Sean 'Diddy' Combs está a atravessar o julgamento que, tendo já mudado a trajetória da sua carreira de forma definitiva, irá definir o resto da sua vida.
Esta segunda-feira, dia 12, iniciou-se o julgamento do rapper, depois de ser acusado de centenas de crimes de extorsão, tráfico sexual e transporte de pessoas para prostituição.
A questão principal que se colocou no primeiro dia de julgamento, conforme destaca a CNN Internacional, foi a existência ou não de consentimento por parte das vítimas, debatendo-se a possibilidade de coação.
Diddy afirmou estar inocente de todas as acusações, mas houve mais momentos do julgamento dignos de registo. Ei-los:
Duas vítimas em destaque
O julgamento deverá focar-se, maioritariamente, nos testemunhos de duas vítimas: Cassie Ventura, a ex-mulher do artista, e uma mulher que se identifica como 'Jane'.
O rapper terá forçado as duas a participar nas suas famosas festas, as 'Freak Offs', que duravam dias e aconteciam em vários lugares dos Estados Unidos. Era a equipa de Combs que organizava as viagens e pagava as despesas destes 'eventos'.
Ventura conheceu o artista em 2006 quando era modelo e tinha 19 anos. Os dois começaram a namorar depois do rapper a contratar para a sua editora. O relacionamento, bastante problemático, manteve-se até 2018.
As acusações indicam que Sean terá agredido fisicamente Ventura em diversas ocasiões. Foram reladas duas instâncias particulares. A primeira em 2009, quando este a "espezinhou na cara repetidamente" dentro do carro. Num outro momento tê-la-á espancado com pontapés nas costas depois de a ter visto com um homem.
As cenas de pancadaria aconteciam pelos motivos mais pequenos, indicou-se ainda - ou porque Ventura atendia o telefone ou porque demorava muito a tomar banho, por exemplo.
"Se a Cassie não fizesse o que o réu queria, as consequências eram severas", indicou a defesa da vítima.
Já em relação a Jane, esta começou a namorar com Diddy em 2020. Na altura, o artista prometeu que se esta participasse nas 'Freak Offs', os dois passariam tempo de qualidade juntos. Mas era mentira. Em vez disso, Jane foi forçada a consumir drogas, chegando a ficar acordada dias seguidos.
No ano passado, durante uma discussão, o artista terá agarrado 'Jane' pelo pescoço quanto esta tentava fugir e, depois de atirá-la para o chão, pontapeou-a.
O júri irá ver vídeos das 'Freak Offs'
A equipa de defesa das vítimas pretende que o júri veja imagens de vídeo das festas, que duravam dias e eram 'regadas' a álcool e drogas.
Combs terá ameaçado várias mulheres a participar nas festas, também conhecidas como 'Wild King Nights' e 'Hotel Nights'. As mesmas eram filmadas, sendo que as gravações eram mais tarde usadas para chantagear as vítimas.
Já a defesa do músico garante que as mulheres participavam nas festas porque queriam e pretende, também, mostram vídeos que, alegadamente, suportam esta afirmação.
Tanto a defesa como a acusações, no entanto, concordam com as acusações de violência doméstica.
A defesa do próprio músico alegou que este tinha um temperamento explosivo e que ficava violento quando consumia álcool e drogas. Contudo, na sua perspetiva, isto não prova as acusações de tráfico sexual e extorsão.
"Ele será responsabilizado pelas coisas que fez, mas lutaremos pela sua liberdade pelas coisas que não fez”, notou a advogada de Diddy Teny Geragos.
Defesa questionou a motivação das vítimas
Como é habitual nos julgamentos de abuso sexual, a defesa de Combs questionou as verdadeiras intenções das alegadas vítimas.
"O Sean Combs é um homem complicado, mas este não é um caso complicado”, disse a advogada. "Este caso é sobre amor, ciúme, infidelidade e dinheiro", notou.
Vídeo de agressão em hotel é fulcral
Uma das provas mais importantes é o vídeo de câmaras de vigilância no qual Combs aparece a bater em Ventura num hotel da Califórnia, em 2016, imagens que foram reveladas há exatamente um ano e que desencadearam todo este processo.
Uma das testemunhas foi o segurança do hotel que alegou que Diddy o tentou subornar pelo seu silêncio, depois de ter visto Ventura com um "olho negro".
A defesa do rapper perguntou ao segurança porque é que este não revelou os mesmos detalhes à época, como o caso do olho negro e a expressão "diabólica" que Diddy apresentava na altura.
Para a defesa das vítimas, o vídeo faz parte de uma "narrativa maior" na qual o músico obrigava as vítimas a fazerem o que ele queria através da violência.
Homem pago para ter sexo alega que viu Diddy a agredir Ventura duas vezes
Uma outra testemunha, de nome Daniel Phillip, disse que recebeu milhares de dólares entre 2012 e 2014 para ter sexo com Ventura, enquanto Diddy assistia e se masturbava.
Este alega que o rapper bateu duas vezes em Ventura nestas ocasiões. Num desses momentos, Phillip afirma que o artista arrastou Ventura "pelos cabelos" quando esta o questionou acerca das suas informações pessoais que estavam num computador.
Num outro momento, que aconteceu num hotel, Phillip diz ter ouvido Ventura a pedir desculpa várias vezes a Combs, enquanto percebia sons de estalos. Quando esta saiu do quarto, atirou-se para o seu colo a "tremer" e em "pânico".
Testemunhos contêm descrições explícitas e gráficas
No primeiro dia de julgamento, o júri ouviu descrições explícitas do que acontecia nas festas, desde sexo a três, passando por prostituição, masturbação, voyeurismo, drogas e grandes quantidades de óleo de bebé.
Nestes momentos, as filhas de Combs levantaram-se e saíram do tribunal, voltando pouco depois.
Também se assistiu ao vídeo no qual o rapper batia em Ventura.
Combs é apoiado pela família
Cerca de duas filas do tribunal estavam ocupadas com familiares e amigos de Combs, que fizeram questão de apoiá-lo. Entre eles estavam seis dos seus filhos, assim como a irmã e a mãe.