"Isto é interferência direta nos assuntos internos da Rússia", refere uma declaração difundida pelo Ministério dos Negócios Estrangeiros (MNE) russo.
Nessa declaração, o MNE russo considerou ainda "inaceitáveis" os comentários do embaixador britânico em Moscovo acerca da sentença condenatória.
O Reino Unido, à semelhança da Alemanha, insurgiu-se hoje contra a sentença de 25 anos de prisão aplicada por um tribunal russo ao opositor Vladimir Kara-Murza por alta traição e outros crimes.
O Governo britânico considerou tratar-se de uma "sentença politicamente motivada" e exigiu a "libertação imediata" do opositor russo, que também possui nacionalidade britânica, anunciando a convocação do embaixador russo.
"O Reino Unido continuará (...) a pedir a libertação imediata de Kara-Murza", disse o ministro dos Negócios Estrangeiros do Reino Unido, James Cleverly, num comunicado.
Cleverly lamentou que a justiça russa tenha condenado Karza Murza por se referir à invasão da Ucrânia, pois esta agressão é "uma flagrante violação do direito internacional e da Carta da ONU".
"A falta de empenho da Rússia em proteger os direitos humanos fundamentais, incluindo a liberdade de expressão, é alarmante", sublinhou Cleverly.
O Ministério dos Negócios Estrangeiros britânico declarou ter convocado hoje o embaixador russo em Londres, Andrei Kelin, para lhe comunicar que a condenação de Kara-Murza é "contrária às obrigações internacionais da Rússia em matéria de direitos humanos".
Após um julgamento à porta fechada, o tribunal anunciou que julgou Kara-Murza culpado de "alta traição", de espalhar "informações falsas" sobre o exército russo e trabalho ilegal para uma "organização indesejável", segundo relata a AFP.
O opositor foi condenado a uma pena cumulativa de 25 anos numa colónia penal, que implica condições de prisão mais rígidas.
Por seu lado, os Estados Unidos da América consideraram que Vladimir Kara-Murza é vítima da "intensificação da campanha de repressão" do Governo russo.
Em prisão preventiva desde abril de 2022, Kara-Murza foi aparentemente alvo de duas tentativas de assassínio, em 2015 e 2017, que atribui às autoridades russas.
Kara-Murza negou as acusações, que considerou de cunho político, e comparou os processos judiciais que enfrenta aos julgamentos durante o Governo do ditador soviético Josef Estaline.
As acusações contra Kara-Murza também estão relacionadas ao discurso que realizou em 15 de março de 2022 na câmara dos representantes do Arizona, Estados Unidos, em que denunciou a guerra da Rússia na Ucrânia.
Os investigadores russos acrescentaram a acusação de traição quando o opositor já estava sob detenção.
Citada por agências de notícias russas, uma das suas advogadas, Maria Eismont, anunciou que Kara-Murza vai apelar da sentença, denunciando ainda "graves violações de procedimento" durante o julgamento.
Também hoje o Alto-Comissário da ONU para os Direitos Humanos, o austríaco Volker Türk, a presidente da Assembleia Parlamentar da Organização para a Segurança e Cooperação na Europa (OSCE), a sueca Margareta Cederfelt, e o representante especial sobre Prisioneiros Políticos da mesma instituição, o norte-americano Steve Cohen, exigiram a libertação "imediata" de Kara-Murza.
A Rússia aprovou uma lei que criminaliza a divulgação de "informações falsas" sobre as respetivas forças armadas logo após o envio de tropas para a Ucrânia, na sequência da invasão do país vizinho, em 24 de fevereiro de 2022.
As autoridades russas estão a usar a lei para eliminar as críticas ao que o Kremlin classifica como "operação militar especial" na Ucrânia.
Kara-Murza era próximo do líder da oposição russa Boris Nemtsov, que foi morto perto do Kremlin em 2015.
Outro nome proeminente da oposição russa, Ilya Yashin, foi condenado a oito anos e meio de prisão no final do ano passado sob a acusação de desacreditar os militares russos.
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