EUA apelam aos ex-grupos rebeldes sudaneses a aderirem a plano de saída
O primeiro embaixador dos Estados Unidos da América (EUA) nomeado em 23 anos para o Sudão, John Godfrey exortou hoje os ex-grupos rebeldes a aderirem ao acordo que visa tirar o país da estagnação após o golpe de 2021.
© Reuters
Mundo Sudão
Em 05 de dezembro, mais de um ano após o golpe liderado pelo general Abddel Fattah al-Burhan em 25 de outubro de 2021, civis e militares assinaram um acordo-quadro, saudado pelas Nações Unidas, União Africana e vários países, mas que continua muito vago e generalista estabelecendo apenas alguns prazos.
O diplomata norte-americano disse à agência France-Presse ser "importante notar que o processo permanece aberto".
"O que entendemos é que continuam os esforços para tentar criar as condições para que todos possam aderir ao processo", acrescentou o embaixador, que chegou a Cartum em setembro.
Os Estados Unidos, juntamente com o Reino Unido e a Noruega, integram a 'troika' criada durante o regime do ex-presidente e ditador Omar al-Bashir, derrubado em 2019 pelos militares na sequência das muito participadas manifestações populares, tendo as forças armadas, lideradas pelo general Al-Burhan, chamado a si a condução dos destinos do país, afastando o governo de transição, formado por civis.
O objetivo final do acordo de 05 de dezembro é restaurar um governo civil, como foi estabelecido após a revolta que levou o exército a destituir Al-Bashir.
As forças civis demitidas no golpe concordaram em assinar o acordo, assim como o general Al-Burhan e o seu vice, o líder das temidas Forças de Apoio Rápido paramilitares (RSF, na sigla em inglês), general Mohamed Hamdan Daglo.
Todavia, ex-grupos rebeldes que assinaram a paz com o poder civil em 2020 recusaram, considerando que o acordo de 05 de dezembro os exclui.
Civis e militares iniciaram as negociações em 08 de janeiro e o debate centra-se em questões complicadas: justiça, num país onde os manifestantes exigem o julgamento de quem matou quase 400 deles desde 2019, e reforma das forças de segurança para integrar, ou não, ex-militares rebeldes e paramilitares.
Por enquanto, os negociadores só mencionaram um ponto, o de saber como acabar com as redes do antigo regime islâmico-militar que ainda mantêm células ativas.
As negociações deverão prolongar-se durante semanas.
Para John Godfrey, esses primeiros passos significam "muito claramente" que os participantes buscam restaurar a transição democrática, brutalmente interrompida pelo golpe.
Os generais Al-Burhan e Daglo afirmam regularmente querer entregar o poder aos civis, mas sem nunca avançarem datas ou detalhes como isso será feito.
No entanto, este passo é a condição imprescindível para a retoma da ajuda internacional de dois mil milhões de dólares (1,8 mil milhões de euros) anuais, que foi interrompida no dia do golpe de Estado.
Os EUA suspenderam a ajuda de 700 milhões de dólares (650 milhões de euros), mas, garante Godfrey, continuam a fornecer doações "humanitárias" e "assistência ao desenvolvimento".
"Deixamos claro que até que um novo governo liderado por civis seja formado no Sudão, não podemos reiniciar outros orçamentos de ajuda", frisou.
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