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Guerra na Ucrânia atormenta 'magúevas' que vendem pão nas ruas de Maputo

A vendedora de rua Inês Sitoe tem de passar o dobro do tempo nos passeios de Maputo para conseguir vender todo o pão que carrega à cabeça, depois das duas subidas de preço este ano.

Guerra na Ucrânia atormenta 'magúevas' que vendem pão nas ruas de Maputo
Notícias ao Minuto

08:07 - 06/06/22 por Lusa

Mundo Maputo

Diz que os clientes fugiram para comprar mandioca, "que sai mais em conta" na hora do 'matabicho', nome dado pequeno-almoço.

"Não há movimento desde que o preço subiu", disse à Lusa a 'magúeva', palavra na língua changana que designa a mulher que compra por grosso nas padarias e vende pão nas ruas, algo que Inês faz há 15 anos, desde a altura em que cada um custava cinco meticais (0,07 euros).

No início do ano, antes dos dois ajustes, Inês vendia até às 09:00 (08:00 em Lisboa) todos os 350 pães - uma espécie de pequena baguete - que leva em caixas de plástico, mas agora passeia-os até meio da tarde.

"Os clientes não compram o pão do dia seguinte", por isso, tem de ficar na rua até as 16:00 (15:00 em Lisboa) para esgotar o produto: "Enquanto o pão não acabar, não saio da rua".

Inês já comprou cada pão por grosso a oito meticais (0,12 euros), mas este ano chegou a 10 meticais (0,14 euros), obrigando Inês a revender por 12 meticais (0,17 euros) ao invés dos 10 meticais finais que fazia antes a cada cliente.

Mantém assim a sua margem: dois meticais (0,03 euros) por pão, contas difíceis no orçamento mensal de quem vive num dos países mais pobres do mundo e em que cada tostão ganha uma enorme relevância.

"Tenho tido muitas quebras, não há como gerir as contas de casa deste jeito", lamenta, referindo que dos 350 pães que levava diariamente, reduziu a quantidade para 200.

Ainda assim, leva "muito tempo" até esgotar.

A redução do número de clientes é um problema que também se vive nas padarias, que justificam a subida do pão com o aumento de preço do trigo, cuja importação ficou mais difícil e cara devido à guerra na Ucrânia.

Aliás, segundo Celeste Mabjaia, dona de casa e gestora da padaria Costa Tembe há 28 anos, em Maputo, está previsto um aumento de 200 meticais (três euros) no preço do saco de trigo, ou seja, vai passar dos atuais 2.260 meticais (33 euros) para 2.460 meticais (36 euros).

"Estamos numa altura complicada", lamenta Celeste, acrescentando que nalgumas das cinco padarias Costa Tembe distribuídas por Maputo, teve de se reduzir para metade a quantidade de sacos de trigo usados por dia porque a "clientela está a diminuir".

"As 'magúevas' reduziram também a quantidade de pão que levam" e mesmo ao balcão "as pessoas que levavam cinco a seis pães, agora compram três ou quatro e isso cria quebras no negócio", explica.

Para tentar compensar os clientes, Arnaldo Lucas, gerente de uma padaria na periferia de Maputo, usou outra estratégia: aumentar o peso do pão, de 145 para 160 gramas.

"Se não aumentamos o peso, os clientes diminuem", refere Arnaldo, que trabalha desde 2010 na padaria FLN.

Arnaldo Lucas prevê um terceiro aumento do pão face a provável subida do trigo, anunciada para dia 15.

"Não é nada certo, está ainda em debate", acautela.

"Acredito que os clientes não vão receber bem uma nova subida, porque há falta de dinheiro", diz à Lusa Deolinda Armindo, balconista da padaria Pão da Terra, interrompendo a conversa a dado momento para atender os clientes.

Fina Boavida, cliente da padaria, diz entender a razão dos preços praticados: afinal "tudo subiu de preço em Moçambique, desde o trigo até ao combustível".

"Mesmo se chegar aos 15 meticais (0,21 cêntimos de euro) vamos comprar pão", não há como deixar de o comer, refere Fina, enquanto reclama do excesso de moedas que recebeu de troco.

Muita moeda no bolso, mas menor poder de compra: trata-se de uma subida do custo de vida "em cadeia", diz.

Além de mandioca e batata-doce, as famílias moçambicanas também costumavam substituir o pão por arroz refogado, mas "o preço do óleo também tem estado a subir", o que torna a situação "sufocante".

Hoje, pensar nos preços, "é um martírio que toda a dona de casa sente", lamenta Celeste Mabjaia.

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