O governo da província de Alberta, no oeste do país, tinha já indicado que poderá avançar com um referendo sobre a independência no próximo ano.
Em entrevista à agência Lusa, o representante consular português, residente no Canadá há quase meio século, defendeu que, embora existam diferenças económicas e culturais entre Alberta e outras regiões do país, a união "faz a força" e a província não ganharia em seguir um caminho isolado.
"O separatismo aqui em Alberta vem da crença de que os habitantes são cultural e economicamente distintos do resto do Canadá. Mas os recursos naturais de Alberta pertencem ao país que se chama Canadá", afirmou Aurélio Fernandes.
A primeira-ministra da província, Danielle Smith, anunciou esta semana que o governo poderá avançar com um referendo sobre a separação, caso uma petição cidadã reúna pelo menos 177 mil assinaturas, ou cerca de 10% do eleitorado da província.
Embora se diga pessoalmente contra a independência, Smith defendeu que a decisão deve caber aos residentes de Alberta, sobretudo se continuarem a sentir-se marginalizados pelas políticas federais adotadas em Otava.
Segundo uma sondagem recente da Research Co., 38% dos residentes em Alberta disseram acreditar que a província estaria melhor como um país independente.
Para Aurélio Fernandes, o sentimento separatista tem raízes antigas, mas tem ressurgido impulsionado por fatores externos, nomeadamente a instabilidade política nos Estados Unidos e o discurso do Presidente Donald Trump.
Ainda assim, sublinhou não acreditar na viabilidade de uma rutura.
"Há sempre uma minoria mais vocal, mas não creio que Alberta venha a separar-se do Canadá. Seria tão improvável como o Canadá tornar-se o 51.º estado dos Estados Unidos", disse.
Na perspetiva de Fernandes, o que falta é diálogo e uma maior capacidade de compromisso entre as autoridades da província e o governo federal.
"O mais importante neste momento é termos diplomacia e reduzirmos as barreiras comerciais que ainda existem entre províncias, que dificultam o crescimento económico do país", declarou.
Aurélio Fernandes, natural de Goa e antigo professor da Faculdade de Gestão da Universidade de Alberta, destacou ainda que Alberta tem uma economia "a funcionar em todos os cilindros", com um produto interno bruto (PIB) estimado em 344 mil milhões de dólares norte-americanos (302,09 mil milhões de euros) em 2024.
No entanto, reforçou que o sucesso económico isolado não garante força negocial no plano internacional.
"Com cinco milhões de habitantes, sozinhos não vamos longe. É preferível Alberta estar bem acompanhada dentro do Canadá, do que isolada num projeto incerto", concluiu.
Alberta, com uma população de cerca de 4,7 milhões de pessoas e uma área de 661 mil quilómetros quadrados, é uma das províncias mais ricas do Canadá devido à exploração de petróleo e gás.
Edmonton, a capital provincial, é um dos principais centros administrativos e económicos da região.
De acordo com o Censo do Canadá de 2021, 448.310 pessoas declararam ter ascendência portuguesa, representando aproximadamente 1,21% da população total do país.
Na província de Alberta, 9.910 pessoas identificaram-se como sendo de origem portuguesa.
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