O governador da Florida, Ron DeSantis, ganhou notoriedade política nacional quando foi reeleito no cargo por larga margem nas eleições intercalares de 2022, tornando-se uma figura que rivalizava dentro do partido com Trump na popularidade e em quem muitos republicanos depositavam confiança para destronar os democratas da Casa Branca.

DeSantis beneficiava ainda do facto de a sua vitória na Florida ter sido conseguida apesar das resistências de Trump, provando que o ex-Presidente tinha ficado muito fragilizado com essas eleições intercalares, em que muitas das figuras por si apoiadas tinham sido derrotadas pelos adversários do Partido Democrata, que parecia resistir melhor ao desgaste de dois anos de poder em Washington.

Contudo, DeSantis parece não ter sido capaz de tirar o devido proveito da popularidade granjeada pela sua reeleição como governador e, como dizem muitos analistas, foi ainda mais incapaz na tarefa de catalisar uma coligação de descontentes com o desempenho de Trump após a sua saída da Casa Branca, em janeiro de 2021.

Nem mesmo o segundo lugar nas primárias do Iowa, na passada semana, fez esquecer uma série de iniciativas de campanha desencorajadoras, que foram arrastando DeSantis numa contínua descida de intenções de votos nas sondagens, onde já lutava por não cair para o terceiro lugar com a ex-embaixadora Nikki Haley, apesar de ser um dos candidatos que tinha angariado mais dinheiro para a sua campanha.

Na véspera das primárias em New Hampshire, DeSantis decidiu desistir da sua candidatura e manifestar o seu apoio a Trump, deixando desiludidos muitos dos seus apoiantes, que esperavam uma alternativa ao ex-Presidente, sobretudo depois de o governador da Florida o ter criticado por muitas falhas durante a sua passagem na Casa Branca, nomeadamente na sempre sensível área económica.

Apesar da desistência de DeSantis deixar agora Haley numa corrida direta com Trump, os analistas dizem que será o ex-Presidente a beneficiar mais do novo figurino da nova fase das primárias republicanas, podendo agora centrar os seus ataques políticos na ex-embaixadora norte-americana junto das Nações Unidas, escolhida para esse lugar pelo próprio Trump.

Num diagnóstico desta corrida falhada, um consultor de DeSantis apontava como uma das razões para a desistência o facto de o governador não ter sido capaz de seduzir os eleitores mais moderados, tendo demorado demasiado tempo a tirar proveito dos processos judiciais em que Trump está envolvido.

Outros consultores de DeSantis juntam a esta falha a ausência de uma mensagem coerente e a má gestão dos fundos de campanha, que se foram exaurindo à medida que se aproximavam as datas das eleições primárias, limitando a sua capacidade para tentar combater a hegemonia de Trump, que leva uma vantagem de mais de 20 pontos percentuais em relação a todos os outros candidatos.

"De qualquer forma, termos feito tudo bem também não faria grande diferença. É praticamente impossível vencer Trump nestas primárias", disse um assessor de DeSantis em declarações ao jornal The Washington Post, explicando as dificuldades que esperam Nikki Haley, que pode ter de se sujeitar a uma humilhante derrota nas eleições da Carolina do Sul, onde ela própria foi governadora.

De igual forma -- o que ajuda a compreende a desistência de DeSantis nesta altura -- o governador da Florida temeu a possibilidade de uma derrota ainda mais pesada no New Hampshire, onde as primárias permitem o voto de independentes, o que não favorece as hipóteses de um candidato muito conotado com o núcleo duro do eleitorado republicano.

Contudo, os 'media' norte-americanos dizem esta semana que os consultores de DeSantis já o tinha aconselhado a desistir ainda antes do Iowa, procurando deixá-lo com o seu prestígio intacto, numa estratégia de desistência para Trump antes de ser acusado de ter tentado vencer o ex-Presidente, que se torna cada vez mais o provável recandidato a um segundo mandato na Casa Branca.

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