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Erdogan, o defensor do orgulho turco que espera ser reeleito

O presidente da Turquia vê-se no domingo a disputar uma segunda volta com o seu principal rival, insistindo na exaltação nacionalista e na defesa internacional do Islão a sustentar 20 anos de poder.

Erdogan, o defensor do orgulho turco que espera ser reeleito
Notícias ao Minuto

08:51 - 27/05/23 por Lusa

Mundo Turquia/Eleições

Com 49,5 por cento dos votos na primeira volta de dia 14, ficou a pouca distância dos 50% mais um que lhe garantiriam mais um mandato, mas desde então recolheu apoios que podem determinar o resultado final, como o do terceiro classificado, o nacionalista Sinan Ogan.

Dotado de rara oratória, defensor do islão político, o presidentede 69 anos provém de uma modesta família muçulmana conservadora instalada numa povoação junto ao mar Negro, filho de um capitão da guarda costeira.

A mudança para Istambul foi fulcral no seu percurso. Esteve perto de se tornar jogador profissional de futebol, mas os ensinamentos numa escola religiosa onde conviveu com outros cofundadores do seu partido, o AKP, sobrepuseram-se, também por pressão familiar.

No início da sua atividade política teve como mentor o veterano líder islamita Necmettin Erbakan e líder do extinto Refah (Partido da Prosperidade), que chefiou um efémero governo de coligação entre 1996 e 1997, até ser deposto num designado "golpe pós-moderno" sob pressão da cúpula militar.

Apesar da constante pressão do "Estado profundo" laico, a sua ascensão foi meteórica. Em 1994 é eleito presidenteda câmara municipal de Istambul -- um sinal da reemergência em força do islão político na Turquia republicana com os então partidos do sistema assolados por divergências insanáveis, escândalos de corrupção e um peso determinante dos militares nos assuntos internos.

Acaba por se demitir em 1998 após ser condenado a dez meses de prisão (que não cumpre na totalidade), sob a acusação de "incitamento ao ódio religioso", por ter citado um poema.

Desde então que recorda com frequência os quatro meses que passou na prisão em 1999, dois anos após os militares terem posto termo à experiência do Refah. Regressou à política, divergiu de Erbakan e esteve na fundação do Partido da Justiça e Desenvolvimento (AKP), vencedor por maioria absoluta das eleições legislativas de novembro de 2002, e que ainda dirige.

Primeiro-ministro entre 2003 e 2014, será eleito nesse ano Presidente, nas primeiras eleições presidenciais por sufrágio direto na Turquia, e reeleito em junho de 2018.

O fim da proibição do uso do véu islâmico nos complexos universitários, decisão considerada pelos opositores como uma ameaça à ordem secular turca, ou as restrições ao consumo de álcool, acentuam as fraturas na sociedade turca.

O próprio Tribunal Constitucional não consegue travar a "vaga islamista" e em 2007 são aprovadas em referendo reformas constitucionais que retiram poderes decisivos aos militares, e reforçam o poder legislativo para a designação de juízes.

Nas legislativas de 2011, Erdogan garante um terceiro mandato como primeiro-ministro, após nova e absoluta vitória do AKP, mas que não garante os dois terços necessários para elaborar uma ambicionada nova Constituição.

Mas o primeiro grande desafio que Erdogan enfrenta nas ruas surge em 2013, no decurso de amplos protestos entre maio de junho contra a construção de um centro comercial no parque público Gezi, em Istambul. As manifestações alastram em várias cidades e no epicentro do protesto a polícia recorre a violência sem precedentes, com um balanço de nove mortos e centenas de feridos e detidos.

Pelo facto de as regras internas do AKP impedirem um quarto mandato como primeiro-ministro, Erdogan lança-se à corrida presidencial de 2014, as primeiras em que o chefe de Estado, ainda com poderes meramente protocolares, será eleito por voto universal direto e não pelo Parlamento.

O AKP mantém-se o esteio da política interna, perdendo e recuperando maiorias absolutas. E quando se confronta com o golpe de Estado falhado de 15 julho de 2016, Erdogan interpreta-o como um "favor divino", ao permitir domesticar as Forças Armadas e efetuar purgas massivas na função pública, para além de detenções e julgamentos com pesadas penas de prisão.

O seu antigo aliado, o predicador islamista Fetullah Gulen, e a sua rede, são designados como os mentores do golpe falhado, e a repressão às suas estruturas ainda prossegue.

Em paralelo, Erdogan decide reforçar os seus poderes. Em referendo, são aprovadas profundas alterações à Constituição através da abolição do cargo de primeiro-ministro e que tornam o presidenteno chefe executivo do Governo.

As opções económicas de Erdogan, a par de novas sanções impostas pelos Estados Unidos às exportações de aço e alumínio turco, levam o país à recessão. A lira turca perde um quarto do seu valor, e o abrandamento do crescimento económico prossegue em 2019.

O aumento de preços dos bens essenciais, que Erdogan também atribui a uma conspiração estrangeira, torna-se em assunto central nas municipais de março. Pela primeira vez desde 2002 os resultados denunciam um refluxo do AKP, que perde o controlo de cinco grandes cidades, incluindo Ancara e Istambul, um golpe profundo na agenda de Erdogan.

Nos meses seguintes, vários antigos dirigentes abandonam o partido, num crescendo de contestação a uma liderança pessoal.

A deriva autoritária acentuou-se quando o país se confrontou com uma nova crise em 2020, em pleno "surto pandémico" da covid-19. Os críticos à abordagem do Governo no combate à pandemia são silenciados. E Erdogan continua a exercer pressão sobre o banco central em torno da política monetária, com a lira em desvalorização contínua.

O estrito controlo do meio universitário a nível interno coincide com posições mais agressivas no exterior, com o envolvimento ao lado do Azerbaijão num novo e sangrento conflito em torno do enclave do Nagorno-Karabakh em meados de 2020, ou numa polémica visita a Chipre do Norte, sob ocupação turca.

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