"Ainda não foi tomada uma decisão definitiva sobre a próxima ronda de negociações, e a República Islâmica do Irão está a analisar o tema, tendo em conta as posições contraditórias e a constante mudança de posição da parte norte-americana", declarou o porta-voz do Ministério dos Negócios Estrangeiros iraniano, Ismail Baghaei, à agência de notícias iraniana IRNA.
O Irão e os Estados Unidos iniciaram negociações sobre o programa nuclear de Teerão a 12 de abril, realizaram até agora quatro rondas e Washington indicou a possibilidade de uma nova reunião, este fim de semana, em território europeu.
Nos últimos dias, contudo, têm-se registado divergências crescentes quanto às linhas vermelhas de cada país relativamente ao programa nuclear iraniano: Washington pretende alcançar um compromisso de "enriquecimento zero" de urânio por parte de Teerão, que insiste que nunca aceitará esse limite.
Hoje mesmo, o ministro dos Negócios Estrangeiros iraniano, Abbas Araqchi, reiterou a posição do Irão: "Por muito que o repitam, as nossas posições não mudarão. A nossa posição é clara: prosseguiremos o enriquecimento de urânio".
Outro dos negociadores iranianos insistiu também neste ponto.
"Sobre o 'enriquecimento zero', dissemos desde o início que se essa é a posição deles, é natural que não cheguemos a lado nenhum", disse o vice-ministro dos Negócios Estrangeiros iraniano, Majid Takht Ravanchi, à agência de notícias Mizan.
Ambos reagiram assim às declarações do enviado especial dos Estados Unidos para o Médio Oriente, Steve Witkoff, que assegurou na segunda-feira numa entrevista concedida à estação televisiva ABC que o enriquecimento de urânio por parte de Teerão é uma linha vermelha para Washington.
"Temos uma linha vermelha muito clara: o enriquecimento. Não podemos permitir nem sequer 1% de capacidade de enriquecimento", afirmou o chefe da delegação negocial dos Estados Unidos nas conversações com o Irão, acrescentando: "Penso que nos vamos reunir esta semana na Europa".
Em ocasiões anteriores, Witkoff tinha referido apenas a limitação do programa nuclear iraniano, não o desmantelamento.
Este contraste entre posições surge num contexto de ameaças militares que o Presidente norte-americano, Donald Trump, tem repetido contra o Irão, caso não seja alcançado um acordo, tendo reimposto a chamada "política de pressão máxima" sobre Teerão, depois de ter abandonado o pacto nuclear de 2015.
Esse acordo limitava o nível de enriquecimento de urânio do programa nuclear iraniano em troca do levantamento das sanções económicas impostas ao Irão.
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