De acordo com os representantes ucranianos, os volumes de petróleo que os dois países europeus receberam através do oleoduto Druzhba em julho não diminuíram após a Ucrânia aplicar sanções contra a Lukoil -- que considera uma das principais fontes de financiamento do Kremlin (presidência russa) e também sujeita a sanções ocidentais --, uma vez que outras empresas russas prosseguiram com o trânsito desta matéria-prima.
"A Ucrânia não pode transportar petróleo da Lukoil, mas o volume total de trânsito não se alterou", garantiu o presidente da Naftogaz, Oleski Chernishov, numa reunião em formato 'online' com investidores, noticiada pela edição ucraniana da revista Forbes.
Embora a Hungria e a Eslováquia recebam, respetivamente, um terço e 45% do seu petróleo da Lukoil, também têm outras rotas logísticas, informou o Centro Ucraniano de Combate à Desinformação na quarta-feira à noite.
O organismo adiantou que a Eslováquia não sentirá os efeitos da decisão da Ucrânia, pelo facto de também ser abastecida por outras empresas russas, onde se incluem a Tatneft ou a Gazprom Neft.
Na quarta-feira, o Presidente da Eslováquia, Peter Pellegrini, advertiu Kiev que teria de "reagir" caso não se registasse uma alteração da situação.
Em paralelo, Budapeste fez depender o fim do seu bloqueio ao desembolso de 6,6 mil milhões de euros do Mecanismo Europeu de Apoio à Paz para a Ucrânia à revogação da decisão ucraniana.
Os dois países membros da União Europeia (UE) pediram o apoio a Bruxelas, e sugeriram que poderão ser afetadas as exportações de eletricidade e gás para a Ucrânia através dos seus territórios.
Apesar de o trânsito do seu petróleo através da Ucrânia ter sido interrompido em 28 de junho, a Lukoil está sob sanções ucranianas desde 2018.
Os analistas ucranianos também creem que, nos últimos anos, a Hungria ampliou a sua infraestrutura petrolífera e que a sua economia poderá funcionar sem o trânsito de petróleo russo através da Ucrânia.
Na perspetiva do especialista em energia Volodymyr Omelchenko, citado pelo jornalista Rostyslav Averchuk num texto da agência noticiosa espanhola EFE, o Kremlin, com a ajuda dos parceiros húngaros e eslovacos, fomenta deliberadamente "um conflito imaginário" para exacerbar os sentimentos anti-ucranianos entre a população da Hungria e Eslováquia e "justificar o bloqueio pelos seus governos da ajuda militar à Ucrânia e a sua integração euro-atlântica".
Analistas também recordam a diretiva da UE e o compromisso da Hungria, Eslováquia e República Checa de terminar com o fornecimento de petróleo russo até 2027 através da diversificação.
Kiev também está a equacionar a ampliação das sanções contra outros fornecedores de petróleo russo, e quando se calcula que o trânsito de petróleo da Lukoil e outros fornecedores através da Ucrânia implicou um montante de seis mil milhões de euros por ano desde o início da invasão russa do país vizinho em fevereiro de 2022.
Devido às numerosas lacunas do regime de sanções e às compras de países como a China, Turquia ou Índia, a Rússia recebe diariamente cerca de 660 milhões de euros pela venda de petróleo e derivados, indicou, por sua vez, Olena Lapenko, do grupo de análise DiXi, nas suas análises para o diário ucraniano Ukrainska Pravda.
"Privar a Federação Russa destas receitas constitui uma tarefa chave para a Ucrânia", defendeu.
As tentativas da Hungria e da Eslováquia de pressionar a Ucrânia com a interrupção do envio de eletricidade e gás parecem "incorretas", frisou ainda Lapenko, lembrando um contexto marcado por "contínuos ataques russos, a destruição do sistema energético ucraniano e uma possível catástrofe humanitária".
Segundo Budapeste, a Ucrânia recebe cerca de 42% das suas importações de eletricidade através do território da Hungria, enquanto algumas das suas importações também chegam através da Eslováquia.
A ofensiva militar russa no território ucraniano, lançada a 24 de fevereiro de 2022, mergulhou a Europa naquela que é considerada a crise de segurança mais grave desde a Segunda Guerra Mundial (1939-1945).
A Ucrânia tem contado com ajuda financeira e em armamento dos aliados ocidentais, que também têm decretado sanções contra setores-chave da economia russa para tentar diminuir a capacidade de Moscovo de financiar o esforço de guerra.
Os últimos meses foram marcados por ataques aéreos em grande escala da Rússia contra cidades e infraestruturas ucranianas, ao passo que as forças de Kiev têm visado alvos em território russo próximos da fronteira e na península da Crimeia, ilegalmente anexada em 2014.
Já no terceiro ano de guerra, as Forças Armadas ucranianas têm-se confrontado com falta de soldados e de armamento e munições, apesar das reiteradas promessas de ajuda dos aliados ocidentais, que começaram entretanto a concretizar-se.
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