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Bangladesh recusa pressionar Myanmar sobre refugiados

O Governo do Bangladesh rejeita pressionar Myanmar para voltar a receber quase um milhão de refugiados da minoria étnica Rohyngia que fugiram de perseguição, defendendo que deve ser a comunidade internacional a fazê-lo.

Bangladesh recusa pressionar Myanmar sobre refugiados
Notícias ao Minuto

16:17 - 31/12/22 por Lusa

Mundo Myanmar

"Myanmar é nosso vizinho. Não existe animosidade entre nós", afirmou o comissário para a Assistência aos Refugiados bengali, Mohammed Mizanur Rahman a jornalistas e outros participantes numa visita a um dos campos de refugiados Rohingya na região de Cox's Bazar, no sudeste do país.

É aí que estão concentradas cerca de um milhão de pessoas que fugiram ao longo de várias décadas de perseguições e massacres levados a cabo por sucessivos governos de Myanmar, mas cuja maioria [cerca de 700 mil] chegou ao Bangladesh em 2017, após uma campanha generalizada de violência contra os Rohyngia por parte dos militares.

O diretor-geral para Myanmar do Ministério dos Negócios Estrangeiros do Bangladesh, Mainul Kabir, afirmou que "não se pode pressionar Myanmar", que no passado voltou a receber refugiados Rohingya graças a negociações.

"Nós deixámos claro nas negociações bilaterais que isto é um problema de Myanmar, que tem que o resolver. É a comunidade internacional que pode pressionar, nomeadamente as Nações Unidas e outros países poderosos, como a Índia ou a China", defendeu.

Para o Bangladesh, é claro que a repressão foi "um completo genocídio" e o Governo de Dhaka afirma que uma das condições necessárias para o regresso dos Rohingya é que haja "justiça e responsabilização" para os autores dos crimes contra a humanidade cometidos.

"É isso que os fará sentir seguros para regressarem voluntariamente", acrescentou.

Mohammed Rahman reforçou que "a solução está nas mãos de Myanmar, não nas do Bangladesh ou de qualquer outro país".

"Já somos um país densamente povoado, temos 160 milhões de pessoas num pequeno território [1,5 vezes a área de Portugal] e a nossa economia ainda é de um país em desenvolvimento. Mesmo assim, apoiámos estas pessoas, a minoria étnica mais perseguida do mundo. Precisamos de apoio financeiro e político. Não temos culpa da situação, também somos vítimas", argumentou.

"Para nós, a única solução é o repatriamento. Myanmar pode alegar que os Rohingya são bengalis, mas isto é absolutamente contrário à História. Estas pessoas vivem ali há 500 anos. Essa ideia é completamente injusta para os Rohingya, que têm todo o direito de estar na sua terra. O Bangladesh não tem a responsabilidade moral de os acolher nem deveria estar nessa posição. Não é opção os Rohingya ficarem no Bangladesh", salientou Mainul Kabir.

Mohammed Rahman admitiu que do outro lado da fronteira há tudo menos estabilidade para um regresso, com os militares de Myanmar a combaterem vários grupos de insurgentes nos estados fronteiriços.

"Quando acolhemos os refugiados em 2017 [quando chegaram ao Bangladesh cerca de 700 mil pessoas], a situação era supostamente temporária. Aliás, tínhamos um projeto piloto que previa o repatriamento num prazo de dois anos, até 2019. Mas até hoje, nem uma pessoa regressou", referiu.

O Bangladesh não permite aos Rohingya que trabalhem ou que frequentem o ensino normal, limitando a sua capacidade de se integrarem nas comunidades locais.

Mohammed Rahman argumentou que na zona de Cox's Bazar vivem 500 mil bengalis, "pessoas que ganham pouco e que já sofrem com isso", pelo que deixar os Rohingya integrarem-se criaria "uma distorção no mercado de trabalho, porque seria injusto para os habitantes locais terem que competir com pessoas dispostas a trabalhar por menos dinheiro".

As autoridades do Bangladesh têm sido reiteradamente acusadas de reprimir violentamente refugiados, seja por alegadas prisões ilegais, espancamentos ou encerramento de escolas a funcionarem dentro dos 33 campos que compõem o aglomerado conhecido por Kutupalong, como num relatório divulgado em agosto passado pela organização Human Rights Watch.

Mohammed Rahman rejeitou as acusações e garantiu que o Bangladesh "está a lidar de forma sensata" com qualquer situação.

"Se alguém se envolver numa situação ilícita, tem de ser responsabilizado. Se fazem algo errado, ninguém está livre das suas responsabilidades, nem as forças da ordem", declarou.

Mainul Kabir indicou que "há Rohingya envolvidos em atividades criminosas, em tráfico de drogas e de pessoas".

"Estão a ser vítimas de atores externos que criam problemas aqui e desestabilizam a zona. Não estamos a criminalizar os Rohingya, eles são vítimas de outros grupos que os usam para traficar comprimidos de 'ya ba' [metanfetaminas] que são fabricados em Myanmar. As vidas dos refugiados valem menos", frisou.

"É triste que estejamos a fazer tanta coisa a que não estávamos obrigados, a apoiar humanitariamente as pessoas. Se continuarmos a ser alvo destas críticas sem fundamento, não sabemos o que poderá acontecer no futuro", avisou o responsável do Ministério dos Negócios Estrangeiros.

+++ A Lusa viajou a convite do Governo do Bangladesh +++

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