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Sem ajuda, autarca de Queens recusa virar costas a "irmãos migrantes"

O autarca de Queens, um dos distritos nova-iorquinos que mais requerentes de asilo recebeu em 2023, reconhece falta de ajuda federal para lidar com a crise migratória, mas recusa-se "a deixar para trás os irmãos migrantes".

Sem ajuda, autarca de Queens recusa virar costas a "irmãos migrantes"
Notícias ao Minuto

08:36 - 03/02/24 por Lusa

Mundo Estados Unidos

Filho de um imigrante jamaicano, o autarca democrata Donovan Richards conhece bem a dura realidade da imigração, pelo que já havia aberto um centro de acolhimento para imigrantes no escritório do seu distrito, em 2021, mesmo antes da crise migratória atingir Nova Iorque com força.

Agora, com mais de 40.000 migrantes chegados a Queens em 2023 e sem indícios de abrandamento, o autarca não nega os "muitos desafios" que esta vaga tem causado, como no acesso a alimentação, moradia e educação, mas assegurou à Lusa que uma das suas prioridades é "não ver ninguém a dormir na rua".

"Infelizmente, não há alojamento suficiente. Quero dizer, a maioria dos nossos hotéis está lotada. Então nós fizemos, literalmente, o máximo que podíamos, porque acreditamos no direito ao abrigo. Não queremos ver ninguém a dormir na rua. Para isso, em lugares como Long Island City e Southeast Queens, definitivamente arcamos com - não quero chamar de fardo -, mas com muitas necessidades de moradia para os migrantes", disse.

"Temos tendas, temos hotéis lotados e temos também o Aeroporto John F. Kennedy a ser utilizado como local para abrigar migrantes. O nosso objetivo principal é garantir que a cidade esteja a cumprir a lei, ou seja, que qualquer pessoa que venha aqui tem direito a abrigo", acrescentou.

Richards referia-se a um acordo legal único, designado "direito ao abrigo", que exige que a cidade de Nova Iorque forneça uma cama a cada sem-abrigo que a solicite.

Nos últimos meses, porém, tendo em conta o número crescente de migrantes na cidade - que já chegou a 150 mil -, essa garantia tornou-se praticamente impossível de concretizar.

Aliás, o número de pessoas sem-abrigo na cidade de Nova Iorque disparou 53% no ano passado, impulsionado pelo aumento implacável de migrantes, de acordo com um relatório divulgado na terça-feira pela autarquia.

Para tentar aliviar a pressão sobre os já lotados abrigos da cidade, o 'mayor' de Nova Iorque, Eric Adams, endureceu ainda mais as regras, limitando a 30 dias o tempo de permanência de migrantes adultos em instalações administradas pela autarquia.

Além de tentar garantir abrigo para os milhares de migrantes que chegam a Queens, Richards disse à Lusa que tenta também fazer chegar alimentação a essas pessoas, trabalhando com organizações locais.

"Neste momento, tenho orgulho de dizer que quando ando pelas ruas não estou a passar por cima de migrantes sem-abrigo que necessariamente não têm onde ficar. Acho que estamos a fazer o máximo que podemos para garantir que todos tenham uma cama para dormir à noite", frisou.

"Tentamos reunir todos os recursos que temos para garantir que os nossos irmãos e irmãs migrantes, assim como os nova-iorquinos e residentes do Queens, não se sintam deixados para trás", disse ainda.

Donovan Richards, hoje com 40 anos, foi eleito no final de 2020 presidente de Queens, mas, após o assassínio de um amigo próximo na adolescência, envolveu-se em causas públicas, primeiro contra a violência armada e depois em questões de habitação, alterações climáticas ou imigração.

Questionado sobre os motivos que levam milhares de migrantes a tentar fixar-se em Queens, o presidente do executivo não tem dúvidas em apontar a enorme multiculturalidade do distrito.

Conhecido como "The World's Borough" ("O Bairro do Mundo", em tradução livre), um reflexo do seu estatuto de condado mais diversificado dos Estados Unidos, Queens tem nele representados "190 países e 360 idiomas e dialetos", indicou Richards, destacando a crescente comunidade latina que alberga, num momento em que a maioria dos migrantes que chega a Nova Iorque é proveniente de países da América Latina e das Caraíbas.

"Por causa dessa diversidade, é mais provável que Queens seja naturalmente um lugar muito atrativo, seja na culinária ou na cultura, seja você um migrante ou apenas alguém a experimentar um país diferente", argumentou.

"Aqui, você encontrará pessoas que se parecem com você, que falam como você, que entendem a sua cultura mais do que qualquer outra pessoa. Portanto, há uma razão pela qual os migrantes gravitam aqui e acabam por ficar", defendeu.

Na semana passada, alguns estudantes que frequentam uma escola secundária em Queens denunciaram que estão a ser intimidados e agredidos simplesmente por serem migrantes.

"Eles agarraram o meu cabelo, deram-me um soco na cabeça, deram-me pontapés no estômago e disseram-me para sair deste país e sair deste autocarro", contou uma menina venezuelana à CBS News.

Richards assumiu estar a par deste relatos, mas rejeitou que se trate de uma tendência xenófoba em afirmação, garantindo estar "orgulhoso" da sua comunidade, que prontamente se disponibilizou para garantir roupas, alimentação e produtos de higienes aos requerentes de asilo que foram chegando.

Salientando que mais da metade dos residentes de Queens nasceu fora dos Estados Unidos, dados que fazem de Queens "um distrito de imigrantes", Richards pontuou que o seu executivo irá contrariar as vozes anti-imigração que se começam a levantar, de forma a "não transmitir a ignorância aos mais jovens".

"Portanto, continuaremos a apoiar os nossos irmãos e irmãs imigrantes em cada passo do caminho", sublinhou.

Questionado pela Lusa sobre se ajuda federal tem chegado a Nova Iorque para ajudar a enfrentar esta grave crise migratória, o autarca respondeu com um firme "não".

"Não vimos assistência federal suficiente. E acreditamos que o Governo federal deve concentrar-se nisso. Sei que a administração de Joe Biden (Presidente dos EUA) e o Senado estão a tentar fazer uma reforma abrangente da imigração, sei que os republicanos estão a atrasar o processo, mas certamente (...) que se vamos acolher na cidade mais de 100.000 migrantes que atravessaram a fronteira (...), os recursos vão diminuindo", observou.

"Não acredito que o Governo federal tenha fornecido o suficiente para Queens e o suficiente para a cidade de Nova Iorque, o que acrescenta camadas de pressão sobre os serviços quotidianos que os nova-iorquinos necessitam todos os dias, agravados pelas necessidades dos migrantes", salientou o presidente do executivo de Queens.

Quanto a possíveis soluções, Richards acredita que poderão passar pela contratação de mais funcionários para processar os pedidos de asilo e para agilizar as permissões de trabalho para os migrantes.

"Sei que estamos a conseguir autorização de trabalho para venezuelanos, mas também temos gente vinda da África. Portanto, precisamos de ver muito mais aumentos nas autorizações de trabalho, porque isso permitirá que as próprias pessoas consigam empregos e sejam capazes de criar um caminho para a mobilidade. Portanto, neste momento, sem a autorização de trabalho para todos, os migrantes ficam inibidos de saírem do sistema de abrigo", concluiu.

Leia Também: Polícia de Nova Iorque descarta robô de vigilância do metro após 5 meses

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