Uma missão dos chefes do Estado Maior militar de diferentes países deste bloco regional chegou ao Burkina Faso no sábado, e teve uma reunião breve com o líder militar dos golpistas, o tenente coronel Paul Hneri Sandaogo Damiba.
De acordo com um comunicado citado pela agência espanhola de notícias, a Efe, e assinado pela Direção de Comunicação da Presidência, a missão da CEDEAO conversou com o Movimento Patriótica pela Salvaguarda e Restauração (MPSR), o nome usado pela junta militar, que reafirmou "o compromisso com os organismos sub-regionais e internacionais".
"O MPSR explicou aos emissários da organização comunitária que as recentes mudanças políticas respondem às expectativas da população em matéria de segurança, reconstrução da nação e valores da República", lê-se no comunicado.
A missão ficará até hoje e antecede as visitas do enviado espacial da ONU para o oeste de África e o Sahel, Mahamat Saleh Annadif, e de uma delegação ministerial da CEDEAO, que será liderada pela ministra dos Assuntos Exteriores do Gana e presidente do Conselho de Ministros da CEDEAO, Shirley Ayorkor Botchway.
Na próxima quinta-feira haverá uma nova cimeira da CEDEAO em Acra, a capital do Gana, país que ocupa a presidência rotativa, que decidirá se serão adotadas mais medidas, dado que na última reunião, na semana passada, não foram impostas sanções além da suspensão temporária do Burkina Faso da organização.
Na altura da decisão da suspensão, na sexta-feira, a CEDEAO exigiu a libertação do presidente destituído, Roch Marc Christian Kaboré, que se encontra em prisão domiciliária, bem como de outros altos funcionários presos, disse à AFP um participante na reunião, sob condição de anonimato.
A próxima cimeira estudará os relatórios destas missões e decidirá se devem ser impostas mais sanções, à semelhança do que aconteceu com o Mali e a Guiné-Conacri, países igualmente suspensos pela CEDEAO após os militares terem tomado o poder.
Na quinta-feira à noite, no seu primeiro discurso desde que assumiu o poder na segunda-feira, o novo homem forte do Burkina, tenente-coronel Paul-Henri Sandaogo Damiba, afirmou na televisão nacional que o seu país "precisa dos parceiros mais do que nunca".
Damiba disse compreender as "dúvidas legítimas" suscitadas pelo golpe, e assegurou que o Burkina Faso "continuará a respeitar os seus compromissos internacionais, particularmente no que diz respeito ao respeito pelos direitos humanos".
O líder militar disse ainda que a independência do poder judicial será "assegurada".
Damiba comprometeu-se igualmente com o "regresso [do país] à vida constitucional normal", "quando as condições estiverem reunidas", mas não deu a conhecer qualquer agenda nesse sentido.
A insurreição militar começou no domingo em vários quartéis no país, incluindo na capital, Ouagadougou, a seguir a uma manifestação que fez sair à rua milhares de manifestantes contra a insegurança criada pela violência de vários grupos extremistas islâmicos e pela incapacidade das forças armadas do Burkina Faso responderem a um problema que se agrava desde 2015, precisamente o ano da chegada de Kaboré ao poder.
O MPSR começou por anunciar a dissolução ou suspensão das instituições da República, bem como o encerramento das fronteiras aéreas do Burkina Faso, mas estas foram reabertas logo na terça-feira, tal como as fronteiras terrestres para certos produtos, o que parece indicar que a junta militar no poder não tem medo de um "contra-ataque" e está a controlar os vários corpos do exército.
Paul-Henri Sandaogo Damiba concluiu o discurso ao país esta quinta-feira com um lema bem conhecido da população burquinabê, atribuído ao presidente que deu ao país o seu atual nome, Thomas Sankara: "Pátria ou morte, nós venceremos".
Logo no ano seguinte à sua chegada ao poder, Sankara mudou o nome do país, numa tentativa de enterrar com as insígnias da República do Alto Volta a herança do poder colonial francês. O país de Sankara passou a chamar-se República Democrática e Popular do Burkina Faso, que significa "país do povo honesto".
Sankara, um líder progressista e ícone pan-africano, foi morto em 1987 por um golpe de Estado instigado por "irmãos de armas", que estiveram ao seu lado na independência do Burkina Faso, incluindo Blaise Compaoré, o seu sucessor, hoje com 70 anos, a viver na Costa do Marfim, onde está exilado desde que foi derrubado, em 2014.
O julgamento dos assassinos de Sankara, que começou em outubro de 2021, foi suspenso pelo golpe de Estado, mas será retomado na segunda-feira.
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