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"Gandhi turco" Kiliçdaroglu levou rival Erdogan a segunda volta

O veterano da política turca Kemal Kiliçdaroglu tem no domingo o derradeiro confronto com o seu rival Recep Tayyip Erdogan, cujos 20 anos de presidência do país desafia na segunda volta das eleições.

"Gandhi turco" Kiliçdaroglu levou rival Erdogan a segunda volta
Notícias ao Minuto

08:56 - 27/05/23 por Lusa

Mundo Turquia/Eleições

Aos 74 anos, o dirigente do Partido Republicano no Povo (CHP, centro-esquerda laica), principal força da oposição, e com discreta carreira no funcionalismo público, conquistou 44,9% dos votos na primeira volta de 14 de maio mas faltam-lhe 2,6 milhões de votos para destronar o homem que domina a política turca há 20 anos.

Face ao resultado obtido na primeira volta, optou por um discurso nacionalista radical que se aproximou de Erdogan em temas como a imigração, defendendo o regresso de milhões de refugiados sírios na Turquia.

A sua designação para a eleição não foi consensual, sendo forçado a negociar com duas estrelas ascendentes do seu partido, os presidentes das câmaras de Ancara e Istambul, mais bem colocados nas sondagens. Apesar das desavenças internas, o homem que lidera do CHP há 13 anos acabou por ser confirmado na corrida presidencial.

Kiliçdaroglu já sobreviveu a uma série de ataques violentos, ganhando a reputação de ser um dos políticos turcos mais acossados, e quando o CHP continua a reivindicar as suas origens em Mustafá Kemal, o fundador da República da Turquia laica e secular, em oposição ao islamismo conservador do Partido da Justiça e do Desenvolvimento (AKP) de Erdogan, que domina a Grande Assembleia Nacional (Parlamento) e o Governo desde a sua primeira grande vitória eleitoral em novembro de 2002.

Durante muito tempo foi considerado perto dos militares, que desde 1960 derrubaram quatro governos, e um firme defensor da separação da religião face ao Estado. Fiel a estes princípios, justificou e apoiou o violento golpe militar de 1980, ou defendeu a proibição do uso do véu nas escolas e serviços públicos.

O veterano chefe do CHP gosta de referir que nasceu numa casa "pobre e isolada" e que deve a sua ascensão social às "oportunidades oferecidas pela República". Diplomado em Ciências Económicas pela universidade Gazi de Ancara, entrou para o ministério das Finanças como inspetor de impostos em 1971 e foi subindo na carreira até ao cargo de diretor da Segurança Social, antes de se lançar na política.

Os seus próximos designam-no de "Gandhi turco" pela sua semelhança com o guia espiritual indiano. Os seus detratores no aparelho do partido rotulam-no de "velho". Na realidade, transmite estas duas imagens, um "pacificador" descolado do tempo, ou um familiar idoso presente nos domingueiros almoços familiares.

Proveniente de uma família da Anatólia com sete filhos, originário da região de Dersim, de maioria curda, e membro da minoria Alevi, um ramo heterodoxo do islão num país de larga maioria sunita, a sua ascensão no partido inspirou-se no antigo primeiro-ministro Bulent Ecevit, o homem do golpe de força em Chipre em 1974, mas também uma referência da austera social-democracia turca, também caracterizada pela sua faceta mais direitista e nacionalista.

"Direito, lei e justiça" e combate à corrupção são as principais referências de Kiliçdaroglu neste seu último combate. Palavras de ordem que retomou em 2017 quando dirigiu uma marcha de 450 quilómetros de Ancara a Istambul, seguido por dezenas de milhares de pessoas, em protesto contra a condenação de um dos seus deputados a 25 anos de prisão por "revelação de informações confidenciais" a um diário da oposição.

Kiliçdaroglu diz-se também um defensor da aproximação da Turquia à Europa, apesar dos progressivos afastamentos mútuos dos últimos anos. Defende a "reconciliação social" num país de prolongadas fraturas, a igualdade dos sexos, uma justiça independente, universidades autónomas, mas também o regresso ao país de origem dos cerca de 3,5 milhões de refugiados sírios que o país acolheu desde 2011.

Leia Também: Erdogan, o defensor do orgulho turco que espera ser reeleito

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