ONU autoriza investigação por repressão a protestos no Irão
O Conselho de Direitos Humanos da ONU lançou hoje uma investigação internacional à violenta repressão aos protestos no Irão, para reunir provas que possam, mais tarde, servir para julgar os responsáveis.
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Mundo Irão
A resolução apresentada pela Alemanha e Islândia foi aprovada com 25 votos a favor, seis contra e 16 abstenções durante uma reunião de emergência do Conselho de Direitos Humanos em Genebra.
Os protestos foram, inicialmente, desencadeados pela morte, a 16 de setembro, de uma jovem curda iraniana de 22 anos, Mahsa Amini, detida três dias antes pela polícia dos costumes iraniana por alegado uso indevido do "hijab", o véu islâmico.
Nos dias seguintes, os protestos contra o uso da força no Irão foram dando lugar a manifestações de apoio às mulheres, cada vez maiores e em mais cidades, e foram-se estendendo às denúncias de atuação da Guarda Revolucionária iraniana, unidade de elite do regime do 'ayatollah' Ali Khamenei.
Desde o início dos protestos, pelo menos 426 pessoas foram mortas e mais de 17.400 foram detidas, de acordo com a organização não-governamental (ONG) Human Rights Activists in Iran (Ativistas dos Direitos Humanos no Irão), grupo que monitoriza o movimento de contestação em curso, segundo o qual pelo menos 55 membros das forças de segurança iranianas foram também mortos.
O Conselho de Direitos Humanos da ONU de 47 Estados-membros foi convocado para analisar uma proposta, apresentada pela Alemanha e Islândia e apoiada por dezenas de outros países, tendo aprovado a criação de uma equipa de investigadores independentes para monitorizar os direitos humanos no Irão numa altura em que se agrava a repressão contra os protestos.
A sessão que decorre em Genebra é o mais recente esforço internacional no sentido de pressionar o Irão, que já levou a sanções internacionais, entre outras medidas.
Na abertura da sessão, o Alto-comissário da ONU para os Direitos Humanos pediu ao Irão que acabe com o "uso desnecessário e desproporcional da força" contra manifestantes.
"A situação é insustentável. Os métodos antigos e o uso de força enraizados naqueles que detêm o poder [no Irão] já não funcionam. Na verdade, só pioram a situação", disse Volker Türk, lembrando as mais de 17.000 pessoas detidas por protestarem contra as regras impostas pelo regime.
"É importante que haja uma moratória sobre a pena de morte e que o governo ouça o povo e ouça o que tem a dizer, e se envolva num processo de reforma porque a mudança é inevitável", acrescentou.
A justiça iraniana já pronunciou seis sentenças de morte relacionadas com as manifestações e anunciou que, em dois meses, deteve "40 estrangeiros" acusados de estarem envolvidos nos "motins" no Irão.
"'Mulher, Vida, Liberdade' é a palavra de ordem tão simples e tão forte que iranianas e iranianos relembram, há mais de dois meses, os valores que defendem", declarou, durante os debates em Genebra, a representante francesa, Emmanuelle Lachaussée.
"O povo iraniano está a clamar por algo tão simples, algo que a maioria de nós considera natural: a capacidade de falar e de ser ouvido", acrescentou a embaixadora dos Estados Unidos, Michèle Taylor, à frente de uma delegação cujos membros mostraram fotografias e nomes de vítimas.
A missão internacional independente de investigação tem, porém, poucas possibilidades de se deslocar ao Irão, uma vez que Teerão vê a maioria das manifestações como "motins" e acusa forças estrangeiras de estarem por trás do movimento de contestação para tentar desestabilizar o país, tendo já expressado forte oposição a qualquer investigação.
Uma das representantes iranianas enviadas hoje por Teerão ao Conselho, Khadijeh Karimi, acusou os países ocidentais de "falta de credibilidade moral" para darem lições de ética ao Irão e denunciou as sanções norte-americanas e europeias.
"Os direitos do povo iraniano têm sido amplamente violados pelos chamados campeões dos direitos humanos devido à imposição de sanções unilaterais pelo regime norte-americano e à implementação destas sanções cruéis por países europeus, especialmente pela Alemanha, Reino Unido e França", disse Karimi.
Sem surpresa, China, Rússia, Venezuela e Cuba apoiaram o Irão durante os debates, tendo o embaixador chinês, Chen Xu, defendido "o diálogo e a cooperação (...) para promover e proteger os direitos humanos".
[Notícia atualizada às 17h34]
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