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Guterres pede ação do Conselho Segurança perante fome de 140 milhões

O secretário-geral da ONU, António Guterres, apelou hoje à ação do Conselho de Segurança na questão da segurança alimentar, alertando que a fome aguda afetava no ano passado cerca de 140 milhões de pessoas em apenas 10 países.

Guterres pede ação do Conselho Segurança perante fome de 140 milhões
Notícias ao Minuto

17:52 - 19/05/22 por Lusa

Mundo ONU

Num debate aberto sobre conflitos e segurança alimentar no Conselho de Segurança das Nações Unidas, convocado pelos Estados Unidos, António Guterres indicou que cerca de 67% das pessoas subnutridas do mundo vivem em áreas afetadas por conflitos e que "nenhum país está imune".

"No ano passado, a maioria das 140 milhões de pessoas que sofrem de fome aguda em todo o mundo viviam em apenas 10 países: Afeganistão, República Democrática do Congo, Etiópia, Haiti, Nigéria, Paquistão, Sudão do Sul, Sudão, Síria e Iémen. Oito desses países estão na agenda deste Conselho. Que não haja dúvidas: quando este Conselho debate o conflito, debate a fome", disse Guterres.

O secretário-geral disse ainda que quando o Conselho de Segurança não consegue chegar a um consenso, as pessoas famintas pagam um preço alto.

Um dos países destacados por António Guterres foi o Níger, que além de ocupar os últimos lugares no Índice de Desenvolvimento Humano, está também entre os dez países mais vulneráveis à crise climática e onde o número de pessoas em insegurança alimentar aguda mais que duplicou nos últimos dois anos.

Guterres classificou ainda o Níger como "um barril de pólvora, com consequências gravíssimas para a região e para o mundo", destacando que quase 70% dos jovens nigerinos não têm escolaridade, ou formação.

O ex-primeiro-ministro português apelou assim a uma urgente mobilização internacional, coordenada e em grande escala, que fortaleça os vínculos entre paz, ação humanitária, adaptação aos impactos das mudanças climáticas e desenvolvimento sustentável.

Também a situação da segurança alimentar no Corno de África, região que está a sofrer "a maior seca em quatro décadas", foi alvo das preocupações de António Guterres, que indicou que mais de 18 milhões de pessoas são afetadas pela situação.

"Em todo o mundo, 44 milhões de pessoas em 38 países estão em níveis de emergência de fome, conhecidos como IPC 4 -- a um passo da fome. (...) como sempre, mulheres e meninas são as mais afetadas, e isso reflete-se no aumento das taxas de tráfico, casamento forçado e outros abusos", alertou.

Além disso, mais de meio milhão de pessoas na Etiópia, Sudão do Sul, Iémen e Madagáscar já estão no "IPC nível 5: condições catastróficas ou de fome".

A guerra da Rússia na Ucrânia não ficou ausente do posicionamento do secretário-geral da ONU, que advogou estar a adicionar uma nova dimensão assustadora a esse quadro de fome global, uma vez que levou ao encerramento das exportações de alimentos da Ucrânia, "país que estava a alimentar o mundo com abundantes suprimentos de comida".

"Aumentos de preços de até 30% para alimentos básicos ameaçam as pessoas em países da África e Médio Oriente, incluindo Camarões, Líbia, Somália, Sudão e Iémen. Discuti esta situação profundamente preocupante com os líderes do Senegal, Níger e Nigéria durante a minha visita. Eles confirmaram que estamos à beira de uma tempestade perfeita que ameaça devastar as pessoas e economias", relatou.

Para "quebrar a dinâmica mortal do conflito e fome", Guterres sugeriu quatro ações para os países adotarem, como investimento em soluções políticas para acabar com os conflitos, prevenir novas guerra e construir a paz.

"Mais importante de tudo, precisamos acabar com a guerra na Ucrânia. Apelo a todos os membros deste Conselho que façam tudo ao seu alcance para silenciar as armas e promover a paz, na Ucrânia e em todos os lugares", pediu.

Em segundo lugar, o português exortou o Conselho de Segurança a procurar responsabilizar os responsáveis por violações do Direito Internacional Humanitário: "Exorto-vos a tomar medidas máximas para cumprir o vosso papel".

Em terceiro, o secretário-geral disse que há comida suficiente para todos no mundo, mas o problema está na questão da distribuição, que acaba por estar profundamente ligada à guerra na Ucrânia.

Nesse sentido, Guterres voltou a repetir algo que já vem pedindo deste o início da guerra: que as restrições à exportação de alimentos sejam levantadas; que as reservas estratégicas sejam libertadas; e que os excedentes sejam direcionados aos países necessitados.

"Estamos a trabalhar para encontrar um pacote que permita à Ucrânia exportar alimentos, não apenas por comboio, mas através do Mar Negro, e que faça chegar a produção russa de alimentos e fertilizantes aos mercados mundiais sem restrições", revelou, apelando ainda à boa vontade de todos os países envolvidos.

Por último, Guterres pediu o financiamento integral dos apelos humanitários por parte de doadores.

"Estamos quase na metade de 2022 e os nossos Planos Globais de Resposta Humanitária estão apenas financiados em 8%", disse.

"Exorto os países a demonstrarem para com todos os países a mesma generosidade que demonstraram para com a Ucrânia", lançou Guterres perante o Conselho de Segurança, hoje presidido pelo secretário de Estado norte-americano, Antony Blinken.

Leia Também: ONU apela a financiamento contra a fome no Sahel e corno de África

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