"Em relação ao enriquecimento zero [de urânio], dissemos desde o início que, se esta é a posição deles, é natural que não cheguemos a lado nenhum", afirmou o vice-ministro dos Negócios Estrangeiros e negociador do acordo para o programa nuclear iraniano, Majid Takht Ravanchi.
O político afirmou que a posição do Irão "é clara" e que o país tem afirmado repetidamente que o enriquecimento "é uma conquista nacional" iraniana.
O Irão e os EUA reiniciaram negociações para a contenção do programa iraniano a 12 de abril e já realizaram quatro rondas, estando outro encontro agendado para o próximo fim de semana em solo europeu.
Numa entrevista divulgada no domingo pelo canal norte-americano de televisão ABC, o enviado especial dos EUA para o Médio Oriente, Steve Witkoff, disse que o enriquecimento de urânio do Irão é "uma linha vermelha" para Washington.
"Temos uma linha vermelha muito clara: o enriquecimento [de urânio]. Não podemos permitir nem 1% da capacidade de enriquecimento", sublinhou.
Witkoff adiantou que Washington apresentou uma proposta ao Irão na qual, segundo refere, "aborda parte disso sem o desrespeitar".
No entanto, o ministro dos Negócios Estrangeiros iraniano, Abbas Araqchi, negou ter recebido tal proposta e alertou ainda que o Irão não vai abdicar do direito de enriquecer urânio para fins pacíficos.
O Presidente norte-americano, Donald Trump, repetiu ameaças militares contra o Irão caso o país não chegue a acordo e reimpôs a chamada política de "pressão máxima" contra Teerão, depois de abandonar o pacto nuclear de 2015.
As negociações entre os dois países visam concluir um novo acordo para impedir o Irão de adquirir armas nucleares, uma ambição que Teerão sempre negou, em troca do levantamento das sanções que estão a prejudicar a economia iraniana.
Atualmente, o Irão enriquece urânio a 60%, muito acima do limite de 3,67% estabelecido pelo acordo de 2015.
O nível necessário de enriquecimento de urânio para fins militares é de 90%.
Trump tem ameaçado repetidamente lançar ataques aéreos contra o Irão se não for alcançado um acordo.
As autoridades iranianas, por seu lado, já alertaram para a possibilidade de poderem desenvolver uma arma nuclear com o urânio enriquecido a níveis próximos dos usados para armas.
O acordo sobre o programa nuclear do Irão, assinado em 2015 entre Teerão e o chamado grupo 5+1 -- cinco membros do Conselho de Segurança da ONU (EUA, Rússia, China, França e Reino Unido) mais a Alemanha, limitou o enriquecimento de urânio a 3,67% e reduziu a quantidade que podia ficar armazenada para 300 quilogramas.
Este nível é suficiente para as centrais nucleares, mas está muito abaixo dos níveis necessários para criar armas nucleares.
No entanto, em 2018, os Estados Unidos, já sob liderança de Donald Trump, retirara-se unilateralmente do acordo e, depois de várias tentativas sem êxito para reativar a parceria, o Irão foi abandonando todos os limites que tinha relativamente ao programa.
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