Meteorologia

  • 29 ABRIL 2024
Tempo
11º
MIN 11º MÁX 18º

Guterres perplexo com vítimas e destruição de "operação" israelita em Gaza

O secretário-geral da ONU, António Guterres, manifestou hoje perplexidade por a operação militar israelita em Gaza causar "tantas mortes" e "destruição" e considerou impossível substituir a Agência das Nações Unidas para os Refugiados da Palestina (UNRWA).

Guterres perplexo com vítimas e destruição de "operação" israelita em Gaza
Notícias ao Minuto

20:10 - 08/02/24 por Lusa

Mundo António Guterres

Numa conferência de imprensa na sede da ONU, em Nova Iorque, na qual falou em quatro línguas - inglês, francês, espanhol e português -, Guterres admitiu "não entender" o nível de destruição em Gaza, se a guerra no enclave é, como diz o Governo israelita, uma operação apenas contra o Hamas.

"Se fosse esse o caso, não consigo entender como é que a conduzem de tal forma que causou a morte de 28 mil pessoas, 75% da população deslocada e um nível de destruição de bairros inteiros tal como o registado", respondeu Guterres a uma jornalista israelita.

"Acho que há algo de errado na forma como as operações militares estão a ser conduzidas", frisou.

A jornalista insistiu que o Hamas está a usar infraestruturas civis como escudos na guerra, argumento ao qual Guterres respondeu sublinhando que a mesma lei humanitária internacional que condena o uso de civis e infraestruturas civis como escudos "também é clara em relação à obrigação de proteger os civis mesmo que estejam a ser usados como escudos".

"A esse respeito, acho que nos estamos a reger pelos princípios, sem duplos padrões", defendeu.

O líder da ONU saiu ainda em defesa da UNRWA, principal agência da ONU em Gaza e que teve o seu financiamento amplamente cortado por doadores após se ver envolvida numa grave polémica de alegado envolvimento de doze dos seus trabalhadores nos ataques de 07 de outubro do Hamas.

Guterres indicou que as acusações levantadas por Israel eram "credíveis" e levaram ao afastamento imediato dos envolvidos, mas defendeu veementemente o papel da UNRWA, que considera a "espinha dorsal" da distribuição humanitária em Gaza e que é composta por 3.000 funcionários dedicados às respostas de emergência.

A UNRWA tem cerca de 13 mil funcionários na Faixa de Gaza, mas um grande número são professores ou médicos, não diretamente envolvidos na ajuda humanitária.

De acordo com Guterres, não há outra organização presente em Gaza capaz de satisfazer as necessidades do povo palestiniano como a UNRWA.

"Não há outra organização em Gaza que possa agora ocupar esse espaço, nenhuma com uma presença igualmente significativa. Qualquer tentativa de substituí-la é impossível", esclareceu Guterres, lembrando que os salários da UNRWA são, "por razões históricas de natureza complexa", um terço dos de outras agências, pelo que o custo da sua substituição seria incomportável.

O ex-primeiro-ministro português admitiu também ter ficado surpreendido com a rapidez com que o financiamento da UNRWA foi suspenso pelos doadores, entre os quais se encontram países como os Estados Unidos, Alemanha, Reino Unido e Suécia.

Sobre o envolvimento norte-americano nesta guerra, Guterres disse ser "testemunha de que tem havido grande pressão dos Estados Unidos sobre Israel em relação à ajuda humanitária (e também) para que seja respeitado plenamente o direito humanitário internacional".

Em relação ao que está ao seu alcance, o secretário-geral manifestou total "solidariedade e comprometimento" com a população de Gaza, de forma a mobilizar o sistema da ONU para ajudar das formas que forem possíveis.

Numa reflexão sobre o papel de secretário-geral e as suas limitações, António Guterres, cujo segundo mandato termina no final de 2026, confessou que a sua "pior frustração é ver sofrimento numa escala tão grande" e saber que não tem "o poder para o parar".

"Mas essa é a realidade. Eu não tenho o poder de parar (esse sofrimento). Posso levantar a minha voz e faço-o. (...) Mas a grande frustração que tenho é não ter o poder de parar estes conflitos que temos estado a discutir", disse.

Leia Também: Guterres alerta que IA "está já a criar riscos" com desinformação

Recomendados para si

;
Campo obrigatório