"A oposição russa é feita das pessoas que estão dentro do país, não fora", afirmou Volkov, referindo que as infraestruturas da sociedade civil que a equipa de Navalny construiu ainda persistem.
"Sob circunstâncias diferentes, elas vão-se revelar uma força muito importante", indicou o agora diretor político da Fundação Anti-Corrupção. "Os únicos atores que podem trazer democratização à Rússia são os russos que vivem lá dentro".
Não é o seu caso. No ano passado, um mês depois da morte do então líder da oposição russa Alexei Navalny, Volkov foi atacado com um machado à porta da casa onde vive em exílio, na Lituânia.
Durante esta sessão na Conferência Global do Milken Institute, em Los Angeles, Volkov considerou que a perda de Navalny é irreparável porque ele era um líder único e talentoso. No entanto, disse que uma nova geração de líderes vai emergir assim que o presidente Vladimir Putin desaparecer.
"Haverá uma batalha real", antecipou, "mas ninguém poderá voltar a radicalizar o regime". Segundo ele, a ideia de que o sucessor de Putin pode ser pior é ridícula. "Putin está a dar o seu melhor para que ninguém consiga ser pior que ele. Não há sucessor. Essa é a ideia destes regimes".
Volkov salientou que "não se pode dizer que haverá uma revitalização democrática", mas sim muito mais opções e uma normalização da vida política "porque ninguém terá controlo total".
Maria Snegovaya, do Centro de Estudos Estratégicos e Internacionais e Universidade de Georgetown, falou de um horizonte mais prolongado e menos otimista, lembrando que Putin tem 72 anos e pode viver mais dez ou quinze.
"A Rússia falhou em reconhecer o seu passado", afirmou a académica, considerando que, mesmo depois de Putin desaparecer, o seu legado será mantido porque há no povo russo um orgulho muito grande da nação e do combate ao Ocidente.
"A propaganda está a ser reforçada e há um desejo de pertencer a esta grande comunidade", referiu. "Isso não mudará quando Putin desaparecer. É improvável que vejamos uma democracia liberal a emergir na Rússia".
A expectativa de Snegovaya é que o próximo líder seja também um autocrata, com a dificuldade acrescida de os Estados Unidos terem perdido o "soft power" que tinham nos anos oitenta e noventa.
O académico Eric Green, do programa Carnegie Endowment for International Peace, considerou provável que se siga uma cúpula de liderança coletiva, em vez de um único líder que substitua Putin. "Mas não haverá uma rápida evolução para a democracia".
Nenhum dos oradores antecipa que a guerra de invasão da Rússia na Ucrânia seja dada como terminada. O professor de ciência política da Universidade da Califórnia em Los Angeles (UCLA), Daniel Treisman, acredita que pode haver algum tipo de cessar-fogo mas não para já, porque Putin não está interessado nisso.
"Não vejo a guerra a acabar. Vejo a temperatura a subir e a descer", disse o cientista político. "Putin vê-se em guerra permanente contra o Ocidente, o que não será sempre com conflito militar. Será com infiltração cibernética, espionagem, sabotagem de operações na Europa", indicou.
Mesmo que um cessar-fogo seja anunciado quando as duas partes estiverem exaustas, "será preciso continuar a ver as arenas em que Putin tentará desestabilizar o Ocidente".
Treisman considerou que a ação da nova administração de Donald Trump tem sido negativa e não levará a nada, porque está a ceder em tudo sem negociação e a tomar o lado da Rússia. "Não se pode ter uma negociação sustentável se não formos um mediador justo".
Pavel Khodorkovsky, presidente da Khodorkovsky Foundation US, lembrou que as sanções económicas impostas há três anos não tiveram o resultado previsto e que a economia russa provou ser resiliente, além de ter operado um enorme afastamento do dólar: 50% do comércio externo é agora feito em rublos.
"Os EUA têm de entender que será preciso dar espaço para que surja um novo líder russo", advertiu ainda, referindo que tentar perceber agora em quem apostar é infrutífero. "Não dá para saber quem vai substituir Putin. Esse espaço para que a oposição produza novos líderes deve ser ajudado pela diplomacia ocidental".
Em termos económicos, a viragem para dentro e para aliados que contornaram as sanções funcionou e está a auxiliar Putin no seu objetivo, segundo Eric Green.
"Ele está fixado em dominar a Ucrânia", afirmou o académico. A ajuda da China é importante, já que ambos os países partilham "o objetivo de enfraquecer os Estados Unidos".
As sanções, indicou Daniel Treisman, são até bem vistas pelos novos oligarcas, que podem enriquecer sem competição de empresas ocidentais. Mas o médio a longo prazo vai trazer problemas, porque a inflação está elevada, o tesouro estatal está a ficar sem liquidez e eventualmente o atraso tecnológico terá impactos. Treisman prevê estagnação com inflação nos próximos anos.
Essa poderá ser uma das vias de enfraquecimento do poder central, disse Leonid Volkov: "Uma destas crises vai pegar".
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