Governo acusa autarca de contratar terroristas para câmara de Istambul
O Governo turco enviou ao Ministério Público um relatório de 500 páginas relacionado com uma nova acusação ao presidente da Câmara de Istambul, Ekrem Imamoglu, responsabilizando-o pela contratação de terroristas enquanto esteve à frente do município.
© Shutterstock
Mundo Turquia
O relatório, elaborado e enviado pelo Ministério do Interior turco, foi já rejeitado pela oposição turca, que afirma tratar-se de mais uma invenção para desacreditar Imamoglu, potencial adversário do Presidente turco, Recep Tayyip Erdogan nas presidenciais de junho de 2023 e condenado este mês a dois anos e sete meses de prisão e privado dos seus direitos políticos por "insulto" a membros do colégio eleitoral.
O Ministério Público turco confirmou a receção do documento e adiantou que irá agora analisá-lo para decidir se acusa formalmente Imamoglu ou se arquiva o processo.
Numa entrevista publicada hoje pelo jornal Cumhuriyet, Imamoglu define-se como "o pesadelo de Erdogan" e refere que, tal como o partido do presidente, o islamita AKP, perdeu a presidência da câmara de Istambul nas eleições autárquicas de 2019, também irá perder a Turquia nas próximas presidenciais.
Imamoglu disse que Erdogan "sente medo" porque sabe que "quem ganha Istambul, ganha a Turquia", alertando que todo o tipo de conspirações e artimanhas vão aparecer até à votação presidencial de junho do próximo ano.
O Partido Social-Democrata (CHP), principal partido da oposição e ao qual pertence Imamoglu, denunciou que o Governo central quer demitir o autarca e substituí-lo por um administrador, para aproveitar os grandes recursos económicos da Câmara Municipal nas próximas eleições.
"O que está a acontecer não pode ser explicado num Estado de direito. Não há explicação judicial. O ministro do Interior pode remover um presidente da câmara eleito com os votos de 16 milhões de habitantes de Istambul?", questionou Seyit Torun, vice-presidente do CHP.
O Ministério do Interior acusou a Câmara Municipal de ter empregado no passado 1.668 pessoas ligadas diretamente, ou através de familiares, a vários grupos terroristas, desde a guerrilha marxista curda, a uma seita islâmica e um movimento de extrema-esquerda.
A 17 deste mês, Erdogan rejeitou qualquer responsabilidade na condenação do presidente da câmara de Istambul, que levou a manifestações da oposição turca e a críticas internacionais.
"O que está por trás da tempestade desencadeada sobre um veredicto nos últimos dias?", questionou o chefe de Estado turco, reagindo à condenação de Imamoglu.
"Esse debate não tem nada a ver connosco, nem comigo, nem com a nossa nação", insistiu, sugerindo que as reações à sentença resultam de rivalidades internas na oposição turca.
Um dia depois da condenação, milhares de pessoas manifestaram-se em Istambul para apoiar Imamoglu, considerado um candidato sério para a oposição, após ter conquistado em maio de 2019 a principal cidade da Turquia ao partido de Erdogan.
A condenação suscitou também uma vaga de reprovação internacional com os Estados Unidos a afirmarem estarem "profundamente preocupados e desiludidos" e a Alemanha a falar num "golpe duro para a democracia".
Erdogan anunciou em junho passado a candidatura às próximas presidenciais, mas a aliança da oposição, composta por seis partidos, ainda não designou o seu candidato.
"Não nos importa quem será o candidato da oposição", afirmou o Presidente turco, que pediu à oposição para ter "a coragem" de anunciar o seu candidato.
Leia Também: Proibição de mulheres afegãs em faculdades "não é muçulmana nem humana"
Descarregue a nossa App gratuita.
Oitavo ano consecutivo Escolha do Consumidor para Imprensa Online e eleito o produto do ano 2024.
* Estudo da e Netsonda, nov. e dez. 2023 produtodoano- pt.com