A consideração foi usada pela defesa do antigo ministro da Administração Interna de Itália, que está a ser julgado por sequestro e incumprimento dos seus deveres por ter impedido, em agosto de 2019, o desembarque de 100 migrantes do navio humanitário espanhol 'Open Arms', no âmbito da sua política de portos fechados à imigração.

A acusação pode valer-lhe uma pena de 15 anos de prisão.

A audiência hoje realizada no Tribunal de Palermo contou com os testemunhos do diretor de Saúde do porto de Agrigento (sul), Vincenzo Asaro, e da responsável pela área de Saúde Mental, Cristina Camila.

Respondendo às declarações de ambos, Salvini considerou que "nenhum imigrante do navio 'Open Arms' foi admitido" após o desembarque na Sicília porque o estado de saúde de todos era "discreto" e "não permitia excluir a eventualidade de uma viagem para Espanha", país de origem no navio humanitário.

Na altura em questão, houve necessidade de socorrer vários migrantes por problemas de saúde e isso deu início a uma disputa entre as autoridades judiciárias e Salvini, que continuou a opor-se ao desembarque.

Perante a recusa, o Governo espanhol ordenou que o porto de Algeciras e depois o de Palma fossem habilitados como destino do 'Open Arms', mas a organização humanitária rejeitou a oferta, considerando inviável fazer mais cinco dias de travessia marítima e insistiu em atracar em Lampedusa, colocando-se na costa enquanto esperava autorização.

Salvini, que perdeu a pasta da Administração Interna um mês depois destes acontecimentos, referiu hoje que tanto os governos de Madrid como de Roma ofereceram navios alternativos para transferir os migrantes para um porto espanhol.

O capitão da 65.ª missão do 'Open Arms', Marc Reig, também irá depor na audiência de hoje.

A estratégia do líder do Liga Norte passa também por atribuir a sua intransigente política migratória - de portos fechados a organizações humanitárias - a todo o Governo, então nas mãos de uma coligação entre o seu partido e o Movimento 5 Estrelas, com Giuseppe Conte como primeiro-ministro, e que a responsabilidade de acolher os migrantes era de Espanha, já que o navio tinha essa nacionalidade.

O 'Open Arms' atracou finalmente na ilha de Lampedusa em 21 de agosto de 2019, encerrando uma batalha de 19 dias com Salvini.

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