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"Reino dentro de um reino". Assange convida Carlos III a visitar prisão

Publicada na plataforma Declassified UK, a carta adota um tom sarcástico, descrevendo o dia a dia em Belmarsh, incluindo as ‘iguarias’ culinárias, "os pitorescos corvos aninhados no arame farpado e as centenas de ratos famintos".

"Reino dentro de um reino". Assange convida Carlos III a visitar prisão

A propósito da coroação do rei Carlos III, que ocorreu, este sábado, em Londres, o jornalista australiano e fundador do WikiLeaks, Julian Assange, endereçou uma carta ao monarca, apelando para que visite a prisão de alta segurança de Belmarsh, no sudeste da capital britânica, onde o 'hacker' se encontra detido há mais de quatro anos.

"Na coroação do meu senhor, achei apropriado endereçar-lhe um convite sincero para comemorar esta ocasião importante e visitar o seu próprio reino dentro de um reino: a Prisão de Sua Majestade Belmarsh", escreveu, naquele que é o primeiro documento divulgado desde a sua detenção no estabelecimento prisional.

Publicada na plataforma Declassified UK, a carta, datada de 5 de  maio, adota um tom sarcástico, descrevendo o dia a dia em Belmarsh, que está "localizada no prestigioso endereço de One Western Way, Londres, a um salto do Old Royal Naval College, em Greenwich".

"Que delícia deve ser ter um estabelecimento tão estimado com o seu nome", ironizou, atirando é possível determinar "o prestígio de uma sociedade pela forma como trata os seus prisioneiros, e o seu reino realmente destacou-se nesse aspeto".

E prosseguiu: "Como prisioneiro político, mantido a critério de Vossa Majestade em nome de um soberano estrangeiro envergonhado, sinto-me honrado em residir dentro dos muros desta instituição de classe mundial. O seu reino não tem limites", disse, ao mesmo tempo que criticou a dimensão da população encarcerada no Reino Unido que, segundo as estimativas, poderá vir a aumentar.

Assange assegurou que, durante a sua visita, Carlos III "terá a oportunidade de se deliciar com as iguarias culinárias preparadas para seus os fiéis súbditos com um generoso orçamento de duas libras por dia", concedendo particular destaque às "cabeças de atum trituradas e as omnipresentes formas reconstituídas, supostamente feitas de frango".

"E não se preocupe, pois ao contrário de instituições menores, como Alcatraz ou San Quentin, não há jantar comunitário num refeitório. Em Belmarsh, os presos jantam sozinhos nas suas celas, garantindo a máxima intimidade com a refeição", lançou.

Além destas 'iguarias' da culinária, o jornalista garantiu ainda que "Belmarsh oferece amplas oportunidades educacionais para os súbditos", entre elas a recolha de medicamentos "não para uso diário, mas para a experiência de 'um dia de folga'", numa referência ao uso de estupefacientes.

"Também terá a oportunidade de prestar homenagem ao meu falecido amigo Manoel Santos, um homem gay em risco de deportação para o Brasil de [Jair] Bolsonaro, que colocou termo à vida a apenas oito metros de minha cela, com uma corda grossa feita a partir dos seus lençóis. A sua requintada voz de tenor agora silenciada para sempre", atirou.

Já nas profundezas de Belmarsh, o monarca poderá encontrar, segundo o fundador do WikiLeaks, a suite de fim de vida, onde, com atenção, se ouvem os gritos dos prisioneiros, que clamam 'vou morrer aqui', "uma prova da qualidade da vida e da morte dentro da prisão".

"Mas nada tema, pois há beleza a ser descoberta dentro destas paredes. Deleite-se com os pitorescos corvos aninhados no arame farpado e com as centenas de ratos famintos que chamam Belmarsh de lar. E se vier na primavera, poderá até vislumbrar os patinhos no terreno da prisão. Mas não se demore, uma vez que os ratos garantem que as suas vidas são passageiras", adiantou, antes de rematar que visitar Belmarsh "é uma honra digna de um rei".

Assange está, desde 11 de abril de 2019, detido na prisão de alta segurança de Belmarsh, depois de o Equador lhe ter retirado o asilo político e o ter expulsado da sua embaixada na capital britânica.

O jornalista aguarda a resolução do processo de extradição para os Estados Unidos, onde poderá ser julgado por 18 crimes de espionagem e invasão informática.

Assange foi inicialmente detido em 2010 - logo após o WikiLeaks expor os supostos crimes de guerra dos Estados Unidos no Iraque e no Afeganistão - a pedido da Suécia, que o queria interrogar sobre alegados crimes sexuais pelos quais nunca foi acusado, num caso que acabou por ser arquivado.

O fundador do WikiLeaks, que garante que as ações judiciais contra si se tratam de uma perseguição política dos Estados Unidos pela divulgação de vários casos através da plataforma, aguarda a decisão do Tribunal Superior de Londres.

Leia Também: Mais de 80 parlamentares pedem a libertação de Assange

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