes no espaço público e na política local", com "redes que trabalham para virar as comunidades para dentro, chegando a formar ecossistemas islamistas cada vez mais numerosos", refere.
No entanto, os autores acrescentam que "nenhum documento recente demonstra o desejo dos muçulmanos em França de estabelecer um Estado islâmico em França ou de aplicar a lei [islâmica] da 'sharia'".
O relatório sublinha também que a Irmandade Muçulmana, "perdendo influência" no mundo árabe-muçulmano, "concentra a ação na Europa". É por isso que os autores apelam para "a continuação dos esforços de sensibilização já efetuados junto da Comissão Europeia".
Para os autores, "uma ação resoluta e a longo prazo no terreno parece necessária para travar a ascensão do islamismo político".
Consideram também que "ser essencial" acompanhar esta ação de "sensibilização da opinião pública", que deve ser conciliada com "um discurso laico renovado" e "sinais fortes e positivos para a comunidade muçulmana".
Entre estes sinais, mencionam "a aprendizagem do árabe" que "beneficiaria se fosse reposta" e "a posição francesa sobre o conflito israelo-palestiniano".
"Este relatório corrobora os factos reais e vai permitir-nos agir", afirmou a porta-voz do Governo francês, Sophie Primas, nos canais Europe 1 e CNews, referindo-se a "um despertar de toda a população" para o perigo.
O ministro do Interior francês, Bruno Retailleau, denunciou este "islamismo discreto que se propaga tentando infiltrar-se em associações desportivas, culturais, sociais e outras".
"É inaceitável, uma vez que é totalmente incompatível com os princípios da República e com os objetivos de coesão nacional", defendeu Retailleau.
Em 11 de maio, Retailleau confirmou que o relatório seria apresentado numa "versão mais ligeira", já que a publicação na totalidade é classificada como "confidencial para a Defesa".
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