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Confiança dos norte-americanos na ciência está extremada entre partidos

A crença dos republicanos na ciência está a diminuir, enquanto a dos democratas americanos tem aumentado, revelou na quarta-feira uma sondagem, que aponta a pandemia como causa para a quebra de confiança na ciência e medicina nos Estados Unidos.

Confiança dos norte-americanos na ciência está extremada entre partidos
Notícias ao Minuto

06:43 - 27/01/22 por Lusa

Mundo EUA

Os inquéritos conduzidos pela NORC -- Centro de Investigação sobre Assuntos Públicos na Universidade de Chicago, que medem a confiança nas instituições desde 1972 e que são amplamente respeitados, mostram a maior lacuna [entre republicanos e democratas] em quase cinco décadas de trabalho.

A agência Associated Press (AP) recolheu o testemunho de uma dúzia de cientistas, que não se manifestaram surpreendidos com os resultados, mas alertaram que estes são preocupantes.

"Estamos a viver uma época em que as pessoas preferem colocar urina ou produtos químicos de limpeza no seu corpo, do que vacinas cientificamente aprovadas", referiu Marshall Shepherd, professor de meteorologia da Universidade da Geórgia.

Para o especialista, esta é "uma clara convergência de medo, falta de pensamento crítico e tribalismo político".

A ciência costumava ser algo que todos os norte-americanos apoiavam, lembrou o historiador da Universidade Rice, Douglas Brinkley.

"Mas agora vemos que está a ser vítima da grande divisão partidária. O mundo da ciência deve ser uma casa de reuniões onde direita e esquerda podem concordar com os dados. Em vez disso, está a tornar-se um fio de navalha afiada de conflito", alertou.

Em geral, 48% dos norte-americanos dizem ter "muita" confiança na comunidade científica, segundo os dados do inquérito de 2021.

Esta resposta foi dada por 64% dos democratas, em comparação com cerca de metade dos republicanos (34%).

Esta diferença era muito menor em 2018, quando 51% dos democratas e 42% dos republicanos tinham uma confiança elevada.

O inquérito também descobriu uma lacuna emergente na confiança na medicina, impulsionada principalmente pelo aumento da segurança entre os democratas (45%), em comparação com os republicanos (34%).

Os dados sugerem que republicanos e democratas estão a seguir as sugestões dos seus líderes, atirou Anthony Leiserowitz, diretor do Programa de Comunicação sobre Alterações Climáticas de Yale.

Já Kelvin Droegemeier, que foi assessor científico do ex-presidente republicano Donald Trump, defendeu que a pandemia aumentou a perceção do público em geral sobre como a investigação científica funciona, mas a ciência em constante evolução pareceu por vezes caótica e a urgência da pandemia complicou a formulação de políticas.

Essa confusão, aliada à fraca comunicação e filosofias políticas contribuem para lacunas na confiança, sustentou Marcia McNutt, presidente da Academia Nacional de Ciências, criada pelo presidente Abraham Lincoln para prestar conselhos ao governo.

Cientistas e 'fazedores' de políticas [policy makers, em inglês] tendem a ser conservadores, não politicamente, mas em termos de serem cautelosos com o risco, acrescentou.

John Holdren, que foi conselheiro científico do ex-presidente democrata Barack Obama, apontou como culpados os líderes do Partido Republicano pela "negação e deceção ininterruptas".

As consequências do declínio da confiança na comunidade científica entre os republicanos são claras e a sondagem da AP-NORC mostra que os republicanos continuam a ser menos propensos que os democratas a serem vacinados.

Para o diretor executivo da Associação Americana para o Avanço da Ciência, Sudip Parikh, é irónico que grande parte da desconfiança na ciência seja espalhada pela tecnologia, como através das redes sociais e smartphones, que só existe por causa dos avanços científicos.

Também o famoso astrofísico Neil deGrasse Tyson concordou: "A luta continua, de tentar fazer com que o público em geral adote toda a ciência da maneira que eles involuntariamente abraçam a ciência nos seus telemóveis".

Este inquérito foi realizado entre 01 de dezembro de 2020 e 03 de maio de 2021 e incluiu inquéritos a 4.032 norte-americanos adultos.

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