"A delegação chegou a Ouagadougou esta manhã, já realizou uma sessão de trabalho à porta fechada e não está prevista nenhuma declaração", noticia a agência francesa de notícias, a France-Presse (AFP), citando uma fonte de segurança.
De acordo com esta fonte, a delegação da CEDEAO é composta por representantes do Benim, do Togo e do Gana e é chefiada pelo Comissário para a Paz e Segurança da CEDEAO, o diplomata beninês Francis Behanzin.
A visita desta delegação serve para "avaliar a situação antes da chegada da outra missão, na próxima semana", acrescentou a fonte citada pela AFP, referindo-se à delegação ministerial da CEDEAO que deverá chegar à capital do Burkina Faso na segunda-feira.
Na altura da decisão da suspensão, na sexta-feira, a CEDEAO exigiu a libertação do presidente destituído, Roch Marc Christian Kaboré, que se encontra em prisão domiciliária, bem como de outros altos funcionários presos, disse à AFP um participante na reunião, sob condição de anonimato.
A próxima cimeira estudará os relatórios destas missões e decidirá se devem ser impostas mais sanções, à semelhança do que aconteceu com o Mali e a Guiné-Conacri, países igualmente suspensos pela CEDEAO após os militares terem tomado o poder.
Na quinta-feira à noite, no seu primeiro discurso desde que assumiu o poder na segunda-feira, o novo homem forte do Burkina, tenente-coronel Paul-Henri Sandaogo Damiba, afirmou na televisão nacional que o seu país "precisa dos parceiros mais do que nunca".
Damiba disse compreender as "dúvidas legítimas" suscitadas pelo golpe, e assegurou que o Burkina Faso "continuará a respeitar os seus compromissos internacionais, particularmente no que diz respeito ao respeito pelos direitos humanos".
O líder militar disse ainda que a independência do poder judicial será "assegurada".
Damiba comprometeu-se igualmente com o "regresso [do país] à vida constitucional normal", "quando as condições estiverem reunidas", mas não deu a conhecer qualquer agenda nesse sentido.
A insurreição militar começou no domingo em vários quartéis no país, incluindo na capital burquinabê, Ouagadougou, a seguir a uma manifestação que fez sair à rua milhares de protestantes contra a insegurança criada pela violência de vários grupos extremistas islâmicos e pela incapacidade das forças armadas do Burkina Faso responderem a um problema que se agrava desde 2015, precisamente o ano da chegada de Kaboré ao poder.
O MPSR começou por anunciar a dissolução ou suspensão das instituições da República, bem como o encerramento das fronteiras aéreas do Burkina Faso, mas estas foram reabertas logo na terça-feira, tal como as fronteiras terrestres para certos produtos, o que parece indicar que a junta militar no poder não tem medo de um "contra-ataque" e está a controlar os vários corpos do exército.
Paul-Henri Sandaogo Damiba concluiu o discurso ao país esta quinta-feira com um lema bem conhecido da população burquinabê, atribuído ao presidente que deu ao país o seu atual nome, Thomas Sankara: "Pátria ou morte, nós venceremos".
Logo no ano seguinte à sua chegada ao poder, Sankara mudou o nome do país, numa tentativa de enterrar com as insígnias da República do Alto Volta a herança do poder colonial francês. O país de Sankara passou a chamar-se República Democrática e Popular do Burkina Faso, que significa "país do povo honesto".
Sankara, um líder progressista e ícone pan-africano, foi morto em 1987 por um golpe de Estado instigado por "irmãos de armas", que estiveram ao seu lado na independência do Burkina Faso, incluindo Blaise Compaoré, o seu sucessor, hoje com 70 anos, a viver na Costa do Marfim, onde está exilado desde que foi derrubado, em 2014.
O julgamento dos assassinos de Sankara, que começou em outubro de 2021, foi suspenso pelo golpe de Estado, mas será retomado na próxima segunda-feira.
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